Circundado por uma série de versões do synth pop e new wave da década de 80, percorrendo as atmosferas insidiosas de David Lynch e explorando um amplo quadro de possibilidades estéticas, “Permanent Radiant”, o novo EP dos ††† (Crosses), deixa a promessa de que o melhor ainda está por vir.
Foi em Março de 2022. Depois de em 2020 terem estreado “The Beggining Of The End”, da banda de electropop dos anos 90 Cause & Effect, e de em 2021 terem libertado a sua versão de “Goodbye Horses”, de Q Lazzarus, os ††† (Crosses), banda que conta com o vocalista dos Deftones, Chino Moreno, para além de Shaun Lopez dos Far e do baixista Chuck Doom, anunciaram um acordo com a multinacional Warner e no âmbito dessa parceria, estrearam um single dual, intitulado “Initiation/Protection”. Era o primeiro material inédito que o projecto edita desde 2014.
Soube-se nessa altura que Chuck Doom se afastara irrevogavelmente dos seus dois colegas e deixara a banda. Impedido pela pandemia de promover o mais recente álbum dos Deftones, “Ohms” (2020), Chino Moreno concentrou-se com Shaun Lopez para quebrar o longo hiato discográfico dos Crosses. Esse trabalho deu frutos evidentes, além do duplo single “Initiation/Protection” e das covers – aliás, já depois da edição de “Permanent Radiant”, a banda estreou uma versão de “One More Try”, original da lenda pop George Michael.
No momento em que o EP foi editado, a 9 de Dezembro de 2022, Moreno estimava que o grupo tinha um total de 20 malhas em diferentes estágios evolutivos e que as escolhidas para este “curto” lançamento tratavam-se das apostas mais seguras, pelas pontes estéticas com o material mais antigo do projecto: «Queríamos lançar algo que solidificasse o retorno do grupo sem nos afastar muito daquilo que se criou no início».
A partir daqui, a estratégia foi libertar novos singles até se chegar à compleição do EP. Casos de “Vivien”, cuja letra encontra correspondências (assumidas pelos músicos) com esse blockbuster de 1998 que é “…Baby One More Time” de Britney Spears”. Depois chegou “Sensation”, que abre o disco, e enfim “Holier”. Cada um dos singles e correspondentes vídeos promocionais possuem uma protagonista feminina anónima (interpretada pela actriz Thais Molon) numa atmosfera meio “Twin Peaks”.
O feminino, as bases pop sintetizadas (que também são cada vez mais salientes na sonoridade dos Deftones) e a densidade atmosférica são elementos chave na absorção deste “Permanent Radiant” e do seu inegável carácter introspectivo. O EP talvez tenha mais estilo que substância, mas tem, de facto, um estilo do caraças. E um tema como “Sensation” tem substância musical de sobra no cruzamento que faz com beats hip-hop e no peso da parede de guitarras que se erige no refrão. O sentido exploratório das composições e instrumentação deixa ainda algumas sombras na cartografia que Moreno e Lopez estão a percorrer.
Todavia, ambos já assumiram que há concertos para dar em 2023 e que estão a trabalhar na tal abundância de ideias que germinaram nos últimos dois anos. Assim espera-se que um novo álbum garanta mais respostas. De resto, muitas vezes, a função dos EPs é apontar alternativas sónicas e este tem solidez quanto baste para deixar a promessa de que o melhor está para vir.
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