Boutique Series, A Preservação dos Tesouros Analógicos da Roland

A gama que recuperou synths über clássicos da Roland. JP-08, JU-06 e JX-03, os primeiros modelos, são inspirados no Jupiter-8, Juno-106 e JX-3P, respectivamente.

Em 2020, a Roland criou a sua Roland Cloud. O novo serviço digital por subscrição disponibiliza actualmente mais de 50 plug-ins, com ofertas que simulam sintetizadores icónicos e aclamados da marca. Também existe emulação de guitarras, pianos e o acesso a aplicações e serviços extra. A produção digital, em computadores, é um método cada vez mais popular na composição de músicas. Existem inúmeras opções, gratuitas ou pagas, e a Roland entrou no mercado com uma colecção em constante evolução direccionada a todos os criativos que produzem em DAW.

A Roland Cloud é uma colecção paga por subscrição (mensalmente) que inclui actualmente mais de 50 plug-ins. Entre os produtos em software, estão recriações autênticas de sintetizadores analógicos e digitais da Roland, como o D-50, JX-3P, Juno-106, System-8, mas também existe a coleção “Tera” que simula guitarras e pianos. Para utilizadores que requerem sons novos, para produções contemporâneas, existe a colecção “Flavr”, que inclui samples de sons para hip-hop, R&B, house ou EDM. Como estamos a falar da Roland, faz todo o sentido referenciar a inclusão dos icónicos TR-808 e TR-909, também ao dispor para qualquer produção musical. A colecção é bastante extensa e de acordo com a marca está em constante actualização, justificando o pagamento mensal ou anual.

O preço, esse está estabelecido em 21€ por mês. Mas se adquirires 12 meses de uma só vez, a Roland Cloud fica a 210€. Também podes optar pela opção de 24 meses, por 370€, ou pela opção de 60 meses, por 845€. Mais informações em rolandcloud.com.

É outro mundo, o digital. Mas a marca, se por um lado assume a sua filosofia vanguardista, também tem revelado uma extrema atenção ao seu legado analógico. Foi por isso que, em 2015/16 a Roland apresentou a gama Boutique, com a introdução de modelos inspirados em três dos seus mais emblemáticos sintetizadores. O JP-08, JU-06 e JX-03, são inspirados no Jupiter-8, Juno-106 e JX-3P, respectivamente. Para conseguir uma fidelidade de emulação desse som clássico, os novos modelos usam a tecnologia Analog Circuit Behaviour (ACB), a mesma engenharia que surge na gama Aira da marca. Claro que, no final, estes novos modelos são digitais, ao contrários dos analógicos originais.

O nome “Boutique” está mais relacionado com o facto de estas serem edições limitadas. Afinal, a possibilidade de alimentação a pilhas ou a integração de altifalante no design tornam-nos mais mainstream que exóticos. Claro que essa é também uma das características salientes destes modelos: sintetizadores bem portáteis e para massas, de uso bastante intuitivo, mas a tresandar a uma pinta de produto de elite. Uma opção interessante é a opcionalidade pelo mini teclado K-25m. É certo que, no caso de não possuírem um teclado terão esse custo extra pela frente, mas a Roland parece ter decidido, e bem, que a grande maioria dos utilizadores já possuirá soluções, nomeadamente controladores MIDI e, de qualquer forma, o mesmo teclado serve para os três synths.

Roland JP-08

O JUPITER-8 é um dos mais carismáticos sintetizadores da Roland. Foi lançado em 1981 e tornou-se logo alvo de aclamação, com 8 vozes e imensos controlos no painel frontal. A maioria dos parâmetros possuía mesmo um controlador específico, o que tornava o synth bastante fácil de usar e explorar sonoramente – já não era necessário ser um académico de ligações modulares e cálculos de ondas áudio. Qualquer um podia fazer música com o Jupiter-8. Um poderoso motor de sintetização permitia muita flexibilidade a um circuito analógico capaz de criar ambientes grandes e etéreos ou sons solo carregados de ataque – especialmente quando os 16 osciladores eram somados em modo uníssono. Para aumentar a lenda, este modelo esteve poucos anos em produção e o seu som, enquanto se tornava cada vez mais desejado, tornou-se uma raridade dispendiosa. Até agora.

roland-jx-03

Em 1983, a Roland apresentou o seu primeiro sintetizador analógico com MIDI. O JX-3P possuía a mesma polifonia de 6 vozes dos seus “irmãos” Juno, tal como outros componentes analógicos emblemáticos da Roland, incluindo o voltage-controlled filter (VCF). O que o tornava distinto era os seus dois osciladores de controlo digital (DCO), por voz, que acrescentavam carácter sonoro à sintetização. Os três P’s (3P) eram siglas para Programmable Preset Polyphonic, o que significava o acesso instantâneo ao sons grandiosos, através dum interface bastante intuitivo. Isso não tornava o JX-3P numa máquina básica, muito pelo contrário. Especialmente quando utilizado com o controlador PG-200, o synth convertia-se numa ferramenta poderosa de programação e exploração, com o acréscimo de um arsenal impressionante de potenciómetros.

roland ju-06

Logo em 1984 foi a vez do JUNO-106, um analógico de 6 vozes. Era o terceiro modelo da série JUNO, depois do Juno-6 e Juno-60, e o primeiro a ter MIDI. É considerado, por muitos freaks do áudio, como um dos últimos grandes sintetizadores da era analógica. O 106 foi dos últimos synths a surgir com tantos potenciómetros e botões de controlo, para a sempre almejada “democratização” da programação. Mantinha o calor do sinal analógico dos seus antecessores, incluindo um filtro low pass de 24dB, e contava com um DCO para cada uma das vozes. Tornou-se imediatamente um clássico de estúdio, posição que ocupa até aos dias de hoje. Com os pads ricos e o poder dos baixos e perfuração dos leads, o JUNO-106 foi um dos grandes catalisadores da explosão da house music. A sua simplicidade de operação fez dele um excelente sintetizador para iniciantes que procuravam descobrir mais sobre sintetização e criação sonora partindo do zero.

Mais recentemente, por exemplo, surgiu a TR-06, uma réplica detalhada do clássico Roland TR-606, mas, naturalmente, com algumas actualizações. A nova versão Roland Boutique tem o timbre distinto e o aspecto icónico do original, mas com mais opções de modelação sonora, capacidades de sequenciamento inovadoras e uma série de triggers para a condução de mudanças modulares. É uma recriação detalhada da TR-606 vintage utilizando o modelo Analog Circuit Behavior (ACB), com opções expandidas de modelação de som como afinação, decay, pan, ganho, compressor de bordo, efeitos de atraso e overdrive, sequenciador avançado com sub-passos e step-loop. Tem cinco saídas para triggers e uma entrada para fácil integração com outro equipamento, como módulos ou pads. Quanto à alimentação, funciona com quatro pilhas AA ou energia de barramento USB.

Tal como o original, o sequenciador no TR-06 é familiar e simples, pelo que se pode fazer qualquer tipo de batida de forma rápida e fácil. E agora foi actualizado com características avançadas como sub-passos ajustáveis. Tal como outros modelos Boutique, a TR-06 é robusta e bem construída com uma tampa sólida de metal e uma caixa de cor com três opções de inclinação. É, no fundo, um interface áudio USB de alta qualidade para gravação rápida e fácil com o teu computador e tem altifalante incorporado.

A Roland continua a lançar periodicamente novos modelos clássicos neste formato compactado e, se são fãs destas unidades lendárias, de som retro ou do calor analógico, vale a pena verificar toda a colecção no site oficial.