A Última Tour dos Genesis

“The Last Domino? Tour”, a última digressão dos Genesis, foi encerrada na Arena O2 de Londres, com Phil Collins bastante debilitado em palco e com Peter Gabriel na plateia. Aqui recordamos esse concerto e essa digressão com dois bootlegs de qualidade razoável, mais as infames guitarras Squier Bullet que Mike Rutherford usou nos últimos dias de uma das mais importantes bandas na história do prog rock.

Estávamos em Março de 2020 e foi o The Sun a avançar que Phil Collins, Tony Banks e Mike Rutherford se juntariam para actuar em vários concertos em Novembro e Dezembro desse ano, no Reino Unido. Os Genesis haviam indícios dessa reunião da última fase da banda na sua conta oficial no Instagram, com uma acompanhada pela legenda “And then there were three” (“Sobraram Três”). A legenda fazia uma alusão ao 9º álbum dos prog rockers britânicos, de 1978. O primeiro após a saída de Steve Hackett e exclusivamente gravado pelo trio de músicos. O último concerto dos Genesis remontava a 2007.

Os rumores de uma reunião alastravam nos últimos tempos, afinal Collins andou em digressão com Rutherford em 2019 e, nessa ocasião, manifestou-se aberto a uma reunião dos três músicos, assumindo apenas os trabalhos vocais e deixando a bateria para o seu filho Nicholas. Tudo se confirmou mas, à semelhança de tantas outras digressões, “The Last Domino? Tour” foi adiada devido à crise pandémica e remarcada para o Outono de 2021.

Já o último concerto dos Genesis aconteceu no dia 26 de Março de 2022, na O2 Arena, em Londres. Uma noite especial. Porque na plateia estava Peter Gabriel e porque Phil Collins afirmou mesmo que se tratou do último concerto dos Genesis, usando do seu reconhecido humor para referir que os músicos agora teriam que procurar «um emprego a sério».

A setlist foi: Behind the Lines / Duke’s End; Turn It On Again; Mama; Land of Confusion; Home By the Sea; Second Home By the Sea; Fading Lights; The Cinema Show; Afterglow; That’s All; The Lamb Lies Down on Broadway; Follow You Follow Me; Duchess; No Son of Mine; Firth of Fifth; I Know What I Like (In Your Wardrobe); Domino; Throwing It; All Away; Tonight Tonight Tonight; Invisible Touch; ENCORE I Can’t Dance; Dancing With the Moonlight Knight; Carpet Crawlers.

Não só foi mesmo a despedida dos Genesis, como terá sido o último concerto de Phil Collins. Para lá de ser possível vê-lo visivelmente debilitando durante a digressão e, particularmente no último concerto, há a considerar o seu historial médico. Ao longo dos últimos 15 anos, as aparições em público do músico de 70 anos foram revelando alguns problemas de saúde. Collins já admitira problemas numa vértebra na parte superior do pescoço, causa de danos nervosos incapacitantes, além de vários outros condicionalismos que o levaram a revelar, em Setembro de 2021, em entrevista ao programa BBC Breakfast, que os últimos tempos têm sido difíceis e extremamente limitadores, ao ponto de não conseguir tocar bateria.

AS SQUIERS DE MIKE RUTHERFORD

A “Last Domino” foi especial por tornar conhecido outra realidade surpreendente, um tremendo rombo nas estratégias de marketing das marcas gigantes da guitarra eléctrica. Mike Rutherford andou em plena digressão com modelos Squier Bullet Stratocaster que estão entre os mais economicamente acessíveis no mercado da guitarra eléctrica. Direccionados para aqueles que dão os seus primeiros passos na música, a sua qualidade e as suas características não são algo a menosprezar. O guitarrista dos Genesis, é um fã destas guitarras. E, acreditem, poucos de vós, com todo o respeito, possuem uma assinatura sónica comparável à do músico britânico.

Foi o guitar tech de Rutherford, Steve Prior, que revelou em entrevista com a Guitar Player, que as Stratocasters mais baratas construídas pela Fender (a Squier faz parte do FMIC) são figura de proa no arsenal de guitarras do músico co-fundador dos Genesis e que este as está a tocar na digressão de despedida da banda, a The Last Domino? tour. «A sua favorita é um modelo com uma cor peculiar, uma edição limitada de acabamento Sonic Grey. Não a consegue largar. É a primeira guitarra em que pega todos os dias», diz Prior na entrevista.

Rutherford comprou essa Sonic Grey Bullet Strat e um outro modelo no acabamento Arctic White, na Cidade do Cabo, África do Sul. Estes modelos destronaram aquela que era, até aqui, a guitarra favorita de Mike, uma Fender Clapton Strat. E Prior diz que este novo amor está para durar, pois Rutherford comprou recentemente um novo par em Newcastle e diz que estes leves instrumentos, construídos em poplar, são «guitarras excepcionais para aquilo que custam».

Certamente, estão a questionar-se: como é que estas guitarras se aguentam em palco e sob as exigências de uma digressão? Pois bem, os modelos possuem alguns mods introduzidos por Steve Prior, incluindo novos pickups e com instalação de hardware mais resistente. Prior trocou os afinadores, a ponte e as saddles por componentes Gotoh. Nos pickups foram escolhidos modelos Fender Noiseless (que surgem nas novíssimas Fender American Ultra Luxe) para a posição da ponte. O circuito de controlo também foi alvo de melhorias, com potenciómetros CTS e componentes Switchcraft. Mesmo com esse investimento, estes modelos made in Indonésia ainda ficam bastante em conta. Não deixa de ser uma arma de arremesso para aqueles que defendem que não é necessário ter uma guitarra ultra cara.

De resto, não haja dúvidas que, mesmo barata, a Squier Bullet é uma Stratocaster de direito próprio, com a sua escala de 25.5”, braço bolt-on em maple, com perfil confortável em “C” e o tremolo sincronizado ao estilo vintage, em configuração de três single-coils, com selector de cinco posições. Rutherford está tão descomplexado com a guitarra que mantém o decalque da Squier na cabeça do instrumento.

Este que vos escreve tem uma Strat USA que nunca saiu de casa. Já uma rafeira destas, que custa ali entre os 120 e os 130 paus, anda na última digressão de uma das bandas mais importantes na história do prog rock. Nada mau…