Nascido em Niterói, Rio de Janeiro, Alexandre Frazão veio jovem para Portugal, para sentar-se entre os nomes maiores da música e do universo da bateria. Executante de excelência técnica multifacetada, o fã de John Bonham assinou dezenas dos melhores álbuns da música moderna portuguesa, da pop ao jazz, da experimentação ao hard rock.
Pode ler-se no wiki que «Alexandre Frazão é um músico multifacetado, que se expressa tanto nos vários idiomas jazz, como noutros estilos de música, da música pop ao rock, ou da música tradicional portuguesa a estilos experimentalistas, entre outros, recorrendo de modo inventivo a vários recursos da bateria, para se expressar com uma concepção muito elástica de ritmo e textura». O que o wiki não sabe é que este baterista, nascido no país irmão no dia 19 de Agosto, que se mudou para Portugal em 1987, teve como primeira bateria um modelo que «acho que já nem existe, uma Pinguim. Os timbalões eram 13″, 13″ e 16″. A diferença era profundidade, a primeira era 13″ por 8″». Estas dimensões monstruosas deixam logo claros indícios da sua devoção pelo enorme som do hard rock dos anos 60 e 70, no geral, e por Keith Moon, em particular. O baterista dos The Who, usava muitos timbalões do mesmo tamanho, que só diferenciavam na profundidade e, possivelmente, a Pinguim baseou-se nessa referência. O baterista adoptou-a. O tamanho era o mesmo, treze polegadas, mas um era mais curto e o outro mais fundo.
Mas o seu maior herói será John Bonham, quem nunca? À AS, o músico confessava: «Na carreira do John Bonham, sempre houve coisas que atraem não só os bateristas, como o resto das pessoas, sejam músicos ou não. São tantos pormenores rítmicos, são tantas pérolas que ele põe nos grooves, a maneira como toca, as ghost notes e as influências que teve, desde o jazz ao funk. Ele adorava James Brown e isso vê-se neste groove, onde se sente o drive funky, muito giro, mas sempre com aquele peso incrível e aquela pegada imperdoável. Os detalhes mais importantes são o groove atrasado, para trás, laid-back, muito funky, mas que agarra a banda. A banda vai toda com a bateria, que marca todos os detalhes, todos! Depois, há aqueles truques que vêm com os riffs da guitarra, que ele faz questão de acentuar, as saídas dos kicks ou dos breaks são sempre maravilhosas. Parece que tudo respira, nunca tem pressa, sem exageros, muito próximo da perfeição. É sempre com muito bom gosto, isso é o que o distingue. Por isso é que, passados quarenta anos, ainda é o maior. Dá muito prazer ouvi-lo e aprender com ele. Tem sempre um modo muito inteligente de tocar, sempre muito musical, o groove está lá sempre, o som incrível da bateria também e a técnica para poder executar, mas, acima de tudo, um bom gosto ímpar, exemplar. É impressionante».
Talvez por isso, apesar de ter feito o Conservatório no Rio de Janeiro, Frazão defenda o play along como grande ferramente de aprendizagem. «Toco com discos até hoje. Ponho nos phones ou nas colunas. Até faço uma analogia. Quando estou com os phones faz de conta que estou a gravar. Ouves a bateria diferente, até tocas mais forte. Quando pões as colunas, estás a tocar para quem está a tua volta; está ali o baixista, o saxofonista, o cantor, seja o que for, e tu estás a tocar junto».
Já nas madeiras, obedece a menos regras. Afinal, quando um músico viaja muito, como é o seu caso, envia-se um rider e as baterias podem ser Remo, Pearl, Gretsch, Yamaha, etc. Abre-se o leque para as companhias de aluguer e para o promotor, para facilitar. Pedem-se as medidas do bombo e restantes peças, mas não se especifica a madeira. «Acabas por apanhar coisas que são muito parecidas». É claro que há madeiras com as quais o músicon se identificas mais. No caso de Frazão essa madeira é maple. Uma escolha que se estende às baquetas: «As de maple são mais equilibradas, em relação às de hickory, que até são mais populares. As de maple, no mesmo par, uma é igual a outra – no peso, no toque, seja o que for – mas como a madeira é mais leve acaba por durar menos, parte a ponta ou lascam, mas dá melhor som de prato. Para quem gosta de som de prato, como eu, as maple são melhores. As de hickory uso em cenas tipo Led On, em que estou mais a abrir, porque duram mais».
Precisamente, os Led On é o projecto devocional aos Led Zeppelin, onde toca com Paulo Ramos, Zé Nabo, Manuel Paulo e Mário Delgado. E ao lado deste último, Frazão já gravou umas quantas mãos cheias de discos. Por exemplo, é o baterista de “Filactera”, fenomenal disco de 2002, que já foi alvo de apreciação nestas páginas. Ainda ao lado do guitarrista e com a tuba de Sérgio Carolino, fundou os TGB, cujo terceiro e vibrante disco também habita este espaço. No universo mais mediático da música portuguesa, Frazão juntou-se aos Dead Combo e, entre outros, gravou o último álbum da icónica banda, “Odeon Hotel”. Sobre esse disco apraz dizer que, assim que começam a troar as baterias de “Deus Me Dê Grana”, sentimos que este é o álbum mais intenso de Tó Trips e Pedro Gonçalves, quando entra o contrabaixo percebemos que é também o mais pesado, algo a que não será alheia a produção de Alain Johannes. Ao longo dos restantes temas vamos percebendo que este sexto álbum é também o melhor dos Dead Combo – o culminar de uma evolução constante, sem nunca perder de vista os pressupostos originais, estabelecidos no já longínquo “Vol.1” (2004): o rock, o fado e todos esses sons que a diáspora trouxe para Lisboa. A presença desse ilustre convidado chamado Mark Lanegan é apenas um mero detalhe neste discão.
A fotografia de entrada foi extraída do Facebook do músico.
Um pensamento sobre “Alexandre “O Grande” Frazão”