Dead Can Dance, Ecos Helénicos

A rara canção que os Dead Can Dance criaram dedicada à cidade grega de Eleusis. A união de Lisa Gerrard ao folk búlgaro, enraizado na antiga Bizâncio, e os trilhos da música popular helénica nas tavernas da diáspora reunidos por Brendan Perry.

Os Dead Can Dance, ao longo da sua carreira discográfica, têm usado a cultura clássica como um dos seus faróis de inspiração musical, em particular a música helénica, da Grécia Antiga e a bizantina. Para celebrar esta herança, em 2016 os DCD criaram um novo original, “Eleusis” – canção com o nome da cidade grega que se candidatou a tornar-se na capital europeia da cultura em 2021. Sem exigências financeiras, os DCD criaram a canção inspirada pela própria cidade e pela sua história, com a intenção de proclamar e cultivar sementes de transição para uma nova era de prosperidade, uma era de EUPHORIA.

The Mystery Of The Bulgarian Voices foi projecto vencedor de um Grammy em 1988. O fascinante colectivo baseado no folk balcânico regressou às edições duas décadas depois. Aclamados pela crítica internacional, “BooCheeMIsh” (2018) e “Shandai Ya/Stanka” (2020), os álbuns fazem uma encantadora fusão do folk búlgaro, com os cânticos polifónicos e multi-harmonizados herdados do império bizantino, acompanhados por cordofones, sintetização e percussão. E ainda a voz de Lisa Gerrard, na ressaca dos dois últimos álbuns dos DCD.

Já no final de 2020, Brendan Perry continuava mergulhado num profundo fascínio pela música e cultura helénicas. Dessa vez a solo, editou o disco “Songs of Disenchantment – Music from the Greek Underground”. Perry gravou todos os instrumentos, além de assumir as tarefas vocais. O álbum foi trabalhado (arranjos, gravações e produção) nos Ker Landelle Studios. A masterização esteve a cargo de Aidan Foiley nos Masterlabs.

Perry deixou considerações sobre a peculiariedade do álbum. «Ouvi-a pela primeira vez, aquilo que muitos anos mais tarde vim a conhecer como música Rebetiko, em cafés e tavernas gregas dos subúrbios de Melbourne, no final dos anos 70. Estes lugares eram predominantemente espaços sociais para emigrantes gregos, que haviam chegado à Austrália em ondas sucessivas a partir do final do século XIX, e durante o dia eram populados por grupos de homens idosos a jogar gamão e a beber ouzo enquanto ouviam música laika (música popular grega) e rebetiko. Também eu tinha emigrado para estes climas do sul uns anos antes, oriundo de Inglaterra, e o destino ditou que o nosso meio de transporte durante a viagem de seis semanas fosse um velho navio grego chamado “Ellinis”. Foi a bordo desse navio que começou a minha própria odisseia musical, quando comecei a aprender a tocar guitarra. Ao longo dos anos, o meu amor por “tudo o que é grego” nunca esmoreceu, especialmente em relação à música rebetiko. Acumulei uma colecção considerável de música gravada, instrumentos tradicionais e recordações ao longo dos anos que, eventualmente, me deu a inspiração e a educação valiosa necessárias para gravar algumas destas maravilhosas canções».

«O facto de praticamente não existirem versões cantadas em inglês de canções rebetiko foi uma enorme surpresa para mim e acabou por ser a principal motivação para partilhar estas canções com uma audiência familiar com a língua inglesa e também espicaçar a curiosidade dos ferrenhos tradicionalistas», conclui.

Um pensamento sobre “Dead Can Dance, Ecos Helénicos

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