No seu primeiro romance, “Bairro Sem Saída”, Fernando Ribeiro pegou no realismo mágico e transformou-o em matéria suburbana, pintada em tons de profundo negro. “Café Kanimambo”, o segundo romance do frontman e letrista dos Moonspell, é um thriller publicado, uma vez mais, com a chancela Suma de Letras.
Fernando Ribeiro nasceu em 1974 em Lisboa e foi criado no bairro da Brandoa, nos arredores da Amadora. Em 1992 fundou os Moonspell que, ao fim de três décadas, tornou-se o grupo mais internacional de sempre de toda a música portuguesa com milhares de discos vendidos e tours nos cinco continentes. Em 2001, Ribeiro o seu primeiro livro de Poesia “Como Escavar um Abismo” a que se seguiram outros dois: “As Feridas Essenciais” e “Diálogo de Vultos”. Abraça o amor pelas Letras no Curso de Filosofia e acumula experiências no campo da ficção com “Senhora Vingança” contos/2011), do comentário (TSF, Jornal de Leiria) e tradução (“Eu sou a Lenda”).
“Hermitage”, que estreou no dia 26 de Fevereiro de 2021. Um disco que elegemos entre os melhores desse ano. Mais, não se tratava apenas de um álbum novo, mas de um álbum que, como pude testemunhar e qualquer um facilmente perceberá ao ouvi-lo, se propôs, uma vez mais, a reinventar a banda. O álbum torna a debruçar-se, entre outros temas, sobre o Catolicismo. Algo que Fernando Ribeiro assumia sem assombro numa conversa que mantivemos. «O assunto sempre esteve de alguma forma subjacente relativamente à estética do que os Moonspell fizeram e a partir do “Sin” é mesmo muito evidente. Desde que comecei a estudar filosofia que me coloquei num polo mais afastado, cada vez mais, daquela interpretação black metal, na minha opinião muito mais superficial dos mitos, dos dogmas, das vantagens e desvantagens da religião cristã na sua forma católica. Fui lendo hagiografias e em 2017 já havia uma imersão nesse assunto, na teodiceia, um assunto base do “1755” e também do final do século XVIII. Se Deus realmente teve alguma intervenção», afirmava o frontman da banda, para acrescentar que, no 12.º álbum da discografia dos Moonspell, a maturação pessoal e musical caminham de mãos dadas. «As peças foram-se juntando na minha cabeça e só será estranho porque dentro do heavy metal, normalmente, as pessoas têm uma visão muito cliché, que os músicos também propagam, da religião cristã. É muito polarizado. Há quase uma obrigação estética de usarmos e abusarmos e dizermos burrices sobre a religião e os santos, etc., que é uma coisa que me interessa bastante historicamente, filosoficamente. É um assunto estético. Muitas pessoas o trabalham. Provavelmente no metal trabalham-no mal. Já não consigo aturar aquela blasfémia fácil, aquelas coisas que andam a ser repetidas e papagueadas há imenso tempo, o necro, o satânico… Os Moonspell, mesmo nos seus tempos mais ocultistas, sempre tentaram ter uma visão muito mais intelectual e essa visão foi gradualmente mudando em mim».
Poucos meses depois do álbum chegou “Bairro Sem Saída”. É o primeiro romance de Fernando Ribeiro, que aqui apresenta a sua outra voz, tão forte e ousada como na sua banda, mas, agora, traduzida nas palavras de um livro que grita, emociona, entretém e encanta. A acção situa-se no Bairro mais clandestino da Europa durante os anos 70 e 80: a Brandoa e é narrada por Rogério Paulo, nascido durante o terramoto de 28 de Fevereiro de 1969. O narrador cresce marcado pela morte do seu primo Fernando dois dias antes de nascer, acompanhado pelas personagens fantásticas do Bairro sem Saída: o seu amigo e Mário, diabético que vai desaparecendo; a cigana Zíngara e as suas maldições; o monstruoso ser de duas cabeças que lhe ensombra a infância; a Noiva de Branco, que se atira da janela do quarto andar. É um livro com os batimentos rápidos do heavy metal e a melancolia escura do gótico, sem esquecer uma boa dose de humor, apresentando a eterna guerra entre ricos e pobres.
“Café Kanimambo” é o segundo livro do músico Fernando Ribeiro, descrito como o encontro do thriller com uma narrativa hardcore, «é a confirmação do autor como uma das vozes mais acutilantes e provocadoras da nova ficção nacional, num livro perturbante que não deixará ninguém indiferente». O livro da editora Suma de Letras, tem 144 páginas e já se encontra para compra em livrarias físicas e digitais.
A sinopse da história: «Num Verão de que não há memória na Lagoa de Albufeira, Vítor Batista (ex-futebolista caído em desgraça e alcoólico), o Doutor Paulo (um deputado da nação que tenta esconder um segredo obscuro), o Senhor Braz (dono de uma loja de brinquedos em Benfica, que podia ser feliz, mas não consegue) e o Raça (um operador de máquinas com um sonho simples), quatro homens com pouco em comum, veem-se, contra todas as expectativas, subitamente envolvidos numa espiral de sexo, vergonha, castigo, justiça popular, crimes sexuais, homens e demónios».

Podes adquirir o livro “Café Kanimambo” através da Rastilho, o preço bate nos €15,95. A foto que ilustra o artigo é de Ricardo Graça, para o Jornal de Leiria.