Michael Lauren All Stars

The Michael Lauren All Stars, The Reissue Collection

“The Reissue Collection” reúne numa única experiência auditiva os dois álbuns de The Michael Lauren All Stars. Remasterizados, “Once Upon A Time In Portugal” e “Old School / Free Jazz”, soam ainda mais amplos e dinâmicos.

Nos últimos tempos, o baterista focou-se no Michael Lauren Trio, onde fundamenta os concertos no “Hard Swinging and Funky Jazz” dos guitar trios clássicos norte-americanos. A sonoridade é simples, mas vibrante, mais crua e mais directa, expondo os três instrumentos a uma execução de maior exigência, para maior ocupação do espaço harmónico. Michael Lauren promove abundância de swing e groove na fusão que o trio faz de hard swinging e um jazz algo funky, com as guitarras exuberantes e intensas do guitarrista Vasco Agostinho e o contrabaixo elegante e sólido de João Custódio. A fluidez da interactividade dos três músicos é notável, revisitando clássicos e apresentando melodias originais e cativantes, exalando autenticidade.

O único pecado que daqui advém prende-se com o aparente hiato em que parece ter entrado o projecto The Michael Lauren All Stars. Todavia, o seu registo discográfico foi reabilitado em edição digital que reúne os LPs “Once Upon A Time In Portugal” e “Old School / Fresh Jazz”. Assim esta é uma oportunidade de ouro para regressar a dois discos que necessitam de maior aclamação, como refere o próprio baterista, explicando os motivos para esta iniciativa.

«Estou muito feliz por anunciar o lançamento da “‘The Michael Lauren All Stars The Reissue Collection’. Sempre senti que as minhas duas gravações com os All Stars ‘Once Upon A Time in Portugal’ e ‘Old School / Fresh Jazz’ nunca foram verdadeiramente escutados e degustados por um público alargado e que a profundidade das composições e execuções da banda seria melhor apreciada se a música fosse apresentada numa única experiência auditiva. Remasterizar estes dois álbuns resultou num som mais aberto, dinâmico e excitante».

Em 2015 criou os All Stars e o seu primeiro álbum, “Once Upon A Time In Portugal”. Em “Bonfim Blues”, original de Michael Lauren, ouvimos de forma bastante clara a generosidade desta lenda do jazz que, numa condução tão sólida quanto livre, se recosta numa execução subtil e aberta às manifestações de destreza de cada um dos músicos, individualmente e de todos no seu recruzar sónico. Aliás, exceptuando Carlos Barretto, cada um dos músicos possui uma composição sua aqui gravada. Mas apesar de Barretto não estar presente como autor, a sua prestação, com “Outras Viagens” como estandarte, é suficiente assinatura no disco.

Depois, a ferocidade técnica dos All Stars nunca soa como exibição gratuita e circense, apresentando sempre um charme cujo zénite está registado na soberba “Seven Ties Corp.”, de Hugo Alves. A percorrer todo o álbum está aquela suavidade com que o grupo reunido por Michael Lauren, logo a abrir o disco, parece ilustrar “Minor Strain”, original de Bobby Timmons, como algo feito sem esforço. Mas transpor alma com tal coolness para a impulsividade excitante do lendário pianista nova-iorquino é coisa, de facto de All Stars. Hugo Alves (Trompete), Carlos Barretto (Contrabaixo), Jeffery Davis (Vibrafone), Nuno Ferreira (Guitarra), José Menezes (Saxofone) e Diogo Vida (Piano), soam portentosos a acompanhar a propulsividade poli-rítmica do baterista.

Já em 2018, chegou “Old School / Fresh Jazz”. E se o primeiro álbum de Michael Lauren All Stars é uma tremenda colecção de destreza técnica e charme cheio de coolness, este é ainda mais desafiante, mais arriscado, mais tudo. Um disco que inclui vários estilos e que mostra o estado eclético do jazz contemporâneo! Uma suma emocionante, acessível e didáctica, enraizada na melhor tradição do hard bop, tradição tão querida ao baterista que se fez português. «Com melodias fortes e solos concisos “Old School/Fresh Jazz” mistura peças mais longas com duetos que mostram a grande versatilidade de Lauren como baterista e exaltam os tremendos talentos que compõem os All Stars», dizia João Moreira dos Santos (Antena 2). So true!

Com esta reedição, vale a pena voltar a estes discos sumptuosos dos Michael Lauren All Stars. Originalmente, “Once Upon A Time In Portugal” e “Old School / Fresh Jazz” foram ambos gravados no Estúdio Vale de Lobos, sob os comandos do engenheiro Pedro Vidal e depois enviados para mistura de Michael Crehore (que no segundo disco contou ainda com a colaboração de Gary Kelly) nos estúdios nova-iorquinos Cellar Sound. A remasterização estreada no dia 5 de Maio de 2023 coube a Mário Marques e Luis Candeis.

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