Yngwie Malmsteen

Para Yngwie Malmsteen, Made In Japan dos Deep Purple é um Arraso Bíblico

“Made In Japan”, icónico álbum dos Deep Purple, é o álbum que Yngwie Malmsteen levaria para uma ilha deserta. «Têm uma energia louca», diz o shredder sueco sobre os takes do Mk II em Osaka e Tóquio em 1972.

Até uma certa geração, não havia rocker que não se prostrasse, mais cedo ou mais tarde, diante de “Made In Japan” dos Deep Purple. Simplesmente, não havia volta a dar. Quem se iniciava como adepto do hard rock acabaria por ouvir “Smoke On The Water” e, por qualquer razão, a versão gravada ao vivo era mais explosiva que aquela que se ouvir no álbum, no “Machine Head”. Seria a sensação de risco vertiginoso que essas gravações ao vivo transmitiam, de que a banda estava no limite do caos, a percorrer cada escala, cada compasso, cada via de improviso, num trapézio sem rede. A sensação de estarem todos os músicos no extremo máximo das suas capacidades, a tocar a transcendência…

Há ali uma alquimia qualquer que torna o “Made In Japan” num dos melhores álbuns de sempre no hard rock e, possivelmente, o melhor álbum ao vivo no género. Um apologista desta tese é Yngwie Malmsteen. O shredder sueco é obcecado com estas gravações que os Deep Purple fizeram em Osaka e Tóquio, um fanático da tremenda energia que ali ficou registada, como confessa…

«Tinha apenas nove ou dez anos de idade quando o meu irmão mais velho trouxe para casa o “Made In Japan”. Já tinha ouvido os álbuns “In Rock” e “Fireball”, dos Deep Purple, e ambos me tinham afectado em proporções bíblicas. Por alguma razão incrível, não conhecia o “Machine Head”, o álbum de estúdio em que tanto do “Made In Japan” se baseia. Fui comprar o “Machine Head” porque tinha adorado o “Made In Japan” mas, sendo um miúdo ingénuo da Suécia, não conseguia compreender porque é que “Lazy” e “Space Truckin’” eram, inesperadamente, canções tão curtas. Nenhum outro álbum ao vivo teve um impacto tão grande em mim. O “Made In Japan” tinha uma loucura de energia, meu. Nessa altura, sem a Internet, leitores de MP3 e milhares de estações de rádio por onde escolher, ouvir um novo disco pela primeira vez era uma experiência autenticamente religiosa. Na verdade, gastei três ou quatro exemplares da edição em vinil. Isto foi o quanto me absorveu.

O álbum está misturado com a guitarra bem colada à esquerda e o órgão Hammond à direita. Ouvi frequentemente o álbum com os solos de Ritchie Blackmore silenciados, substituindo-os pelos meus e gravando-os num leitor de cassetes dos meus tios. Levei essas cassetes para a escola e dizia: ‘Ouçam isto’. Os meus amigos diziam: ‘Sim, o “Made In Japan”. E então?’. Mas era eu a tocar guitarra! Tinha tudo fielmente reproduzido; até sabia quando Blackmore usava o switch dos pickups, por isso fazia a mesma coisa… Podia ter enganado qualquer um. Adoro o som do “Made In Japan”. Foi produzido por toda a banda, mas misturado pelo Roger Glover e pelo Ian Paice. Ambos fizeram um excelente trabalho. Nem dá para acreditar que foi feito há 35 anos. De facto, a única crítica que teria a fazer é artwork da capa – teria dado a viva para que tivesse mais fotografias. Mais tarde, adquiri gravações dos três concertos que foram gravados [15-17 de Agosto de 1972, em Osaka e Tóquio] e isso fez-me perceber que eles tinham realmente escolhido os takes certos. Alguns dos outros estavam desafinados ou algo hesitantes. De uma forma que lhes retirava da magia.

Infelizmente, nunca vi a formação Mk II dos Deep Purple até se terem reunido para o álbum “Perfect Strangers”. Mas o primeiro concerto que vi foi os Rainbow na sua digressão do “Rising”, tinha os meus doze anos de idade. E desde então, já tenho estado com o Ritchie Blackmore, o Ian Paice e o Roger Glover. Também subi ao palco com o Ian Gillan, em Estocolmo, em 1990 – as filmagens estão no YouTube [player em cima do parágrafo]. Mas mesmo hoje em dia, quando meto o “Made In Japan” a tocar no carro ainda me bate: ‘F*da-se! Este é um álbum incrível’. É realmente espantoso».