Soundgarden, King Animal

Quebrou um hiato de dezasseis anos. Tornou-se o último álbum dos Soundgarden. “King Animal” é, acima de tudo, um testemunho da intensidade sabbathiana de Kim Thayil.

“King Animal” quebrou um silêncio editorial de mais de década e meia. Hoje sabe-se que se tornou também no último álbum dos Soundgarden, pelo menos com Chris Cornell, que morreu cinco anos depois da edição deste disco. Com a produção de Adam Kasper, o trabalho foi gravado entre Fevereiro de 2011 e Agosto de 2012.

A boa notícia é que, aqui, Kim Thayil continua um demónio parido pelos 4 álbuns clássicos de Black Sabbath. Outra boa notícia é que Matt Cameron pode tocar bateria com uma dimensão de groove que, pela imposição de suavidade e ligeireza comercial dos álbuns da banda na última década e meia, nunca lhe foi permitida em Pearl Jam. Há ainda a boa notícia de que Ben Shepherd permanece um mestre na colagem dinâmica dos elementos referidos atrás. Considerando tudo isso, quase não notamos a atitude menos imbuída de desesperança das vocalizações de Chris Cornell. Essa postura do frontman, que no hiato da banda percorreu os trilhos do mainstream, permite inclusivamente uma nova perspectiva na sonoridade dos Soundgarden.

“King Animal” é um álbum muito mais roqueiro do que aquilo que alguém anteciparia quando este regresso foi anunciado. Estes factores tornam “King Animal” um excelente álbum. A banda não teve que reerguer-se após um evento trágico como sucedeu com Alice In Chains, por exemplo, todavia terá tido um desafio ainda mais exigente. É que as comparações não seriam com os mortos, mas com os próprios vivos.

Só mais uma palavra para Thayil. Estamos a falar de um músico que à excepção de alguns apontamentos em álbuns de culto – como “Probot” [2004], de Dave Grohl, ou “Altar” [2006], de Sunn O))) e Boris – esteve mais de uma década sem actividade visível. De repente, surge aqui numa forma criativa e técnica que não pode surpreender quem conhecesse o seu trabalho, mas que ultrapassa esse mesmo trabalho. Está a tocar mesmo muito, neste que é um dos grandes álbuns de guitarra eléctrica do ano de 2012.

Os Soundgarden estavam a trabalhar num novo álbum quando Chris Cornell se suicidou, depois de um concerto em Detroit, em Maio de 2017. O músico tinha 52 anos. A banda sempre referiu que não procurar um novo músico para substituir Cornell, de acordo com Thayil. «Não nos vejo, de acordo com os compromissos que os outros membros da banda têm e os nossos sentimentos e amor por Chris, a reconfigurar uma digressão ou qualquer outra coisa». Mas…

Em 2019, soubemos que a possibilidade de ouvir um novo álbum dos Soundgarden com participação de Chris Cornell é muito elevada. A informação foi transmitida por Kim Thayil numa entrevista com a SiriusXM. O guitarrista disse que «[o projecto] é inteiramente possível, porque era isso que estávamos a fazer… Temos definitivamente outro álbum. Coisas que estão compostas, gravadas e em demos. Só precisamos de utilizar os ficheiros áudio disponíveis. Posso melhorar as partes de guitarra e acrescentar outras coisas. O Ben [Shepherd] faz os baixos. O Matt [Cameron] é capaz de adicionar o som de bateria que quer. Podemos ir buscar os produtores que queremos, para criar a sonoridade de um álbum dos Soundgarden. Sim, podemos realmente fazer isto».

Todavia, Thayil também expressou algumas preocupações que podem atrasar ou até mesmo impedir o projecto. «Acho que vai acontecer. Seria ridículo se não acontecesse. Mas existem processos complicados — parcerias e propriedades». Infelizmente, estas suspeitas têm vindo a ser confirmadas, como todos sabemos.

Se tudo ficar por aqui (como deveria, de qualquer forma), menos mal. Afinal, “King Animal” é a plena concretização das expectativas de uma geração inteira. Pegou, de certa forma, nas pontas deixadas soltas em “Down On The Upside”, mas em tudo soa mais maduro e com uma tremenda precisão, sónica e emocional. Não tem a mesma intensidade de “Badmotorfinger”, nem as sombras de “Superunknown”, mas é um forte testemunho de uma banda absolutamente singular e de extraordinário bom gosto.

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