Estávamos em 2008 quando decidi interromper o meu titubeante percurso académico. Estava no 5º ano (com algumas cadeiras em atraso) da Licenciatura pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa. Apaixonado pela matéria, mas sem grandes perspectivas laborais. Por essa altura, a Tânia convidou-me para colaborar com a Arte Sonora, que arrancou em Março desse ano. Comecei por escrever umas quantas reviews a álbuns. Quando terminou o ano lectivo, já passara a realizar algumas entrevistas e a fazer reviews a guitarras e outro equipamento musical. Queria muito aprender e tinha quem me ensinasse. Por um misto das contingências como a incerteza no mercado profissional, os recuos da economia (que passaram a ser progressivos), a especificidade da publicação e, gosto de acreditar, pelo meu perfil multidisciplinar, no final de 2009 juntei à condição de redactor principal a posição de editor da revista.
Já não era um colaborador, nem um entusiasta. Agarrara a oportunidade e tinha o meu salário. Não vingara na música (uma injustiça que facilmente perceberiam se ouvissem os meus discos *cof *cof), mas estava profissionalmente ligado à música. A minha gratidão à Tânia será eterna. Mas, aí chegado, havia objectivos muito duros de concretizar. Seguiram-se mais de 10 anos de muito trabalho, redobrado pelo facto de a revista ter enfrentado uma mudança de editora, por nunca ter tido o apoio de qualquer grande grupo económico, prezando a sua independência absoluta. Para o conseguir, a AS passou de ser uma publicação mensal, para bimestral. Depois a crise económica acentuou a crise da indústria dos media e a dos instrumentos musicais, o que se reflecte claramente na bancarrota que enfrentou uma marca com a imponência da Gibson. Imaginem os reflexos que tudo isso poderá ter tido numa pequena empreitada como a Arte Sonora.
Não desistimos e passámos do papel para o digital, aumentando a proposta de conteúdos audiovisuais, principalmente na demonstração de produtos, sempre com uma equipa de músicos nacionais, criámos os pequenos showcases de bandas na redacção, seguindo conceitos como o Tiny Desk, visitando as bandas em estúdio e em palco, com entrevistas e reportagens de equipamento em vídeo, que passaram então a proliferar no modo como se fala de música no nosso país. Então, mantendo esse trabalho, regressamos ao substancial papel, através deste formato inédito na nossa imprensa, impulsionados por uma histórica entrevista com Eddie Van Halen, a primeira vez que deu uma para Portugal.
O website não existia em 2009. Depois houve um no qual rebentámos uma pipa de massa, fruto da nossa inexperiência. E, em 2014, nasceu o novo. Passou da luta para ultrapassar as 100 ou 200 visualizações diárias para um importante arquivo musical português com números na ordem do milhão de visualizações anuais, para o seu maior ano de receitas em 2021 e com, acredito, potencial para continuar a crescer. Com gralhas e erros, claro. Mas com a credibilidade de, nas dezenas de publicações multidisciplinares diárias, a percentagem de notas ao lado ser bastante reduzida. A minha gratidão à Inês (que garra e vigor tem esta gaiata) será eterna. Aliás, foram mais de dez anos de evolução muito devido à enorme dedicação e vontade férrea da Inês e da Tânia.
Na ressaca da pandemia, ao fim de praticamente dois anos em isolamento, creio que cada um de nós reavaliou a sua vida. Eu, certamente, que o fiz. Uma década é um bom ciclo. A Arte Sonora seguirá o seu percurso sem mim e, a partir de agora, aqueles que, eventualmente, apreciam as minhas crónicas podem acompanhar um novo projecto: a ROMA INVERSA. Naturalmente, há muitas semelhanças editoriais com aquilo que ajudei a estabelecer na Arte Sonora. Espero que, com o tempo, lhe venha a ser reconhecida a mesma credibilidade. Ainda assim, o projecto editorial quer-se como rampa para uma segunda fase, na qual a Roma Inversa se tornará também uma loja de instrumentos musicais, com foco no universo da guitarra e no mundo boutique e artesanal da luthearia.
Fiquem desse lado,
Nero
Uns Quotes Fixes
Everyone talks about rock these days; the problem is they forget about the roll.
Keith Richards
A guitar is just theoretically built wrong. Each string is an interval of fourths, and then the B string is off. Theoretically, that’s not right, all the strings should be off.
Eddie Van Halen
Born to lose, out to lunch.
Lemmy