A Amplificasom torna a fazer questão de ordenar o horário do festival sem sobreposições na programação. Ainda assim, são mais de cinquenta concertos entre os já passados dias 07 a 09 e os próximos 13 a 15 de Outubro. Estes são aqueles que, no segundo fim-de-semana, se revestem de maior obrigatoriedade no Amplifest 2022.
O festival da Amplificasom, como tantos outros, saltou mais doze meses no calendário. Assim, em Outubro de 2022, o Amplifest voltará a fazer do Hard Club no Porto o ponto de encontro para melómanos de todo o mundo. O festival que, desde 2011, se assume como uma experiência de descoberta dos espaços mais negros e transgressores da música de peso contemporânea realiza-se, pela primeira vez, em dois fins-de-semana. O primeiro teve lugar nos dias entre 07, 08 e 09 de Outubro e o segundo nos dias 13, 14 e 15 de Outubro. São mais de cinquenta concertos ao longo dos seis dias do evento. Aquela que é a maior e mais ambiciosa edição da experiência musical integra ainda um ciclo de conversas e uma programação de filmes, que este ano exibe: “A Wandering Path (The Story of Gilded Media)”, de Michael Dimmitt; “Amenra: A Flood of Light”, de Bobby Cochran; “It Came from Aquarius Records”, de Kenneth Thomas; “Migration”, de Thisquietarmy e Hellenica; “Redemptus: Nothing’s Gonna Wake You Up Like Suffering”, de Guilherme Henriques e “The Man Who Loves to Hurt Himself”, de Anthony Short.
Um dos pressupostos do festival, desde sempre, passa pela não sobreposição de bandas, permitindo que os detentores de bilhete possam extrair todo o valor do seu investimento. Ainda assim, entre socialização e sustentação biológica, é sempre necessário fazer escolhas. Por isso, elegemos os nossos destaques no cartaz deste ano, já a seguir ao alinhamento por dias e os respectivos horários.

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Depois de quatro álbuns que redefiniram, sónica e esteticamente, as fronteiras do black metal – entre os quais se encontra o icónico Sunbather – os Deafheaven optaram, ao quinto álbum, por se reinventarem a eles mesmos. “Infinite Granite” reflecte uns Deafheaven mais polidos e maduros, mais afectos ao impressionismo do shoegaze do que à abrasividade do black metal, num vincar da identidade de uma das bandas com maior apuro na escrita de canções a surgir nos últimos anos. O álbum foi produzido por Justin Meldal-Johnsen, mais conhecido como baixista de longa data de Beck e pelo seu trabalho com artistas como St. Vincent, NIN ou M83. As misturas ficaram a cargo de Darrell Thorp, que já colaborou, por exemplo, com os Foo Fighters, Radiohead ou, uma vez mais, Beck. A apresentação deste novo disco, bem como a retrospectiva dos momentos mais icónicos da sua ímpar carreira, está marcada para a terceira aparição dos norte-americanos liderados por George Clarke e Kerry McCoy no alinhamento do Amplifest.
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O rock’n’roll febril dos Motörhead, o black/speed metal dos Venom e as passagens mid-tempo dos Celtic Frost são apenas algumas das referências que se agregam na poção deliciosamente blasfema que dá pelo nome de Hellripper. O projecto do escocês James McBain tem em “The Affair of the Poisons” o mais recente título de uma discografia que se tem revelado como uma das mais autênticas demonstrações de revivalismo no heavy metal, e cujos temas irresistíveis soarão, pela primeira vez ao vivo em Portugal, no palco do Amplifest.
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Não é de estranhar que o solo de Montreal, no Canadá, onde a temperatura ambiente frequentemente atinge as várias dezenas de graus Celsius negativos, tenha germinado uma banda tão violentamente gélida quanto os Spectral Wound. Bebendo ainda da igualmente cortante fonte do black metal europeu dos anos 90, particularmente da sua traça mais melódica, os Spectral Wound provam com o recém lançado terceiro disco “A Diabolic Thirst” que são um dos mais afiados vértices do actual panorama do black metal – o que será também confirmado na estreia em Portugal da devastadora tempestade levada a palco pelos canadianos.
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A meteórica ascensão de LINGUA IGNOTA, o projecto da pianista e vocalista Kristin Hayter, tem sido imparável – tanto que já ultrapassou qualquer fronteira que possa definir o que é o underground, feito ainda mais notável se tivermos em conta a opressiva visceralidade da sua música, bem como os negros temas que aborda. Artista de formação clássica, Hayter traduz o vocabulário do barroco para uma linguagem própria onde o contrapõe e justapõe a camadas de ruído, distorção, e de exorcismo dos seus demónios internos. Depois de várias digressões preenchidas por concertos completamente esgotados por todo o mundo, LINGUA IGNOTA traz o seu quarto e mais recente álbum “Sinner Get Ready” ao palco do Amplifest, naquela que será uma das mais aguardadas estreias em Portugal.
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Da verdadeira constelação de estrelas que forma os SUMAC – Aaron Turner dos Isis e Old Man Gloom, Brian Cook dos Russian Circles e Botch, e Nick Yacyshyn dos Baptists – brilha, muito mais do que os créditos individuais, a música criada pelo trio. Sem receio da livre experimentação e do mergulho na dissonância, os SUMAC não poupam também na intensidade que imprimem em cada nota de cada riff e na inventiva composição de cada um dos seus temas. Os SUMAC regressam a solo português suportados por uma discografia que tem em obras como “May You Be Held” ou “Love In Shadow” alguns dos seus pontos mais altos.