Best of 2021: Stompboxes

Em 2021, a Winter NAMM foi um evento digital e a Summer NAMM já contou com algum público. As marcas não se deixaram abater pela pandemia e, depois de um 2020 que viu ressurgir em força o mercado da guitarra eléctrica, este ano as novidades foram muitas. Nos pedais, como sempre (com ou sem pandemia) surgiram dezenas – para não dizer centenas – de novidades. Eis as mais marcantes.

Se o mesmo não pode ser dito sobre a sociedade, 2021 foi um ano extraordinário para o mundo dos pedais de efeitos. Aliás, acabou mesmo por ser o ano em que estreou o filme The Pedal Movie, documentário impulsionado pelo Reverb.com e que ao longo de mais de duas horas não só olha a história e a evolução das mágicas stompboxes como ainda levanta várias questões sobre este particular nicho da indústria musical. Os carolas da Red Witch Pedals, JHS Pedals, Old Blood Noise Endeavors, Way Huge, Analogman, Craig Anderton, Meris, Chase Bliss Audio, EarthQuaker Devices, Source Audio, Keeley, Strymon, Gamechanger Audio, Wampler, Malekko, Dogman Devices, ThorpyFX, Caroline Guitar Company e Spaceman Effects. Josh Scott, da JHS, logo no início do vídeo, assume desassombradamente: «Não faço a menor ideia. Essa é a resposta honesta». Mas muitos outros arriscam vislumbrar o futuro.

Muitos construtores olham às inovações técnicas que planeiam fazer ou que desejam ver outros fazer. Alguns preferem concentrar-se na simplicidade, como o Jamie Stillman da Earthquaker Devices. «A maioria dos músicos com quem falo deseja que tudo o que gostam tivesse apenas um botão e um interruptor… O que é cada vez mais a direcção para a qual, pessoalmente, estou a gravitar». Por outro lado, construtores como Roger K Smith da Source Audio sentiram o chamamento dos complexos sistemas digitais, controlados pela mesma interface que os pedais tradicionais, e como esse tipo de unidades digitais podem interagir entre si e partilhar predefinições «sem limitações». Também é referida a necessidade de reformas na indústria, principalmente porque os pedais de guitarra utilizam, frequentemente, tecnologia que foi descontinuada ou de alguma forma ultrapassada em todas as outras áreas. Por isso, a disponibilidade de peças já de si obscuras e mesmo as mais recorrentes que acabam descontinuadas podem tornar-se uma fatalidade para certas unidades, forçando também a sua descontinuação. George Tripps da Way Huge e Dunlop diz sentir que o conhecimento destes componentes antigos se está a perder. Na sua opinião, isso tornará a tecnologia analógica especializada muito mais cara e portanto, queira-se ou não, o «digital é o futuro».

Por aqui, mantemos os pés mais assentes na terra e olhamos o presente. Nesse sentido, de entre as dezenas ou mesmo centenas de pedais de efeitos que surgiram em 2021, elegemos os nossos dez pedais favoritos para guitarra e baixo, sem bem que alguns podem ser usados com outros instrumentos. As regras são um mito…

UAFX – UMA ESTREIA NO MUNDO DOS PEDAIS | A Universal Audio mandou-se ao mundo das stompboxes com um novo trio de pedais de guitarra de elite, que a empresa californiana promete oferecer «autenticidade sónica». É uma acção arrojada da Universal Audio, entrar de frente no preenchido universo de pedais. A nova linha UAFX compreende o Golden Reverberator, o Starlight Echo Station e o Astra Modulation Machine, todos equipados com motor UAFX de duplo processador e três sons centrais. Todos eles têm os modos Live e Preset e os utilizadores podem ainda descarregar mais efeitos da Universal Audio e escolher se os querem executar em mono ou em stereo. Como seria de esperar, a série UAFX tem um aspecto incrível. Apresentados na Winter NAMM 2021, os pedais têm comutação silenciosa e são construídos para durar. Podem conhecê-los em maior detalhes no artigo que lhes dedicámos.

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BOSS HM-2W | O regresso da lenda do death metal! O novo HM-2W está carregado de funcionalidades, incluindo um noise floor muito mais aperfeiçoado, +3dB de nível e um modo custom totalmente novo. Produzido desde 1983 até 1991, o BOSS HM-2 Heavy Metal é uma verdadeira lenda na história dos pedais de distorção. O seu som de “chainsaw” característico com todos os knobs no máximo é a definição do death metal sueco, e as opções ligeiramente mais suaves da sua personalidade podem ser ouvidas em músicas do mainstream até ao shoegaze. O HM-2W proporciona o som analógico autêntico do original em toda a sua glória, em conjunto com muitas melhorias. Quando o HM-2W está no modo Standard, o som e a resposta do pedal HM-2 original são reproduzidos com 100% de autenticidade. Também foi possível adicionar algumas melhorias modernas sem afectar o som, incluindo a redução do ruído de fundo e a expansão do nível máximo em 3 dB. E com o buffer Waza Craft premium no circuito, o som é melhorado quando o pedal está em bypass. Com os knobs todos os máximo temos o som do death metal sueco, e podes conjugar uma vasta gama de sons para outros estilos com a distorção sensível e controlos de som. O modo Custom do HM-2W oferece um carácter sonoro semelhante ao modo Standard, mas com um bocadinho mais de tudo. O drive stage oferece um pouco mais de ganho e inclui mais som fundamental da guitarra para ataque e nitidez extra. Além disso, as características graves e médias-altas foram modificadas para providenciar mais intensidade e definição. Mais info no nosso artigo.

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EARTHQUAKER DEVICES ASTRAL DESTINY | Um poderoso octave e reverb modulado. O Astral Destiny controla oito sons, com knobs para profundidade, tone, tamanho e mistura do efeito, assim como a sua taxa de modulação. As oito predefinições são seleccionadas com um knob rotativo. Em alternativa, o pedal pode funcionar no Modo Live em vez do Modo Preset. O footswitch secundário do pedal também engata um modo “stretch”, que duplica o comprimento do reverb e ajusta o controlo de flexão. São oito, os sons de reverb incorporados. Abyss: reverb gigante sem efeito de oitava; Shimmer: adiciona uma oitava superior à cauda do reverb; Sub: adiciona uma oitava inferior à cauda do reverb; Sub Shimmer: adiciona uma oitava superior e inferior à cauda do reverb; Astral: acrescenta uma oitava superior e uma oitava inferior combinadas; Ascend: pitch bending ascendente; Descend: pitch bending descendente; Cosmos: acrescenta uma quinta à cauda do reverb. A EarthQuaker Devices observa que os modos Ascend, Descend e Cosmos são melhor utilizados em notas/graves sustentadas. Confere!

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WALRUS AUDIO MAKO R1 & ACS1 | Reverb e amp e simulador de coluna de altíssima fidelidade. O ACS1 mantém a estrutura central das outras entradas da série Mako: uma caixa escalonada com dois LEDs, dois pedais e duas filas de três comandos, assim como três mini interruptores basculantes. As ligações são igualmente completas, com conectores mono/stereo de um quarto de polegada para áudio, bem como uma saída de auscultadores e ligação MIDI. Os controlos do simulador de amplificador permitem o ajuste de parâmetros como volume, ganho, graves, médios e agudos, bem como a quantidade de reverb na sala, desde um estúdio espaçoso e arejado até uma sensação mais próxima do microfone. O interruptor de comutação mais à direita selecciona o modo de amplificador que se está a utilizar, num total de três disponíveis, cada um com o tipo de som dos amps que serviram de inspiração: Fullerton (estilo Fender Deluxe Reverb), London (tipo Marshall Bluesbreaker) e Dartford (estilo Vox AC-30). O ACS1 vem carregado com seis tipos de colunas – acedidas pelo interruptor de comutação mais à esquerda (os três segundos são acedidos carregando no respectivo interruptor enquanto o bypass é mantido em baixo). Também podes carregar os teus próprios IR através da ligação USB do pedal e do configurador existente no site da Walrus. O interruptor de comutação central controla a extensão do uso stereo do pedal – com esta comutação na posição neutra, os parâmetros de edição aplicam-se tanto ao canal esquerdo como ao direito. No entanto, podes mover a comutação para a posição L ou R para editar as definições do amplificador e da coluna apenas nesse canal – e depois passar para o outro lado para editar o canal oposto, o que significa que podes criar uma mistura stereo de dois sons. O ACS1 também tem um amplo suporte de predefinições: podes guardar até três predefinições à tua escolha premindo e segurando simultaneamente o bypass e o boost, e percorrê-las premindo e libertando o bypass e o boost simultaneamente. O pedal irá percorrer as três predefinições incorporadas (exibindo vermelho, verde e azul). Quando a energia é retirada do pedal, este arranca na última predefinição utilizada. Também se pode expandir isto muito mais com o midi, cuja utilização permite guardar e recuperar até 128 predefinições.

Já o núcleo duro do som do novo R1 contempla seis programas de reverb: Spring, Hall, Plate, BFR, RFRCT e Air. Cada um destes tipos de efeito pode ser ajustado e guardado numa das nove slots de presets incorporadas no pedal. O decay, o efeito de swell e a mistura de cada reverb são ajustados através de knobs de uma única função ao longo da linha superior do pedal, enquanto as funções rate, depth e pre-delay são ajustadas através do knob Tweak de tripla função. Já o knob Tune serve para ajustar os graves ou os agudos do reverb. De resto, e enquanto os programas Spring, Hall e Plate prometem sons reverberantes clássicos com um grau extra de afinação Mako (o botão ‘X’ para estes três sons controla respectivamente o nível de grão, o tamanho da sala e o overdrive de entrada), já o BFR, o RFRCT e o Air são um pouco diferentes. Em primeiro lugar, o BFR – Big Fucking Reverb – é descrito pela marca como sendo «um reverb com um decay rico e exuberante». Aqui, a configuração X é quem controla quão difusos são os delays usados para criar o som pretendido. O RFRCT (vulgo, refractário) coloca ocasionalmente um som de delay reluzente e invertido sobre um reverb na sua maioria difuso. A frequência e o timbre deste efeito podem ser controlados através do rate e X, respectivamente. Por fim, o reverb Air é descrito pela Walrus Audio como mais «estaladiço, grande e difuso», com uma construção mais lenta concebida para dar realce à forma de tocar em vez de a encobrir. No modo X são introduzidas texturas sonoras arejadas que se movem entre os canais esquerdo e direito. O pedal tem entradas e saídas stereo mas pode funcionar tanto em stereo como em mono. Também possui ligações MIDI para expandir as nove slots predefinidas para 128 e para controlar diversos parâmetros. Os conversores digital-analógico e analógico-digital incorporados funcionam a um sample rate de 24-bit 48KHz, para áudio de alta fidelidade.

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PIGTRONIX CONQUISTA O ESPAÇO | Os fabulosos cosmonautas Space Rip, Constellator e Moonpool. Não há músico que não adore mini pedais, são mais económicos, no espaço que ocupam e naquilo que custam e, em muitos casos, pouco ou nada perdem para as versões não compactadas. Se, originalmente, forem logo desenhados dentro deste conceito, então o jogo sobe de nível, caso destes três pedais da Pigtronix. O Space Rip é uma unidade de efeitos tipo synth, tornando o sinal mais aproximado de um sintetizador analógico, de facto, do que de um instrumento de cordas. Estão incluídos controlos Sub e Octave para aumentar a espessura do som e o detalhe e qualidade do tracking são fenomenais, com uma dinâmica e resposta deveras subtis. Depois, o Constellator é um milagre de engenharia, pela enorme riqueza e variedade de delays que consegue congregar numa unidade tão compacta. Nos controlos temos Time, Mix, Mod e Repeat, além do switch Fee, para alternar entre um efeito chorus e vibrato. Por último, o Moon Pool é, nas palavras da marca, um híbrido ‘Tremvelope Phaser’, portanto, podem imaginar a sua capacidade para modulação experimental. Os controlos são Phase Speed, Trem Speed, Depth e Sensitivity. Há ainda um trio de mini switches para cada efeito, incluindo Dynamics e Phase. Mais detalhes.

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+ FENDER STAN COTEY | As massivas versões duplo circuito da Fender dos já existentes Pugilist e Marine Layer, modelos que fizeram parte da primeira remessa de unidades desenvolvidas por Stan Cotey. Fazendo um trocadilho com a expressão Dual, o Duel Pugilist é um pedal de dupla distorção que apresenta as mesmas vozes de distorção do original, mas com três novos modos de combinação: Series, Mute e Parallel. O primeiro empilha as duas distorções da mesma forma que o fariam com dois pedais separados, enquanto o modo Parallel permite a mistura de dois sons de distorção diferentes ou um som limpo com um som distorcido. O Mute permite usar uma distorção para criar o som principal e depois acrescentar uma segunda camada. O circuito possui também um EQ de duas bandas para domar excesso de graves ou agudos.

O Dual Marine Layer apresenta duas configurações independentes activadas por footswitch, bem como três algoritmos de reverberação únicos. Há também um sustain switch para gerar «enormes criações atmosféricas». O duplo footswitch permite alternar entre dois conjuntos de controlos para Damping, Time, Modulation e Level. O switch de sustain também é um sustain footswitch, passe a redundância, facilitando o seu controlo enquanto tocam.

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SOLIDGOLDFX IMPERIAL | O Imperial MKII, da SolidGoldFX, é muito mais que o seu estiloso visual retro. Inspirado pelo venerável fuzz JEN Jumbo, é o dono disto tudo! Se gostam do vosso fuzz “com maneiras”, mas capaz de rasgar o tecido da existência ou se apreciam aqueles leads tão idiossincráticos desse senhor que dá pelo nome de David Gilmour, não precisam de procurar mais além deste Imperial MKII. E o JEN Jumbo Fuzz? A JEN Elettronica era uma marca italiana que fabricava pedais para a Vox, Dallas Arbiter and Sound City e várias outras, além de construir equipamento para o seu próprio selo. O Jumbo Fuzz era a sua versão do EHX Big Muff original, mas com sliders em vez de potenciómetros, além de incluir no circuito um engenhoso noite gate em germânio. Foi aí que a SolidGoldFX pegou para criar o Imperial MkII. Respeitando o original SGFX Imperial, o MKII mantém o pré-amp JFET de alta impedância, garantindo a redução de ruído e a definição que se espera de um pedal SolidGoldFx. Check it out!

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JHS PEDALS PACKRAT | Pedal de distorção que clona e reúne nove versões raras dos pedais Rat numa única unidade. Em Janeiro de 2021, a Pro Co anunciou que iria retocar os seus uber clássicos pedais Rat. A marca pegou no feroz circuito do Rat 2 e decidiu compactá-lo num formato micro pedal, pensado para respeitar o limitado m2 da vossa pedaleira. Talvez inspirada por esse lançamento, a JHS Pedals decidiu tornar o Rat num dos modelos da sua gama Multi-Mode, na qual presta homenagem a stompboxes clássicas e ás suas variantes. É assim que surge o PackRat, que presta tributo às já quatro décadas do lendário pedal de distorção ProCo Rat. O JHS PackRat é totalmente analógico e oferece aos músicos nove versões “difíceis de encontrar” do icónico pedal de distorção. Tão difíceis de encontrar que reuni-las todas, segundo o press da JHS, custaria algo como um total de 4 mil dólares, aqui congregados numa única caixa. Nada mau. E que versões são essas? Tratam-se da primeira versão, a algo desajeitada OG do final dos anos 70; o White face Rat e o Turbo Rat dos anos 80; o Brat da década de 90 e o You Dirty Rat, já do novo milénio. Há ainda clones de clones significativos do Rat, incluindo o pedal de distorção LA Metal da Ibanez, o Landgraff Mo-D e o Caroline Wave Cannon. Quanto à nona versão do pedal, trata-se do mod da JHS.

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GODLYKE TAMURA-MOD TS808 | A Godlyke associou-se ao designer original do Tube Screamer, Susumu Tamura, para lançar uma série limitada do TS808 que promete soar como o «melhor Screamer Tube de todos os tempos». Na origem desta criação está a pesquisa. Tamura passou três anos a analisar «centenas de variantes TS808″ para identificar as unidades “de melhor som”. Descobriu que todos estes pedais utilizavam chips de uma marca e período de produção específicos», afirma a Godlyke. E são esses chips que são utilizados no Tamura-Mod TS808. Diz-se que os chips escolhidos contribuem fortemente para as características sónicas dos pedais, proporcionando «transparência, clareza e separação nota a nota de forma tão extraordinária que faz soar outras unidades como se estivessem a ser tocadas com um cobertor sobre uma coluna», de acordo com a marca. A razão para a produção de número limitado de pedais Tamura-Mod TS808 é a escassez desses chips na actualidade. O Tamura-Mod TS808 tem ajustes adicionais que o fazem soar ainda mais perto de uma unidade TS vintage. Notavelmente, incorpora díodos de silício NOS Toshiba – como se encontra em várias séries iniciais do TS808 – para maior calor e clareza. Mais info.

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EHX INTELLIGENT HARMONY MACHINE | Um harmonizador inteligente que permite aos músicos somar até duas vozes harmónicas ao seu sinal. Talvez seja “o pedal do ano”, da EHX é, certamente. O Electro-Harmonix Intelligent Harmony Machine possui um título bastante descritivo. O pedal pode funcionar nos modos Intelligent Harmony e Polyphonic Override e partilha algumas das mesmas tecnologias que os pedais Pitchfork e über clássico POG, também da marca. O modo Intelligent Harmony gera harmonias diatónicas precisas, tanto em escalas maiores como menores, a partir das melodias simples que forem tocadas. O modo Polyphonic Override faz com que o pedal se comporte como um pitch shifter com capacidades multi-voz. As opções de dupla harmonia surgem nas predefinições, o que significa que não é possível definir independentemente ambas as vozes. No entanto, a EHX fornece ampla escolha a este respeito, com seis predefinições adicionais escondidas como funções secundárias, perfazendo um total de nove predefinições dual-harmony. Outras funções incluem um modo momentâneo, que permite desactivar o efeito retirando o pé do switch, além de um modo sweep com controlo de tempo personalizado para fazer deslizar o sinal para o pitch desejado. Mais info.

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