“Monachopsis” é o explosivo registo de estreia dos Brain For The Masses. Um EP onde a banda demonstra, acima de tudo, um vigoroso e desenvolto sentido melódico e perfeito domínio das suas faculdades musicais.
Promovendo diversidade estética e versatilidade musical desde a sua incepção em 2012, os Brain For The Masses começaram por solidificar-se em concertos no submundo do metal, como que para depurar a sua sonoridade, após a primeiro demo tape (2014). Entraram em estúdio no final de 2019 para gravar o seu primeiro registo ‘oficial’, planeado para edição no ano seguinte. «O ano de 2020 chegou e com ele burburinhos de um novo vírus que estava a aterrorizar o oriente. Não muito tempo depois o mundo entrou em confinamento e subitamente estávamos em plena pandemia», referem em comunicado.
Apanhados completamente desprevenidos pela incerteza de uma situação sem precedentes, tal como tantas outras bandas, os Brain For The Masses decidiram adiar o lançamento do seu álbum de estreia. “Monachopsis” chegou no dia 23 de Novembro de 2022. Retirado do popular trabalho etimológico de John Koenig, o neologismo que dá o nome ao primeiro registo do quinteto foi criado como uma tentativa de definir emoções ainda sem termo próprio, traduzindo-se como «o sentimento subtil mas persistente de estar fora de sítio…» Um título alusivo a um sensação cada vez mais comum nos dias que correm. Algo que deambula livremente sem menção, escondido no silêncio das suas vítimas. Uma presença não moderna, mas modernizada pelas circunstâncias dos tempos atuais.
Desafiando-se criativamente a cada composição, a mutável sonoridade do quinteto resulta em uma alargada possibilidade expressiva, que o grupo usa para personalizar cada uma das suas malhas. De guitarradas violentas a suaves secções de teclado, a exploração de variados contextos musicais traduz-se numa diversificação de cores e texturas que Rui Monteiro (voz/guitarra), André “Goghy” Loureiro (baixo), Miguel Barbosa (guitarra), João Shepperd (bateria) e Francisco Gomes (synths) usam para dar vida ao som dos Brain For The Masses.
Gravados, mixados e masterizados nos Demigod Recordings, os cinco temas que preenchem o álbum apresentam-se como identidades distintas, fruto da natureza versátil dos Brain for the Masses. O groove metal da banda portuense reflecte-se em cinco composições distintas, intensificadas pela produção (super in your face) de Miguel Tereso num pujante misto de emoções que aborda as várias facetas e complexidades da condição humana.
A propulsividade frenética e a brutalidade das guitarras e voz não oferece quaisquer compromissos dinâmicos nos dois primeiros temas do EP, “Bleak” e “Retribution”. Depois, em “Seclusion”, ao longo de uns épicos quase sete minutos, os músicos demonstram notável exploração de intensidades, de justaposições semiacústicas e voragem de distorção, e desenvoltura vigorosa nas progressões melódicas. O mesmo podia ser dito de “Stay Aloat”, que encerra o disco, com o bónus de um emotivo e pertinente solo de guitarra neste tema.
De resto, essa capacidade criativa (na construção melódica) é bem espelhada ao longo de todo o EP, até na forma subtil como as sintetizações fazem preenchimento harmónico e nas grandiosas harmonizações corais – algo mais destacado em “To Be Alike”. Algo que certamente não incomodará gerações mais jovens, mas que um gajo old school não consegue deixar de mencionar, é a forma algo flat como, devido à força impenetrável dos triggers, as baterias acabam por soar (quando se faz a soma de toda a escuta). E, se o Miguel Tereso nos permitir, o som de pratos também é algo estéril.
Mas estes são aspectos que pouco ou nada beliscam o resultado final: “Monachopsis” é um belo disco, feito por músicos que estão ‘ligados’ entre si (por lapalissiano que pareça dizê-lo, isso nem sempre sucede) e que estão perfeitamente conscientes da sua capacidade musical. Assim resulta a verdade aristotélica, de que o todo é maior que a soma das partes.
Um pensamento sobre “Brain For The Masses, Monachopsis”