A estética congregadora e o prímevo pulsar rítmico dos Dead Can Dance, liderados pela perfeição vocal de Lisa Gerrard e Brendan Perry. Eis o nosso olhar sobre o concerto no Coliseu dos Recreios.
Chega-se ao pulsante coração do concerto da inalação de “Opium”. Depois, com a mente entorpecida somos acolhidos pelo calor uterino e eufónico de “Sanvean”. O silêncio é absoluto, como só uma diva poderia evocar. Depois de lisérgicos e embalados, caem as inibições (várias pessoas na plateia levantam-se para dançar) e somos confrontados com esses misteriosos rituais de morte e renascimento e loucura, com as síncopes rítmicas de “Dance Of The Bacchantes”, as psicoamantes dionisíacas e os seus rituais de abandono.
Eurípedes, de forma majestosa, assim os exalta na sua tragédia: «Ó venturoso, quem feliz conhece ritos de Deuses, consagra a vida e no tíaso põe a alma, é bacante nas montanhas em sacras purificações! Mistérios da grande mãe Cíbele são a lei, o tirso agita no alto, em hera coroado cultua Baco! Avante, Bacas, avante! Brômio, o Deus filho de Deus, Dioniso, trazei para casa, dos montes da Frígia às amplas ruas da Grécia, o Brômio! Teve-o a mãe em parto doloroso, à força, quando voaram trovões de Zeus, abortado do ventre o gerou enquanto deixava a vida golpeada pelo raio. Mas logo nos casulos do parto o acolheu Zeus Cronida — o ocultou na coxa — e com áureas fivelas o costurou às ocultas do olhar de Hera. Quando as Moiras definiram ele gerou o Deus de chifres táureos e com coroas de serpentes o coroou, daí que as Mênades entrançam feras víboras nos cabelos. Ó Tebas, onde Sêmele cresceu, Coroa-te de hera! Floresce, floresce, nas folhas verdes do frutífero teixo! Entrega-te a Baco nos ramos de carvalho e nos pinheiros, com peles rajadas de corça, coroa-te com fímbrias de alva lã e em volta das violentas férulas sacraliza-te! Logo a terra toda dançará, assim que Dioniso liderar os tíasos, monte acima, monte acima! Lá o bando das fêmeas espera longe da roca e do tear por Dioniso aguilhoadas!»
Fomos fazer reportagem do concerto para o big media, podem ler a totalidade do extenso artigo na Arte Sonora: AQUI. A foto de entrada é da Inês Barrau).
A setlist: Yulunga (Spirit Dance); Amnesia; Mesmerism; The Ubiquitous Mr. Lovegrove; Persian Love Song (The Silver Gun); In Power We Entrust the Love Advocated; Avatar; The Carnival Is Over; Cantara; Opium; Sanvean; Dance of the Bacchantes; Bylar; Black Sun; The Host of Seraphim; Children of the Sun; The Wind That Shakes the Barley; Severance