Fender Jaguar 60th Anniversary

O offset que Leo Fender entendia ser o seu topo de gama e que foi sempre olhado de forma marginal. A Jaguar celebra 60 anos em 2022 e a Fender está a celebrar com duas edições limitadas, incluindo a vanguardista versão American Ultra Luxe. Eis os specs destes modelos e dos originais, mais uma síntese histórica da icónica guitarra.

Hoje em dia assistimos a um hype com muitas bandas que surgem dentro de determinados parâmetros sonoros, como se estivesse agora a descobrir-se a pólvora. Se a Jaguar celebra 60 anos, esteve na base do surf rock dos anos 60, que viria a ser fonte de inspiração ao new wave dos 80s, sucedendo ao movimento punk, e fechou o círculo através do que chamamos alternativo, a junção do som de cidades como Seattle com Manchester, nos dias actuais. Mais que críticos, jornalistas ou opinion makers, são as guitarras que fazem o som do rock – a Jaguar, essa sim, foi sempre a pedra angular do alternativo.

Filha bastarda da Jazzmaster, a grande diferença foi a opção da Fender por um braço mais pequeno – 22 trastes distribuídos por uma escala em rosewood de 24’’. Ambas partilham o mesmo sistema de tremolo flutuante, que o próprio Leo Fender considerava superior ao sistema sincronizado da Stratocaster, uma vez que a ponte se movia com as cordas conforme a pressão ou descompressão do vibrato. Também o duplo circuito – para ritmo e lead – era partilhado com a Jazzmaster, mas pensado de uma forma ainda mais complexa com os switches on/off para os pickups e um terceiro como High Pass Filter que, quando activado, acrescentava frequências altas à guitarra e a permitiam furar mais através da banda, para a frente do som. Outra característica distinta da Jaguar era o sistema de mute integrado, que era activado por uma mola por baixo das cordas com o intuito de facilitar a vida a guitarristas que passavam muito tempo em riffs com as mãos a prenderem as cordas.

Curiosamente, a Jaguar faz parte duma família de guitarras que não é tão comum como se poderia pensar. São, não se diria escassos, mas poucos os modelos de guitarra solid body que possuam o sistema tailed bridge. Qual é a vantagem disto? É que a extensão de corda que fica activa para lá da ponte permite ainda uma ressonância considerável e isso dá espaço para palhetar aí [basta pensarmos num tema como “Bull In The Heather”, logo na abertura, dos Sonic Youth]. Portanto, para lá de ficar mais afastada do pickup da ponte, ganha outra zona de ação na corda, com uma tensão diferente. Isto além de que, mesmo em que o guitarrista esteja a executar na “zona normal”, a extensão de cordas que fica no corpo permite uma riqueza harmónica mais ampla e mesmo um efeito reverb natural devido à ressonância.

A Jaguar, tal como a Jazzmaster nunca teve a popularidade das Tele, Strat ou Les Paul e também por isso, em pleno new wave, quando os guitarristas pretendiam fugir à imagem dos grandes nomes do rock clássico e marcarem a sua própria posição a Jaguar era a “alternativa”. De facto, essa “impopularidade” fez a Jaguar órfã de modelos de assinatura até ter sido criada a réplica do modelo usado por Kurt Cobain e depois a assinatura de Johnny Marr. Da próxima vez que ouvirem alguém dizer que determinada banda que surgiu é “a cena” e que é “fora”, lembrem-me que já são contados 60 anos de música alternativa, 6 décadas de lendas com a Jaguar.

Pois bem, a Fender decidiu assinalar a efeméride atingida pelo offset mais incompreendido e vai lançar dois modelos distintos Jaguar na forma da 60th Anniversary Jaguar, que é uma reprodução fiel e especialmente luxuosa do design, e da 60th Anniversary American Ultra Luxe Jaguar, uma besta duplo-humbucker de 25,5″ e carregada de specs de ponta. Ambas as guitarras estarão disponíveis em números muito limitados a partir de Abril de 2022.

Disponível em Mystic Dakota Red e Mystic Lake Placid Blue, o modelo 60th Anniversary Jaguar tem matching headstock, incrustações de escala em blocos de perlados e um guarda-unhas tortoiseshell. O corpo em alder é unido a um braço no perfil “C” da década de 60 e de escala curta (24″) em rosewood, com raio de 7,25″. Há detalhes de correcção cronológica como os afinadores ‘F’ e o sistema tremolo Jaguar, com o referido mute de cordas ajustável. Na electrónica há dois single-coils criados para este modelo específico, controlados com o complexo circuito lead/ritmo e com o switch de carácter de frequências. Os apontamentos da edição limitada incluem a neckplate gravada com o logótipo do 60º aniversário, que também está bordado dentro do estojo rígido que acompanha a guitarra.

No seu lançamento em 1962, a Jaguar era considerado o modelo offset topo de gama da Fender. Portanto, a marca também preparou um avançadíssimo modelo para a sua gama de elite, o 60th Anniversary American Ultra Luxe Jaguar. A forma do corpo e a estética cromada espelham o original, mas esta guitarra é uma Jaguar apenas no nome. Para começar, possui uma escala de 25,5″ de comprimento, em vez das habituais 24″, que está moldada ao perfil “D” dos braços da gama Ultra Luxe. A escala, em ébano, tem raio composto (10-14″), 22 trastes de aço inoxidável de tamanho médio-jumbo e arestas ultra-retraídas. Depois há dois humbuckers Custom Double Tap, com um «avançadas opções de circuito», promete a Fender sem detalhes. Talvez os dois sliders sejam divisores de bobinas de cada humbucker.

De resto, há uma ponte estilo Adjusto-Matic e de configuração string-through-body, em vez do tremolo dos modelos originais, alguns ajustes nos contornos do corpo, além de afinadores de bloqueio e uma pestana TUSQ. A 60th Anniversary American Ultra Luxe Jaguar só está disponível no acabamento Texas Tea.

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