Em “Every Red Heart Fades To Black” (2017), o seu segundo álbum, os Redemptus já não eram apenas um projecto, mas uma excelente banda.
Já aqui o enquadrámos com os outros dois discos da discografia dos Redemptus e, de resto, o mais recente foi um dos discos que elegemos nos nossos preferidos de 2021. Todavia, o nosso preferido permanece o seu segundo trabalho (deixamos de parte o split com Basalt, que teve edição limitada em vinil de 12” em 2017). No texto de apresentação que acompanhava o álbum “Every Red Heart Fades To Black” eram referidos os nomes de Zozobra, Old Man Gloom, Converge, Cursed ou Isis como bases musicais de onde a banda extrai as suas influências.
Influências abertamente assumidas, portanto, e expostas claramente num tema como “Peered Into Everyone’s Fate”. Afinal de contas, o crossover entre o doom e o hardcore transporta sempre elementos invariáveis. Raiva nas linhas vocais e baterias, densidade colossal de fuzz nos baixos e guitarras, parede de amplificação ou, simplesmente, peso.
Contudo, neste segundo álbum, a banda passou a exibir as cicatrizes adquiridas pelo baixista/vocalista Paulo Rui à frente dos portugueses Besta e, principalmente, do tempo passado com os franceses Verdun. Num tema como o que abre o disco, “In A Deep Hole”, está bem demarcada a rudeza da vaga francesa que cruza o post-metal com o sludge. Mas para lá das fontes de onde a banda sorve o seu negrume, os Redemptus destacam-se por, tal como no álbum “We All Die The Same”, serem capazes de conjugar peso e riffs memoráveis, como tão bem demonstram, por exemplo, no orelhudo tema “Unravelling The Garden Of All Forking Paths”.
Com a novidade de a cadência rítmica dos temas apresentar um groove incomparavelmente maior, em detrimento dos temas mais ortodoxos e com recurso a pausas e acentuações de bordão como sucedia no primeiro álbum. O trabalho de captação, mistura e masterização de Daniel Valente, no estúdio Caos Armado, é outra mais-valia neste trabalho. A armadura de amplificação que reveste o álbum está bem polida, sem estar decorada por plumas desnecessárias. Talvez devido à vivacidade da tarola e pratos, o som apresenta um bem conseguido brilho dinâmico sobre a força bruta das guitarras.
Os elementos dramáticos (excessivamente presentes no primeiro disco) estão mais doseados, tornando-se cativantes no tema avant-garde “At The Altars Of Competition” que, ao lado da verdadeiramente extraordinária composição que é “Across This Ocean Of Grief And Beyond”, se revela o pungente coração do álbum. Os músicos revelam maior coesão e capacidade de execução – o baterista Marco Martins chega mesmo a ser exuberante em “Pile Of Papers” – num álbum em que, por mais que haja espaço para evolução, os Redemptus já não eram apenas um projecto, mas uma verdadeira banda.
“Every Red Heart Fades To Black” foi editado a 17 de Novembro de 2017, com o selo da Raging Planet.