Este Ano Vou a Barroselas Ver…

Tendo frequentado a larga maioria das 22 edições anteriores do SWR Barroselas Metalfest, como músico, repórter ou/e, simplesmente, como fã, a ausência de dois anos, imposta pela pandemia, tem sido difícil de suportar. A espera está a terminar e os concertos de eleição estão já definidos…

Vamos lá ver, 2022 marca 25 anos sobre a primeira edição do SWR – BARROSELAS METALFEST e será, na realidade, a 23ª edição do evento. Pelas razões já apontadas será uma edição mais reduzida, apropriadamente apelidada SWR FEAST. Nesta altura, as condicionantes são ainda muitas, particularmente financeiras e os passos a dar são curtos, para não comprometerem o futuro. Por tudo isso, a edição deste ano apenas inclui dezasseis bandas, divididas por dois dias e o mesmo número de palcos. 29 e 30 de Abril são as datas marcadas para o festival.

Como cabeças-de-cartaz mantêm-se os norte-americanos Autopsy, naquela que será a primeira visita das lendas do death metal ao nosso país. É uma excelente notícia para aqueles que tinham comprado os seus bilhetes a pensar na primeira edição a ser afectada pela pandemia. Ainda mal nos tínhamos refeito da edição de 2019 e os Autopsy eram confirmados na edição de 2020. Formados pelo baterista e vocalista Chris Reifert (ex-Death) em 1987, os Autopsy começaram a sua discografia com “Severed Survival” algo colados ao som da banda liderada pelo saudoso Chuck Schuldiner. A coerência da sua carreira foi elevando o seu estatuto até se tornarem uma das bandas mais influentes do death metal. O último LP da banda foi “Tourniquets, Hacksaws & Graves”. O mais recente registo da grupo é o EP “Puncturing The Grotesque”, de 2018. Em 2021, a banda anunciou o novo baixista, Greg Wilkinson, que veio substituir Joe Trevisano.

O cartaz mais compacto do SWR FEAST pouco altera a minha perspectiva. Fossem mais 50 bandas e os Autopsy seriam a que mais desejaria ver. Muito por culpa do seu segundo álbum. Editado em 1991 pela Peaceville, descobri “Mental Funeral” depois de ter mergulhado no catálogo da lendária label britânica à boleia dos registos do triunvirato do doom metal britânico, os Paradise Lost, os Anathema e os My Dying Bride. Discos como “Gothic”, “Serenades” e “Turn Loose The Swans”, respectivamente, permanecem gravados a fogo entre os meus preferidos de sempre. Além da estética, é algo geracional, creio. “Mental Funeral” surge nesse encadeamento. Muito mais que sucede no primeiro, neste registo a banda abrandou os bpms e acrescentou imenso groove aos seus riffs. Se o juntarmos aos discos das outras bandas que referi, é como se estivessemos diante o “missing link” entre o death metal e o doom metal, antes do grupo ter optado por navegar os mares conflituosos do grindcore com o disco seguinte “Acts Of The Unspeakable”. E esse é outro motivo para este posicionamento devocional: os Autopsy sempre revelaram enorme classe de execução em qualquer forma de expressão estética. O facto de, à parte do baixista, que mudou amiúde ao longo destas já quase quatro décadas, Reifert vir com a dinâmica dupla de shredders que é composta por Eric Cutler e Danny Coralles, só aumenta a expectativa. O facto de serem menos bandas este ano até pode ajudar em algo que tem melhorado exponencialmente a cada edição do festival: que o som esteja na batata – à atenção do Sr. Pedro Grave.

Os Sijjin são outro dos nomes obrigatórios. Não sei o que esperar ao vivo da banda, que só no seguimento do seu anúncio no cartaz fui procurar conhecer. Nascido nas cinzas dos Necros Christos, este power trio germânico começou por estrear em 2019 uma demo ainda bastante colada a esse espectro do black metal. Sucede que no seu primeiro álbum, “Sumerian Promises”, a banda aumenta a velocidade de execução e mistura death metal com thrash, conseguindo criar alguma densidade atmosférica e riffs orelhudos, bons solos de guitarra e fúria de sobra para que qualquer fã da era 90-95 dos Morbid Angel se sinta em casa ao ouvi-los.

Estávamos no início de 2020 e ainda escrevia para outra publicação, para a qual elegi “Eterno Rancor” como um dos melhores álbuns nacionais de 2019. Entretanto deu-se o caos, e a oportunidade de tornar a vê-lo executado ao vivo sumiu-se. Implacável, a ferocidade de Besta é alimentada por um tremendo savoir faire do line-up. A coesão da banda advém da bastardia de um certo balanço death ‘n’ roll dos We Are The Damned e violência sanguinária do frontman Paulo Rui. Demência, horror e… punk, é o que nos é oferecido a cada álbum. Torna-se distinto este disco por cristalizar uma progressivamente crescente consciência social que o grindcore da banda foi desenvolvendo nos últimos anos. Sonicamente, este álbum prossegue uma estética apegada aos padrões do género no final dos anos 80, sem grandes compromissos na atitude. É old-school, revestido de algum caparro extra de low end. Ou seja, groove à bruta no que respeita ao som e ao vigor de execução da banda, na qual se destaca o dinamismo instrumental e o facto da voz não ser uma espécie de one trick poney. É uma pena o malandro do Gaza ter saído da formação entretanto, mas vai ser bom rever estes patifes.

Os Simbiose são outro nome de enorme tradição no submundo do peso português e um cheirinho a crust sabe sempre bem e espero que a brutalidade regresse de forma triunfante. O quinteto que dispõe de um currículo invejável, onde estão arquivadas mais de três décadas de actividade, já se transformou numa autêntica instituição do crust/metal/punk nacional. Aliás, em 2017, esse estatuto valeu-lhes um álbum tributo editado pela Raging Planet. É obra. Eu ando por aqui com mais uma década em cima que os Simbiose e nunca tive direito a ser tributado com um álbum! Mais a sério, espero um setlist a alternar entre temas novos e velhas preciosidades. Alcoholocaust, Equaleft, Midnight Priest, Boulder, Grievance, Filii Nigrantium Infernalium e Speedemon completam o cartaz.

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