Directas ao assunto, compactas e dinâmicas. No final de 2015, as Revstar deixaram uma mensagem bem clara: a Yamaha estava a partir a loiça toda. Rodar o modelo RS720 com Bigsby foi um privilégio.
Surgida no final de 2015, apresentada em grande estilo na NAMM 2016, a gama de guitarras eléctricas Revstar introduziu um novo conceito de design, naquilo que foi a maior actualização à forma clássica do corpo de guitarra Yamaha em mais de uma década. O novo design foi o culminar de três anos de desenvolvimento que, como é hábito na marca, incorporou informação de múltiplas entrevistas e opiniões de artistas profissionais, profissionais da indústria musical e amantes da guitarra em Londres (acreditem ou não, este que vos escreve esteve dois dias na capital britânica, ao lado de outros músicos europeus nessa workshops), Los Angeles e Tóquio. O conceito abraçava aquele visual clássico e simplificado das personalizadas motorizadas Café Racer, populares na Londres dos anos 60. A gama estreou-se com oito modelos.
O modelo topo de gama a RSP20CR, feito no Japão, adere totalmente ao conceito Café Racer. Os pickguards de cobre desgastam-se ao longo do tempo que a guitarra é tocada, criando um visual único para cada músico. A singular tecnologia Initial Response Acceleration (I.R.A. – Resposta Inicial Acelerada) da Yamaha permite um som amadurecido e acção facilitada desde o primeiro dia. Como principais características, as fontes oficiais da marca destacavam uma construção de braço fixo e pickups exclusivamente projectados para a gama Revstar, para produzir um som prenchido e brilhante. A Yamaha criou os novos pickups para atingir a melhor performance em cada modelo, testanto mais de 50 protótipos para definir as melhores combinações de fios, bobines, magnetismo e armação. A RS420 e os modelos de topo de gama estavam equipados com o singular e útil Dry Switch, que a Yamaha explicava da seguinte forma: «Desenhado especificamente para as Revstar, permite a versatilidade de um coil split com um som que vai muito além disso. Usando um filtro de circuito passivo desenhado minuciosamente para obter resposta de frequências perfeita, o Dry Switch filtra as frequências graves para conseguir o ataque e clareza de um pickup single coil sem o inevitável ruído e vazio sonoro tantas vezes associado à divisão de pickups humbuckers. E como é um filtro de circuito, o Dry Switch funciona tanto nos humbuckers como P90s para um som útil e singular».
Outra tecnologia inovadora foi a IRA (Initial Response Acceleration). A Yamaha tomou em consideração algo meio místico, meio físico e explica: «Após anos a tocar na mesma guitarra, esta adapta-se ao estilo do guitarrista. Leva tempo para que uma nova guitarra se adapte ao seu jeito de tocar. A tensão entre acabamentos, madeiras, corpo, braço, escala, nut, ponte, etc., deve ser liberta antes de todos os componentes poderem ressoar conjuntamente como um instrumento. Leva tempo e muitas horas a tocar para que isto aconteça. Usando a tecnologia IRA, a tensão como aquela entre acabamento e madeira é liberta pela aplicação de vibrações específicas às guitarras já construídas. Assim que este tratamento está completo, a guitarra responde com precisão à prestação do guitarrista e produz som com maior facilidade. Também reduz o tempo necessário para que a guitarra se adapte ao seu estilo de tocar».

As novas Revstar deixam uma mensagem bem clara: a Yamaha pretende partir a loiça toda. Estas guitarras são resultado da maior actualização à forma clássica do corpo de guitarra Yamaha em mais de uma década, após três anos de intensos estudos e desenvolvimento. As Revstar apresentam mudanças no design do corpo e braço, inspiração vintage nos pickups e inovações tecnológicas como o Dry Switch e o tratamento Initial Response Acceleration. Simples, compactas, dinâmicas e versáteis. Cada um dos modelos, que tresandam a um vibe boutique, foi projectado para ter a sua própria personalidade, em vez de soarem a versões de menor qualidade enquanto se desce a hierarquia da gama.
Já em 2022, a marca aproveitou para racionalizar a gama, adoptando um modo de produção em tudo semelhante ao escalonamento que vemos nos gigantes Fender e Gibson. Mas no final de 2015, tivemos a oportunidade de rodar o modelo RS720B, singular, desde logo, por ser a única guitarra Revstar com vibrato. Era também um dos modelos cimeiros da gama e via em si concretizadas todas as promessas da marca. A RS720B apresenta um visual exótico e atraente, numa construção com um equilíbrio extraordinário. O corpo, com tampo flamed maple, é em mogno, tal como o braço que acolhe num design set-neck. A escala é rosewood, com 22 trastes jumbo numa extensão de 24 3/4” e um raio de 13 3/4”. Na ponte deste modelo Revstar específico, conjugado com o sistema tune-o-matic, destaca-se um Bigsby B50. O circuito possui os VT5+, um par de pickups especificamente criados pela Yamaha, inspirados nas unidades Tron vintage, que são controlados por um comutador de três posições, por um potenciómetro de volume e um potenciómetro de tone (que possui ainda a função Dry Switch, num sistema push-pull).
Crer que um processo tecnológico fosse realmente capaz de imitar algo meio místico, como é a transdução entre músico e instrumento, era motivo para cepticismo.
A tecnologia IRA (Initial Response Acceleration) pretende imitar e acelerar o conforto e a relação dinâmica entre guitarra e guitarrista. Para evitar os anos e horas que a tensão entre acabamentos, madeiras, corpo, braço, escala, nut, ponte, etc., leva a libertar-se, a IRA é um processo que consiste em aplicar vibrações às guitarras já construídas, acelerando a sua precisão de resposta, calibrando a sua acção e “desformatando” o seu som. Os resultados do tratamento são analisados antes dos instrumentos abandonarem a fábrica. Crer que um processo tecnológico fosse realmente capaz de imitar algo meio místico, como é a transdução entre músico e instrumento, era motivo para cepticismo. Isto para dizer que, das duas, uma. Ou a construção desta guitarra raia a perfeição ou a tecnologia IRA (Initial Response Acceleration) tem um desempenho assombroso.
A RS720B tem uma acção suave, de sensibilidade indescritível, e excelente equilíbrio na construção, na relação de peso entre o braço e corpo em mogno, madeira leve, mais espesso que no design SG, do qual é reminiscente. Por essa maior espessura e devido ao set-neck, a RS720B tem uma boa vibração e é capaz de um preenchido e longo sustain. A curva dos heels permite um acesso completamente desobstruído à zona mais aguda da escala, com os trastes jumbo a garantir um controlo descontraído das notas. O próprio braço, a sua dimensão compacta, não exige esforço da mão a percorrê-lo, a fazer harmónicos “artificiais” ou nos bendings – que se puxam e seguram de forma natural, mesmo nos mais pronunciados, sem consequências na afinação. Factor também respeitado pelo vibrato. Aliás, a adjectivação usada até aqui pode ser aplicada ao Bigsby, cuja acção é tão suave quanto alargada. Toda a guitarra transmite uma sensação de conforto.
Os pickups VT5+ foram, segundo a Yamaha, exclusivamente projectados para este modelo. Verdade ou não, as unidades tipo Tron vintage possuem um som que parece totalmente ajustado à guitarra. Aliás, não será inocente que este modelo tenha um Bigsby e os seus pickups se inspirem nos Filter’Tron – os clássicos humbuckers que a Gretsch desenvolveu no final da década de 50. Os VT5+ parecem ser auto-descritivos, com as duas letras a fazer referência “Vintage Tron”, com o número 5 a indicar a década de 50 e o sinal “+” a significar que estes modelos têm mais sumo. O resultado é um som que reduz a distância entre os P-90 e humbuckers, conseguindo aproximar-se do calor dos P-90 e terem densidade para rugir ao lado de humbuckers. Características potenciadas pelo engenhoso Dry Switch, que permite a versatilidade de um coil split. Usando um filtro de circuito passivo nas frequências graves, para conseguir o ataque e clareza de um pickup single coil. A acção é sublime e será mais notória em amps e colunas de maior potência (que não foi, de todo, o caso do nosso teste).
A RS720B revelou-se um daqueles instrumentos que, pela qualidade de construção e conforto que oferece, permitem ao músico tocar mais instintivamente, com maior agilidade e confiança. É um guitarrão! Uma das melhores guitarras em que já peguei e que, na altura, rodei para escrever este artigo, originalmente publicado no #51 da extinta versão digital da AS.