Olhamos o equipamento, simples, mas bastante raro, que o guitarrista de EyeHateGod usa preferencialmente. Os amps são uma “herança” de Dimebag Darrell e dos Pantera.
A banda norte-americana já passou um par de vezes em Portugal, como no Milhões de Festa, num dos últimos concertos do malogrado baterista Joey LaCaze (viria a falecer em Agosto de 2013). E em 2015, a banda liderada por Mike Williams e com a gigantesca parede de guitarras da dupla Jimmy Bower e Brian Patton, passou em Lisboa pela primeira vez, na última data de uma tour e única na Península Ibérica. Os EyeHateGod traziam o seu álbum homónimo, editado em 2014, e o primeiro da banda em cerca de 15 anos, e o novo baterista, Aaron Hill. E, claro, na bagagem era transportada uma já longa carreira dedicada ao sludge, sendo a banda de Nova Orleães uma das pioneiras do género.
«Black Metal from the ghetto, diz Mike Williams, que parece uma versão mais estranha de um Ozzy Osbourne. Os EyeHateGod são sujos, na palavra e no som. A distorção é fuzzy, entre cada música soa um infernal feedback, não há cá noise reduction para ninguém: quando a misantropia é o mote, ninguém quer saber de virtuosismos ou detalhes técnicos. Desleixe punk, cigarro na boca, leve desarmonia de execução e segue a viagem de riffs lentos», dizia o Pedro Almeida na observação ao concerto no Milhões em 2013.
Quanto a esse concerto em Lisboa, vale a pena recordar a noite. Ainda Mike Williams não tinha subido ao palco, a banda ia fazendo o line check, e a capital já estava a ouvir uma das mais genuínas manifestações artísticas dos últimos anos. De facto, as escassas notas de Jimmy Bower [que acabou por usar Ampeg] na Gibson Sonex 180, que veio também com ambos os pickups montados, e as brincadeiras com Brian Patton, que foi arriscando, inclusivamente, alguns dos riffs clássicos de “Master Or Reality”, soavam a promessas de um concerto memorável, de uma banda única.
Então, Mike Williams surgiu em palco, a protestar com o suporte do microfone, nervoso… Ainda sem o “chuto” se ter instalado, isso sucederia por altura de “New Orleans Is The New Vietnam” e duraria bem até final do concerto. É ainda mais surpreendente se nos recordarmos que a setlist, a percorrer de forma inatacável a discografia da banda, durou aproximadamente uma hora e quarenta minutos! Williams lembrava a postura de Layne Staley, nas suas últimas aparições. E temos aquela sensação de que cada concerto poderá ser o último. Não se pretende aqui fazer qualquer eulogia a narcóticos mas, simplesmente, há coisas que não se fingem. Quando Williams diz, laconicamente, «We are all gonna die. We’re all gonna die together», a esperança desaparece dos ossos e a fatalidade imutável instala-se como vizinha. Cheio de veneno, Williams mete no lugar aquela mariquice de apupar o artista que diz “gracias”, em vez de “obrigado”, clamando: «Enough bitches! Sorry I can’t speak every fucking language in the world».
O novo álbum homónimo, editado no ano anterior, esteve naturalmente presente. Aliás, “Agitation! Propaganda!” teve honras de abertura e “Parish Motel Sickness” e “Medicine Noose” ombrearam com “Jackass In The Will Of God” e “Take As Needed For Pain”, como pontos mais altos da noite. A banda pode ter estado de rastos e Jimmy Bower teve mesmo que, a meio do concerto, actuar meio sentado em cima da coluna, cheio de dores de costas, mas o som que aquelas quatro cordas produzem seria capaz de criar ondas sísmicas mesmo com o guitarrista morto! A decadência amarga e imponente dos Eyehategod é crua, autêntica e possui a glória impetuosa do momento.
Na verdade, houve apenas um aspecto algo negativo, dir-se-ia mesmo criminoso: o pouco volume do PA. É também justo dizer que, ainda que não estivesse tão alto quanto devia estar, a mistura estava próxima da perfeição. Isso não impede o miraculoso som de Patton. Incrível, como aquele Ampeg SS-150, escavacado, com o logo de Soilent Green, soa sozinho. Será justo dizer que a dupla rítmica, constituída por Aaron Hill e Gary Mader, na bateria e baixo respectivamente, manteve durante todo o concerto uma dinâmica colossal. Algo essencial a malhões como “White Nigger” ou “Peace Thru War (Thru Peace And War)”.

O som de guitarra de Jimmy Bower é qualquer coisa. Nos dicionários, à frente de sludge, devia surgir – «o som de guitarra de Jimmy Bower»! O guitarrista já se mostrou em portugal com um Ampeg SS-70, mas nos últimos anos tem usado, preferencialmente, cabeças Randall RG100. Dois modelos RG100 a sair para colunas Mesa Rectifier Standard Slant 4×12, com speakers Celestion Vintage 30.
O Randall RG100 será mais famoso por ser um elemento chave no som de Dimebag Darrell em vários álbuns de Pantera. Actualmente, é uma raridade. A marca parou a sua produção ainda nos anos 80. O RG100 é um solid state de 150 watts RMS. A maioria das opiniões, que se encontram na net (nunca testámos um), afirma que o amp é uma besta de distorção, mas completamente inútil no canal Clean. Algo peculiar é que ambos os canais soam ao mesmo tempo. Brian Patton colide com os Randall de Bower através, geralmente, de um Ampeg SS-150.

Na guitarra, Bower usa uma Gibson Sonex 180. As Sonex são outra raridade. A Gibson lançou esta linha de modelos nos anos 80, como uma nova gama de entrada, bem económica. São construídas com um material chamado Resonwood, num corpo de design multi-phonic. Basicamente, o Resonwood é uma “cobertura” que envolve um bloco de madeira, normalmente mogno, criando a sua ressonância acústica e servindo ainda de contra-peso ao braço (composto por três peças de maple). O circuito é um comutador de três posições e os humbuckers originais eram os Dirty Fingers ou Velvet Brick.
A ponte é tune-o-matic, com tailpiece fixa. Bower apenas usa as 4 cordas mais graves. O guitarrista também usa apena o humbucker da ponte, tendo removido o do braço. O modelo é um Lace Finger Burner. Outra guitarra que usa frequentemente é uma Custom DTM (talvez seja mesmo a que usa mais vezes). Nesse modelo os pickups são o Rio Grande Genuine Texas, no braço, e o Rio Grande Barbeque Bucker, na ponte. Também com as 4 cordas mais graves apenas.

A foto que abre o artigo é do John Batista.
2 pensamentos sobre “A Podridão Sónica de Jimmy Bower nos EyeHateGod”