Bad Religion, Age Of Unreason

Em “Age Of Unreason” os Bad Religion trouxeram novidades de forma extremamente subtil ao seu som clássico. O 17º álbum da banda é uma entrada extremamente pertinente na discografia de um dos maiores nomes na história do punk rock.

Os Bad Religion são uma das maiores instituições do punk rock mundial, uma peça chave para entender o género, nos dias de hoje, na sua vertente lírica e instrumental. A celebrada banda de LA lançou o álbum “Age Of Unreason”, no 03 de Maio de 2019, através da Epitaph Records. Desde sempre arautos de conceitos como o humanismo e a razão, a sua mensagem nesta era ganha uma nova relevância. “Age Of Unreason” reflecte sobre a actualidade política, a nível global e individual. Nas canções há referência a acontecimentos contemporâneos como o racismo crescente, a polémica presidência de Trump, a erosão da classe média, o protesto de Colin Kaepernick, fake news e factos alternativos ou teorias da conspiração. Há também homenagens a obras literárias e filosóficas que há muito inspiram a banda.

O guitarrista Brett Gurewitz, também owner da Epitaph, afirmou sobre o álbum: «Hoje, estes valores de verdade, liberdade, igualidade, tolerância e saber enfrentam um perigo real. Este disco é a nossa resposta». Como refere Greg Graffin, o frontman da banda, licenciado em História da Ciência, a propósito do 17º álbum: «Ao ver todas estas manchetes sobre o quão horrível se está a tornar o mundo, comecei a ler bastante. Li sobre a Revolução francesa e a Revolução norte-americana, sobre a Guerra Civil norte-americana, e fui reconhecendo que isto é um padrão histórico e algo que devíamos recusar. Há múltiplos avisos contra isso. Cada criança na escola devia sabê-lo, mas é difícil fazer com que as pessoas leiam sobre estes assuntos. Talvez este álbum possa ajudar. Porque, neste momento, com as redes sociais, estamos apenas a jogar uma versão de matar o tipo que segura a bola».

Estes valores de verdade, liberdade, igualidade, tolerância e saber enfrentam um perigo real. Este disco é a nossa resposta.

Brett Gurewitz

O disco é um aviso e um testemunho de resiliência, cuja mensagem exorta à procura da verdade do mundo e do indivíduo. “Age Of Unreason” foi co-produzido pela banda e por Carlos de la Garza. E, para lá da sua forte carga política, é um álbum que mantém intactos e sublimados todos os pressupostos sónicos dos Bad Religion. Com um som super compacto na mistura de todos os instrumentos; uma tremenda parede de médios, com uma dinâmica vibrante nos ritmos e solos, com o som sempre a furar; prestação veloz e feroz da bateria (Jamie Miller); a forma como tudo soa em torno na simplicidade do canto de Graffin, na verdade uma espécie de one-trick-poney vocal, mas com espaço para a entoação lírica de forma clara.

A busca por refrescar a estética sonora é muito súbtil, talvez mais superlativa nas linhas de guitarra. A sua capacidade de criatividade melódica, quase pop rock, permanece intacta, mas há mais shred. Como se escuta claramente nessa malhão rocker que é “Old Regime”. Há também abertura a um som mais dançável, como nos mostra “Big Black Dog” ou “Lose Your Head”, tema que contém também uma certa brisa surf rock, que surge mais declarada em “Downfall”. E o que dizer do sentido folk de “Candidate”?

Repita-se que tudo isto está demarcado de forma bastante atenuada, para não chocar uma legião de fãs que idolatra as idiossincrasias dos Bad Religion, mas é louvável perceber que a banda não se limita a debitar preguiçosamente uma fórmula de eficácia comprovada. Para petardos de “punkalhada” como deve ser, há canções como “Chaos From Within”, “Do The Paranoid Style”, “The Approach” ou “Faces Of Grief”, esta última para meter em loop ao lado de “End Of History” e “Old Regime”.

Um pensamento sobre “Bad Religion, Age Of Unreason

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