Bernardo Moreira, A Devoção ao Génio de Carlos Paredes

O contrabaixista Bernardo Moreira juntou João Moreira (trompete), Tomás Marques (saxofone), Ricardo J. Dias (piano), Mário Delgado (guitarra) e Joel Silva (bateria) e escreveu “Entre Paredes”, uma obra dedicada ao mestre Carlos Paredes.

Quase vinte anos depois de “Ao Paredes Confesso” (2002), o contrabaixista Bernardo Moreira editou em Maio de 2021 o álbum “Entre Paredes”, que o músico descreve como uma conclusão sobre a sua própria experiência enquanto ouvinte da obra do guitarrista Carlos Paredes. E, se o primeiro disco tinha incursões pela música popular e pelo fado de Coimbra, neste segundo tomo, Bernardo Moreira, que toca actualmente com a cantora Cristina Branco, pisa os terrenos do jazz, conforme explicou à agência Lusa: «Comecei a sentir que a minha maneira de ouvir o Carlos Paredes tinha mudado. A minha vontade era escolher músicos com experiências também na música popular portuguesa e o nosso esforço era ir ao encontro do Carlos Paredes em vez de obrigar o Carlos Paredes a vir ter, na altura, com um sexteto de jazz. Acho que este disco é muito diferente do outro, porque tem esse caminho inverso em que somos nós que vamos para esse território».

Para este álbum, que levou três anos a concretizar, Bernardo Moreira contou com os músicos João Moreira (trompete), Tomás Marques (saxofone), Ricardo J. Dias (piano), Mário Delgado (guitarra) e Joel Silva (bateria). Entre a escuta renovada dos temas do mestre, o trabalho de apropriação e a composição, a gravação foi sendo adiada por causa da pandemia da COVID-19 e só aconteceu em Novembro passado, no Convento São Francisco, em Coimbra. A cidade dos estudantes, onde o contrabaixista tem ligações familiares, e onde Carlos Paredes nasceu a 14 de Fevereiro de 1925, está também impregnada no novo disco. «É todo o universo da música portuguesa que me interessa particularmente. Há uma componente de Coimbra que só quem conhece bem a música de Coimbra e a cidade é que percebe um bocadinho que aquilo é tudo o mesmo universo, com manifestações diferentes. São as serenatas, o ambiente. Foi tentar fazer uma celebração da música que nos está no sangue».

Moreira continua: «Falar de Carlos Paredes é, para mim, muito mais do que falar de um músico genial, é falar de alguém que teve um impacto enorme no meu percurso enquanto músico. A descoberta da sua obra levou-me, há 18 anos, a editar um disco ao qual chamei “Ao Paredes Confesso”, onde me propus dialogar com ele, através de algumas das suas maravilhosas e eternas melodias. Passados estes anos, percebo o efeito que tudo isto teve em mim, levando-me a explorar universos que eu pensava estarem tão distantes do meu mas que, na verdade, se tocam formando, na realidade, um só. Senti uma vontade inesperada de celebrar tantas viagens entre o Jazz, o Fado, a Canção e o Fado de Coimbra e talvez por tudo isto me sinta Entre Paredes».

O álbum conta com temas como “António Marinheiro”, “Serenata do Tejo” e “Mudar de Vida”, aos quais juntou “A Morte Saiu à Rua”, de José Afonso, e “Verdes Anos”, uma interpretação que Bernardo Moreira idealizou para o primeiro disco “Ao Paredes Confesso”, de 2002, e recebeu um arranjo novo para este “Entre Paredes”.

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