Tornando a reunir músicos portugueses e norte-americanos, João Lencastre mostra em “Unlimited Dreams” o seu trabalho mais ambicioso até à data, numa fusão tão surpreendente quanto natural de jazz, metal, música clássica, electrónica e afrobeat.
A Communion de João Lencastre tornou-se, pela primeira vez, um octeto baseado em Lisboa (Ricardo Toscano, André Fernandes, Pedro Branco, João Hasselberg e Nelson Cascais), liderado pelo baterista português, e com a presença dos norte-americanos Albert Cirera e Benny Lackner. Portanto, dois saxofones, duas guitarras eléctricas, dois baixos (um acústico e um eléctrico), o piano e a bateria. Tudo gravado por André Tavares (que também misturou e masterizou) nos super estúdios Atlântico Blue, nos dias 19 e 20 de Maio de 2021.
Partindo das suas composições ao piano, Lencastre explora ainda, a gosto e sem amarras, várias soluções electrónicas. Em “Unlimited Dreams”, apesar da profusão de notas, as bases harmónicas são bastante sólidas e essa fundação sónica, muito bem arrumada, permite ao ouvinte sequenciar bem aquilo que lhe é apresentado. A estética de produção remete-nos para a fusão britânica da década de 70, com imenso calor da amplificação – quase no mítico brown sound – e algum psicadelismo. A envolvência sonora do disco, e a forma como transborda para as composições, será a sua grande característica. Os saxofones alto e tenor infiltram-se lenta e firmemente na escuta, embalados pelas letárgicas linhas em que baixos acústicos e eléctricos surgem misturados.
Os grandes momentos são “Insomnia”; a abrasiva “Mitote” – aí se nota mais o poder das guitarras de André Fernandes e de Pedro Branco; “No Filter”; e a titânica “Unlimited Dreams” – a jóia da coroa a fechar, em superabundância de groove, este tremendo disco.