Ao fim de uma carreira tão prolífica, não é fácil determinar o gear que Mark Lanegan usou, até porque o músico era, predominantemente, vocalista. Todavia, para escrever e gravar “Somebody’s Knocking” e obter a sua sonoridade aproximada aos Joy Division, o músico rodeou-se de alguns instrumentos clássicos da Yamaha.
Depois de onze dias em estúdio, em Los Angeles, sob o comando de Alain Johannes, o 11º álbum a solo de Mark Lanegan foi editado a 18 de Outubro de 2019, via Heavenly Recording/PIAS. “Somebody’s Knocking” demarca-se da restante discografia de Lanegan pela mestria que revela no recurso a sintetizações. Estas, as que ficaram registadas foram maioritariamente assumidas por Johannes, mas contaram também com algum trabalho de Rob Marshall e Sietse van Gorkom, que dividiram entre si e Johannes o grosso da instrumentação do disco, multiplicando-se os três entre guitarras, programações de bateria (as baterias tradicionais são responsabilidade de Tom Nieuwenhuijs), piano e baixo. Gorkom emprestou ainda as suas capacidades no Mellotron e outros órgãos.
Na versão final do trabalho, Lanegan ficou exclusivamente registado nas vozes, mas nos trabalhos de pré-produção teve um laborioso trabalho na definição da instrumentação. E se não é fácil descodificar o equipamento que Lanegan tem usado ao longo da carreira, nessa ocasião o falecido músico levantou um pouco a ponta do véu, partilhando fotografias com o equipamento que estava usar, especificamente as unidades Yamaha que estava a explorar em estúdio. Se pensarmos que “Somebody’s Knocking” retira muita da sua inspiração aos Joy Division e à cena de Manchester na década de 80, não admira que seja possível ver um Yamaha BB-1200, uma FG-335 e o synth SK10.
Para muitos são os baixos mais competentes que existem e daí os modelos BB (sigla para Broad Bass) são quase indistintos de alguns dos maiores nomes do baixo desde a sua introdução em 1977. Músicos como Nathan East, Tony Kanal, Billy Sheehan, Glenn Hughes, Robbie Takac, Peter Hook e Jack Gibson criaram a sua sonoridade de assinatura com os BB. O BB-1200 é um dos mais vetustos da gama e ainda um dos mais imponentes. Surgido logo no ano de estreia desta linha de produção, o BB-1200 era o modelo topo de gama, com uma estrutura neck-through-body que recolheu aclamação na comunidade de baixistas desde logo. Por esta altura, também foram criados os modelos bolt-on, o BB-1000 e o BB-800. O design original da gama mantém-se, basicamente, intocável – ainda que com alguns ajustes contemporâneos. As tonewoods destes instrumentos eram um compósito de walnut, alder e maple – todavia, as combinações usadas variavam um pouco e, mesmo as fonets oficiais da Yamaha, não são categóricas em determinar a fórmula.

Quanto à FG-335… Por qualquer motico (tecnicamente incompreensível) as guitarras Yamaha são algo desconsideradas, diga-se sem rodeios. Mas, pelo menos no universo das guitarras acústicas, não há muitas marcas melhores (se é que há alguma) na produção de instrumentos acessíveis a iniciantes e de elevada qualidade. A Yamaha FG-335 é apenas mais um excelente exemplo disso. Esta dreadnough clássica possui uma projecção e volume extraordinários, com um visual bem vintage. O tampo é spruce laminate, sobre um corpo em meranti (também laminado), uma madeira asiática que é um óptimo substituto do mogno, reproduzindo muito do carácter e propriedades sónicas dessa madeira “clássica” com custos muito reduzidos. Claro que uma construção totalmente laminada não é o ideal para criar um grande som, afinal a madeira sólida tem melhor projecção e ressonância, todavia é bastante mais cara e raríssima em guitarras de baixo preço. Mas a engenharia da Yamaha conseguiu excelentes resultados neste modelo, mesmo recorrendo a madeira laminada. O formato, já de si, ajuda bastante, naturalmente. No braço, a madeira é nato, com escala em rosewood (genuíno). O conforto é enorme e ainda acrescente algum calor ao som geral da FG-335, que é apenas mais um exemplo da feitiçaria que a marca japonesa desde sempre conseguiu aplicar a modelos de baixa gama.

A gama SK da Yamaha é composta por tecladosque combinam sintetizadores, órgãos e secções de cordas e metais. O SK-10 foi o primeiro modelo da gama, lançado em 1979 – seguiram-se os SK-20, 30 e 50D, em 1980, e o SK-15, em 1981, possivelmente como um substituto do SK-10, que é único modelo da gama que não incorpora uma secção de sintetizador, mas tem secções de órgão, metais e cordas que podem ser tocadas todas juntas para criar combinações intrigantes, no mínimo. O chassis é muito robusto neste modelo totalmente polifónico de 4-oitavas e totalmente polifónico que inclui um simulador de Leslie, vibrato, switches de sustain e ataque, um slider para ‘brilliance’ e um switch de transposição de uma oitava. A secção PRESET STRINGS não é muito sofisticada e oferece capacidades de edição muito limitadas. Não está propriamente carregado de specs e soluções, mas possui um belo som de sintetização de cordas. Essa é a grande raison d’être do SK-10, muito similar a excelentes sintetizadores de cordas como o Arp Solina/Omni ou o Logan String Machine, tem um som que lembra a abertura de “Oxygene” (J-M Jarre) ou a linha principal de “Love Will Tear Us Apart” (Joy Division). Curiosamente, são frequentemente apontados como ‘analógicos’, mas na realidade têm uma secção digital. O seu órgão tem uma das primeiras implementações da tecnologia FM da Yamaha, ainda que numa forma muito limitada, em simultâneo com as plataformas de desenvolvimento GS-1/2 que acabaram por conduzir à série DX.