Michael Jackson, Thriller

“Thriller” é o álbum dos anos 80, tal como “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” [The Beatles] é o álbum dos anos 60. Michael Jackson e Quincy Jones criaram um paquidérmico blockbuster que funde todas as correntes que a música popular havia gerado e lançou bases para o futuro da pop.

Em 2015, a RIAA (Associação Norte-americana da Indústria Discográfica), o Legado de Michael Jackson, a Epic Records e a Legacy Recordings anunciaram que “Thriller”, de Michael Jackson, é o primeiro álbum na história do programa de ouro e platina da RIAA a atingir a marca certificada de 30 vezes multiplatina por vendas nos EUA, continuando assim o reinado do Rei da Pop como o artista mais bem-sucedido a nível de vendas, com números acima dos 100 milhões no mundo inteiro referentes ao álbum “Thriller” e mil milhões no plano geral. «A RIAA atribui discos de ouro e platina em nome da indústria musical há quase 60 anos, mas esta é a primeira vez que um artista ultrapassou a marca de 30 vezes multiplatina», afirmou Cary Sherman, Presidente e CEO da RIAA. «Estamos muito honrados por comemorar o estatuto único do álbum Thriller na história dos discos de ouro e platina. Que feito notável e um verdadeiro tributo à posição duradoura que o álbum Thriller ocupa nos nossos corações e na história da música». Uma marca que continua a crescer.

A Sony Music apresenta dados: «A obra-prima de Michael Jackson com produção de Quincy Jones e Michael Jackson, conquistou um número recorde de 8 Grammys, mais do que qualquer álbum até à data, continuando a receber prémios e a definir novos padrões de sucesso desde o seu lançamento a 30 de Novembro de 1982. Passou quase 2 anos e meio na tabela de álbuns da Billboard e detém o recorde contemporâneo de 37 semanas no n.º 1. Foi o primeiro álbum na história a passar cada uma das suas primeiras 80 semanas no Top 10 da tabela de álbuns. Durante a sua 112.ª semana na tabela de álbuns da Billboard, tornou-se no primeiro a registar a marca certificada de 20 vezes multiplatina pela RIAA (30 de Outubro de 1984). A nível mundial, “Thriller” esteve no n.º 1 em praticamente todos os países do mundo».

A editora descreve ainda o alcance do álbum: «Sendo mais do que um simples álbum, Thriller permaneceu um fenómeno multimédia cultural a nível global durante os séculos XX e XXI, quebrando barreiras musicais e alternando as fronteiras da pop para sempre. A música presente em Thriller é tão dinâmica e singular que desafiou qualquer definição de rock, pop ou soul existente. O tema “Beat It” era um novo híbrido de pop/rock e demoliu a segregação há já muito existente entre música branca e negra com a guitarra incendiária de Eddie Van Halen. No tema “The Girl Is Mine”, um homem negro e um homem branco lutam pela mesma mulher. No mesmo álbum, existem temas como “Wanna Be Startin’ Somethin’”, com ritmos africanos de base, e “Billie Jean”, com sonoridades mais R&B. Nunca se tinha ouvido um álbum com material de tamanho alcance».

QUINCY JONES

Antes de se tornar um dos maiores nomes da produção, Quincy Jones foi um trompetista de reputação considerável e com uma história associada a outros nomes lendários. Amigo de juventude de Ray Charles (conheceram-se em Seattle) chegou a director musical/trompetista para Dizzye Gillespie. Depois tornou-se compositor e arranjista para artistas como Sarah Vaughan, Gene Krupa, Frank Sinatra (“Fly Me to the Moon”, que Jones arranjou para Sinatra, foi a primeira música que os astronautas colocaram a tocar quando a missão da NASA aterrou em solo lunar em 1969) ou Duke Ellington.

É a individualidade com mais nomeações e prémios Grammy de sempre. Foi também, em parceria com Bob Russel, o primeiro afro-americano de sempre a receber um Óscar para Melhor Canção Original, com o tema “The Eyes of Love”, no filme “Banning”. Além do universo jazz, tornou-se acima de tudo conhecido em qualquer canto do mundo por ter trabalhado com e “inventado” Michael Jackson naqueles que são os álbuns mais clássicos deste, “Off the Wall”, Thriller” e “Bad”.

GÉNIOS

“Off The Wall” foi a primeira pedra a edificar a genialidade da carreira de Michael Jackson que, aí, já não era apenas um menino que fazia o que os produtores mandavam. Obviamente que não pode ser dissociado desta explosão, que mudou a música pop, o nome de Quincy Jones, que produziu juntamente com o artista o álbum, mas o estilo vocal único do cantor começava a delinear-se e as bases por onde a sonoridade se movia estavam lançadas para serem maturadas no álbum seguinte. Apesar de todo o sucesso comercial que teve, Michael Jackson queria ainda mais e começou a projectar o próximo trabalho. Conseguiu, ainda antes desse lançamento, renegociar o seu contrato discográfico e tornou-se, na altura, o músico com maior percentagem de vendas por álbum, cerca de 37%. Mereceu cada cêntimo.

Portanto, em 1982 saiu O álbum. “Thriller” quebrou barreiras de interligação de linguagem musical, assumiu o que vinha feito de trás e potenciou a pop daí para a frente. Mas, curiosamente, esse foi, quando assumido por outros, um caminho de diminuição, aliás, basta ouvir as versões na reedição do vigésimo quinto aniversário do disco para constatar isso. O álbum mais vendido da história da música é um trabalho de rock fantástico (se não fosse por mais motivo nenhum, apenas o solo de Eddie Van Halen em “Beat It” valia a compra do álbum – um dos melhores solos da história da guitarra, trinta segundos carregado com imensas e variadas técnicas de shred, espantoso!). Por algum motivo é subvalorizado por muitos ouvintes, dessa sonoridade eléctrica e de amplificadores no máximo. O único motivo para isso será o preconceito ou o desconhecimento, pois aquele som híbrido entre o disco, o funk e o rock com um um groove infinito (aqueles ritmos ultra trancados), jamais encontrou paralelo.

Neste álbum os temas de dança e os de rock tornaram-se mais agressivos e as baladas mais suaves, quanto a mim estas últimas nunca foram o ponto forte do músico, e a maior acentuação de cada canção catapultou naturalmente “Billie Jean”, “Beat It”, “Wanna Be Startin’ Something”, que mostrava também um sabor étnico (ainda mais um elemento que Michael Jackson começou a explorar), e “Thriller”, este último tornou-se mesmo, através do vídeo, uma referência cultural – quem nunca tentou, no recato do lar e em frente ao espelho, imitar os movimentos de dança dos zombies?

BEAT IT

O terceiro single do “Thriller”, lançado a 14 de Fevereiro de 1983. Ganhou o Grammy para Record of the Year, que premeia a qualidade vocal e instrumental das gravações. A esta distância é quase natural compreendê-lo, além de Michael, “Beat It” contava com outra super estrela, Eddie Van Halen. “Beat It” valeu também o Grammy para Best Male Rock Vocal Performance. O beat do tema tem um groove impossível de suplantar (bom talvez a title track o consiga), e as guitarras…

Michael Jackson não era um fã de rock e o que pretendia com “Beat It” era fazer uma canção de rock da qual gostaria se fosse um fã do género. Há que dizer que conseguiu, de facto, criar um som híbrido entre synths, funk e rock, graças ao riff de Paul Jackson Jr., um reputadíssimo session player de fusão (um dos últimos álbuns em que trabalhou como músico de sessão chama-se “Random Access Memories”). Com Steve Lukather como guitarrista e baixista de apoio ao “serviço” de Quincy Jones, era ainda preciso criar um solo para o qual nenhum dos músicos tinha a fúria necessária. Sabe-se que com Quincy Jones e Michael Jackson não havia meias medidas, ou enorme ou nada, especialmente em “Thriller”.

É aí que entra EVH. Inicialmente contactado por Jones, Eddie achou que se tratava de uma partida e que o telefonema era a gozar. Quando percebeu que estava mesmo a falar com Quincy Jones, Eddie recebeu o produtor e Jackson no seu estúdio onde, por cima de um “esqueleto” da canção, gravou um dos melhores solos da história da guitarra eléctrica. Em pouco menos de um minuto exibe uma intensidade e feeling perfeitos, ao mesmo tempo que exibe praticamente todas as técnicas do instrumento. EVH aceitou fazer o solo sem receber qualquer pagamento. «Fi-lo como um favor. Toda a gente, amigos, manager e banda, me considerou um idiota. Não fui usado. Sabia o que estava a fazer e não faço nada a não ser que o queira mesmo fazer». A canção é tocada numa afinação em Ré sustenido menor, com o tempo bem rapidinho de 139 bpm. O groove do beat é inquestionável, o músico que gravou as baterias foi Jeff Porcaro.

HEAVY METAL

Foi em 2013 que a pequena editora Cleopatra Records fez o lançamento de um tributo ao Rei da Pop. “Thriller: A Metal Tribute To Michael Jackson” chegou às lojas no dia 22 de Outubro desse ano. O disco destacava-se por contar com participações de vários nomes consagrados do rock e do metal. Se a compilação conta com a batida versão dos Alien Ant Farm a “Smooth Criminal”, também surpreende em vários momentos. Alguns exemplos são as versões de “Thriller” por Chuck Billy dos Testament e “Bad” pelo ex-Iron Maiden Paul Di’Anno. Destaca-se ainda o tributo com participações de músicos como Bruce Kulick (ex-KISS), Ron Thal (Guns N’ Roses), Phil Campbell (Motörhead), entre muitos outros.

Eis o alinhamento oficial e as respectivas participações: “Thriller” – Chuck Billy (Testament); “Man In The Mirror” – Danny Worsnio (Asking Alexandria) e Billy Sheehan (Mr. Big, Winery Dogs); “The Way You Make Me Fell” – Angelo Moore (Fishbone), Doug Aldrich (Whitesnake, Dio) e Rudy Sarzo (Ozzy Osbourne, Whitesnake, Quiet Riot, Dio); “Black Or White” – Lajon Witherspoon (Sevendust), Bruce Kulick (Kiss, Grand Funk Railroad) e Tony Franklin (Blue Murder); “Beat It” – Priya Panda (Diemonds) e Ron Bumblefoot Tahl (Guns N’ Roses); “Billy Jean” – Corey Glover (Living Colour) e Phil Campbell (Motörhead); “Shake Your Body” – Elias Soriano (Nonpoint); “Rock With You” – Dug Pinnick (Kings X); “Dirty Diana” – Chris Jericho (Fozzy); “Bad” – Paul Di’Anno (Iron Maiden) e Craig Goldy (Dio); “They Don´t Care Abou Us” – Icarus Witch; “Never Can Say Godbye” – Lonnie Jordan (War) e “Smooth Criminal” – Alien Ant Farm.

No player em baixo, se o revestimento sonoro pode causar reticências a alguns, pelo menos há que ouvir obrigatoriamente Bumblefoot a implodir o solo original de Eddie Van Halen em “Beat It”.

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