Year Of No Light, Nord

O primeiro álbum dos Year Of No Light, ainda antes da era instrumental do colectivo francês. Um trabalho imprescindível para aqueles que gostam das sombras que surgem entre o sludge e o post rock.

«Desde o seu início, os Year Of No Light, estranha entidade orbital, tem sido amaldiçoada por dúvidas e vícios antes de conhecer a alegria, a implosão e o renascimento. Afinal de contas, a música tem tudo a ver com emoção, não?», reflecte uma nota sobre os girondinos.

“Nord” foi comprado para a nossa biblioteca na XII edição do SWR. Este duplo LP é uma segunda prensagem do vinil, então editado em 2006, limitada a 1000 cópias. O catalizador da compra foi o espantoso concerto com o qual a banda encerrou o segundo dia do festival de Barroselas. Um concerto com mudanças em relação ao álbum, uma guitarra a mais, duas baterias e sem voz.

Há três coisas que podem acontecer ao usar duas baterias em simultâneo: a primeira é haver má coordenação e ser um falhanço, a segunda é haver má coordenação e tornar o som uma cacofonia e a terceira [que foi o caso] é haver boa coordenação e dar uma dimensão extra ao som, dotar os temas duma força ainda maior. Isso tornou o concerto dos Year Of No Light num dos melhores que já viu no irredutível festival minhoto. No player em baixo surge uma leviatânica interpretação de “Hiérophante”, do álbum “Ausserwelt” (2010), que ilustra aquilo que se viveu no SWR…

“Nord”, o primeiro LP dos franceses, é um daqueles álbuns que são prova de distinção numa cena que teve um crescimento quase impossível de acompanhar nos últimos anos, onde surgiram toneladas de projectos cuja única preocupação estética é baixar a afinação das cordas e fazer uma parede de effects loop, o infame soundscapism que disfarce a incompetência com parafernália sonora. Ora, os Year Of No Light conseguem congregar elementos genéAricos que, não sendo novidade, são potenciados pelo sentido de composição, de estruturas harmónicas e melodia que a banda demonstra. A voz demorou muito a encaixar bem na nossa percepção dos temas, mas talvez isso tenha sido reflexo de os ter visto primeiro ao vivo, como descrito acima, sem vocalizos. Se nunca contactaram com a banda não terão esse handicap. Se conhecem somente a sua vertente instrumental poderão ser agradavelmente surpreendidos.

No entanto, a força deste trabalho torna-o imprescindível a quem goste daquela zona entre o sludge e o post rock. Passados mais de dez anos da sua estreia, o pontapé psicadélico deste trabalho mantém ainda um penetrante aroma lisérgico que nos convida a contemplar uma atroz exibição em que o passado está pregado a um altar de egoísmo e actos falhados. De facto, o mundo mudou pouco ou então mudou para pior.

Já em 2022, para celebrar duas décadas de existência, a banda reeditou “Nord” e espraiou no Bandcamp esse Deluxe reissue que contempla todas as gravações do colectivo de Bordéus realizada entre 2004 e 2008, na primeira encarnação do colectivo, antes da era instrumental inaugurada em “Ausserwelt”, cheia de vociferações desesperadas e agressivas. Então, disparando o player, podem ouvir “Nord”, claro, mas também a demo de 2004 e vários splits, covers, colaborações e remixes.

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