Miguel Nicolau leva a sua Memória de Peixe ao 8º episódio do já obrigatório programa de Fast Eddie Nelson, com a produção de Nuno Calado e com o carimbo Antena3Docs.
Foi no final dos anos 40 que os amps Fender Deluxe começaram a ser produzidos. Nos anos 50 as bandas de blues e rockabilly começaram a ganhar volume e o som de overdrive do Deluxe, quando “puxado” começou a tornar-se um assunto sério. Miguel Nicolau pode intitular o seu projecto de Memória de Peixe, mas o próprio tem uma memória de elefante e foi buscar o seu som a esse passado, a um par de Fender Deluxe, ligados em cadeia entre ambos e ainda a um Ampeg SVT-450, para acrescentar graves ao tremendo punch de médios dos pequenos “televisores”. Para “memorizarem” bem o termo, a sua Telecaster é uma Deluxe também. Fazia sentido em 2014, a primeira vez que os vi ao vivo, afinal, toda a actuação dos Memória de Peixe foi um autêntico luxo nessa ocasião.
Foi no dia 23 de Outubro de 2014, no Musicbox Lisboa, na programação, creio, do Jameson Urban Routes desse ano. Vamos por partes. Começou tudo no controlo tão mecânico como intuitivo que o guitarrista faz do seu looper. Camada atrás de camada, estrutura atrás de estrutura, a suavidade na relação entre a destreza técnica na guitarra e bateria (tremendo, Marco) com a exigência matemática dos pedais é deslumbrante. O Marco e o Miguel tocaram, realmente, de frente um para o outro. Não como uma mera estipulação logística, mas uma necessidade imperativa de diálogo. E depois a forma como juntos foram capazes de dinâmicas tão Jeff Beck/Pat Metheny, muito devido à forma como Miguel puxa as notas “para trás”. Aliás, o guitarrista tem um picking extraordinário, um controlo de intensidades fora-de-série, mesmo. Terá sido inconsciente, mas houve momentos em que os seus fraseados evocaram Mário Barreiros. Sublime, intenso, simples e complexo. Para mim, naquele momento, o Miguel era o guitarrista português em melhor forma.
O Miguel Nicolau teve vários falsos arranques com a guitarra. Ligado à música desde cedo, como tantos, através da fonoteca caseira, teve o primeiro contacto com o instrumento do pai, que tocava. Nunca ficou muito entusiasmado com a música que o pai fazia. Mais tarde começou mesmo a brincar com a guitarra, num jogo, nas suas palavras, de ouvir música e descobrir as notas no braço do instrumento. Anti guitar hero, formou-se como músico a tocar na cena do Oeste, até criar um mundo esfuziante de delays e loops, uma linguagem bastante singular na guitarra eléctrica, em Memória de Peixe. Trocou de bateristas pelo caminho. A manipulação digital que faz ao seu som de guitarra levou-o a tornar-se um colaborador da exuberância 80s do synth pop de Cavaliers of Fun. Juntando-se ao charme transatlântico de JP Simões, fechou o loop, passe a expressão, dos seus primeiros passos na bossa nova.
Foi no dia 04 de Abril que a emissora Antena 3 estreou, com o carimbo Antena3Docs, este programa que tem a autoria do guitarrista Fast Eddie Nelson, que viaja de norte a sul do país a conversar com alguns dos guitarristas mais emblemáticos do rock português, para descobrir o que os moveu e move a explorar o mundo das seis cordas. As entrevistas são cruzadas com alguma jam pelo meio e com alguma imersão nas histórias pessoais que valorizam as colecções privadas de cada um dos convidados. No episódio anterior, foi convidado o mestre Tó Trips. Neste novo episódio, já adivinharam o convidado…
Um pensamento sobre “Miguel Nicolau & Grandes Malhas”