Mogwai, A Melodia é Tudo

“As The Love Continues”, o 10º álbum de Mogwai, chegou a 19 de Fevereiro de 2021, via Temporary Residence Ltd./Rock Action Records. Stuart Braithwaite fala-nos sobre a gravação e produção do trabalho.

O deslumbrante décimo álbum de estúdio dos Mogwai foi produzido por Dave Fridmann, dando sequência ao trabalho do produtor com os escoceses após “Every Country’s Sun” (2017). Os trabalhos de estúdio contaram ainda com a colaboração de Atticus Ross, dos Nine Inch Nails, em “Midnight Flit”, e do saxofonista Colin Stetson, em “Pat Stains”. “As The Love Continues” acabou mesmo por tornar-se num surpreendente sucesso comercial, conquistando a primeira posição nas tabelas de vendas discográficas no UK. Stuart Braithwaite fala sobre este marcante disco, garantindo que foi um trabalho bastante pensado, mas também mais fácil de concretizar do que se poderia pensar, tendo sido feito em plena pandemia coronavírus.

Os Mogwai sempre tiveram um som bastante expressivo nos seus álbuns, todavia o som de baixo neste trabalho é particularmente articulado, envolvente e poderoso. A explicação tem que ver com o instrumento usado por Dominic Aitchinson, mais que o trabalho de captação ou mistura. «Na minha opinião é o próprio baixo o responsável. Conseguimos arranjar um extraordinário Fender Precision Bass, na minha opinião, o melhor baixo que o Dominic já teve. Na verdade, é tão simples quanto isso, é o baixo», refere Stuart Braithwaite que confessa não poder desenvolver a respeito das experimentações que a banda fez de captação, microfonia e amps, por não ser um gajo que fica atento a esses detalhes.

Não importa quão interessantes são os sons que estás a usar sem uma boa melodia. Nesse caso, nem conseguirás que os sons sejam tudo o que podem ser

A extraordinária qualidade de som do disco não é um exclusivo do baixo. A banda toda e, consequentemente, as canções soam com uma tremenda elegância sónica. Isso ajuda a que os onze temas do disco se sintam com algum imediatismo, algo que se soma ao vigor melódico das composições, afinal «uma das coisas mais importantes na música e que sempre tentámos ter, tanto quanto possível. Não importa quão interessantes são os sons que estás a usar sem uma boa melodia. Nesse caso, nem conseguirás que os sons sejam tudo o que podem ser».

Nessa fusão entre estética sónica e sofisticação das composições, os Mogwai criaram, em “As The Love Continues”, uma colecção de temas que encerram o extraordinário paradoxo de serem simultaneamente pesados e suaves. Parece quase existir um controlo espartano de dinâmicas que mantém as estruturas perfeitamente alinhadas e permite aos crescendos apenas a expansão suficiente para que, enquanto ouvintes, os queiramos imediatamente ouvir de novo. Braithwaite admite que «a produção do álbum foi algo bastante considerado» e que Tony Doogan e David Fridmann, o engenheiro e produtor do disco, respectivamente «tiveram um trabalho meticuloso e peculiar, um trabalho fenomenal que tornou tudo tão sólido e coeso quanto possível».

A pandemia e o o confinamento não criaram grandes condicionalismos ao trabalho no disco, que já estava adiantado nas primeiras sessões de pré-produção antes do mundo parar. «Não trabalhámos separados assim tanto tempo. Claro que algum do processo de escrita foi feito ainda durante o lockdown, altura em que enviávamos músicas por email uns aos outros, mantínhamos o contacto por Zoom e tudo isso, mas as gravações já foram feitas com todos reunidos».

No entanto, os Mogwai não embarcaram para Nova Iorque, como originalmente planeado, para gravar nos estúdios de Dave Fridmann, os Tarbox Road. Antes, acabaram por se instalar nos Vada Studios em Alcester, Warwickshire, no coração de Inglaterra. Fridmann acompanhou todo o processo via Zoom. Braithwaite insiste na ideia de que esse factor não teve grandes repercussões. «Já somos muito sincronizados, após tantos anos a trabalhar juntos. desenvolvemos uma certa intuição que facilita muito as coisas e todos sabem bastante bem o que os outros podem ou estão a fazer». A experiência de uma carreira de praticamente três décadas, permite inclusive uma gestão de momentos inesperados, como uma nota completamente ao lado «na “Ceiling Granny”, que acabou por se tornar parte da canção. Mas um erro não significa necessariamente que se trata de uma má nota. Essa é a ideia de experimentar coisas: forçar erros que acabem por funcionar».

Além disso, continua o guitarrista dos Mogwai, «o Dave estava bastante consciente de que queríamos experimentar algumas coisas, já lhe tínhamos dado algumas referências, e apenas nos pediu, numa ou noutra ocasião, que tentássemos fazer as coisas de maneira diferente, para obter outro tipo de resultado. De resto, a grande diferença foi o Dave não ter estado pessoalmente presente, nada mais que isso. Na verdade, não ter o produtor junto a nós até nos fez estar mais atentos e focados, para criar a mínima margem de erro possível». Esse maior foco parece ter dotado os temas de outra característica marcante deste álbum, «as canções são mais concisas, procurámos que fosse assim, deixamos uma ou outra coisa respirar onde sentimos que isso era necessário, mas procurámos ser mais concisos, sem dúvida».

PEDAIS & RIG CLÁSSICO

A última vez que havia conversado com Stuart, por ocasião do álbum “Rave Tapes”, o guitarrista não revelou muito sobre os seus pedais, admitindo que a sua pedalboard «foi mudando ao longo dos anos, mas há coisas que nunca deixei de usar, como o Boss DD-20 ou o Big Muff. Sempre usei esses. Não creio que vá tornar-se maior. Aliás, acabei por descobrir que, na verdade, não usava alguns dos pedais que tinha e reduzi-a um pouco». Seis anos depois, há algumas mudanças, como convém, e foram experimentados muitos delays e reverbs na construção de “As The Love Continues”.

«Ando muito agarrado aos pedais da AC Noises, tenho bastantes, são extraordinários. O Red Panda Particle também é muito bom. Queria uma distorção mais efectiva neste álbum e usei o Plasma, da Gamechanger Audio. Na verdade, actualmente essa é a maior fonte de distorção na banda». Para ter volume, Braithwaite não abdica de misturar Silverfaces, nomeadamente, Fender Twins e um stack Orange ou Marshall. «Não há que enganar. Som clássico». Na afinação, o músico também não foi muito aventureiro: «Afinação normal, com drop D, na grande maioria do disco. Quem usa algumas afinações mais estranhas é o Barry, mas nem sei dizer quais».

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