Loretta Lynn, A Filha do Mineiro de Carvão

As suas canções de forte determinação feminina e independência, inspiradas no seu indómito percurso de vida, tornaram-na na Rainha da Country. Loretta Lynn morreu aos 90 anos de idade, confirmou a sua família.

“Don’t Come Home A-Drinkin”, “I’m A Honky Tonk Girl”, o hino feminista “The Pill” e, sobretudo, a autobiográfica “Coal Miner’s Daughter” são os temas com maior projecção mediática, mas Loretta Lynn deixa como legado uma impressionante discografia que, ao longo de mais de seis décadas, resultou em 60 álbuns de estúdio, o mais recente, “Still Woman Enough”, editado em 2021. A diva morreu na terça-feira, 04 de Outubro de 2022, na sua casa no Tennessee, como confirmou a sua família em comunicado, pedindo respeito pela sua privacidade: «A nossa querida mãe, Loretta Lynn, morreu pacificamente nesta manhã de 04 de Outubro, durante o sono, em sua casa, no seu amnado rancho em Hurricane Mills».

Loretta Webb nasceu numa casa modesta em Butcher Hollow, no Kentucky, no dia 14 de Abril de 1932. Foi a segunda de oito irmãos. Como canta em “Coal Miner’s Daughter”, a sua família passou por tremendas privações e dificuldades durante a depressão, tendo como único sustento o mísero salário que o seu pai trazia para casa das minas de carvão, depois de ter passado o dia nos campos de milho. O único escape era os dias em que a sua mãe tocava viola (com o pai a acompanhar ao banjo) e ouvir as canções da Família Carter na rádio. Aos 15 anos de idade casou com Oliver Lynn, que lhe deu quatro filhos e uma guitarra da Sears. Assim, Loretta juntou-se ao seu irmão Jay Lee Webb e criou a banda Loretta and the Trailblazers. Em 1960 chegou o primeiro contracto profissional, com a Zero Records, e o icónico single de estreia, “I’m A Honky Tonk Girl”. A canção inspira-se numa amiga de Lynn, que o marido abandonou por outra mulher (esta malta da country music é hardcore).

À boleia desse sucesso, Lynn mudou-se para Nashville e chegou o seu primeiro álbum, com a Decca, em 1962. “Success” inaugurou uma fulgurante sequência de enormes vendas que durou cerca de três décadas. Já em 2004 a sua carreira foi rejuvenescida para uma nova geração de melómanos através da produção de Jack White no álbum “Van Lear Rose” – um dos melhores das seis dezenas que gravou e, na nossa opinião, o seu melhor disco colaborativo. Muito do apelo das suas canções advém de um sentido de sofrimento e de um realismo brutal, descrevendo lares e famílias fracturadas, normalmente através de um pungente ponto de vista feminino, quando ainda nem sequer existiam hashtags para o validar. Muitas dessas canções revelam um estoicismo tão nobre como trágico diante da infidelidade e alcoolismo do seu marido, que morreria em 1996.

O tumultuoso casamento trouxe tantas dores como alegrias a Lynn, que chegou a fantasiar com o divórcio, mas sempre foi extremamente possessiva. Para o bem e para o mal, Loretta junta-se agora no túmulo ao seu esposo. «Todas as canções que escrevi, escrevi sobre ele. Deu-me muitas coisas», confessou num documentário na BBC Arena.

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