Neil Young, Le Noise

Um trabalho de pioneirismo sónico do produtor Daniel Lanois, editado a 28 de Setembro de 2010, via Reprise/Warner Music. “Le Noise” é o maior triunfo na imensa discografia de Neil Young.

Neil Young nunca foi um músico comodista e nunca se importou com rótulos, deambulando entre o hard rock e o country puro. Aliás, para muito boa gente, foi ele quem fundou o grunge. No entanto, “Le Noise” vai muito além duma despreocupação casual de quem faz apenas aquilo que quer. É um violentíssimo e eléctrico abalar das fundações do rock! Nada resiste à passagem deste trabalho, que é um furacão estético, tem uma força impressionante e crudeza arrasadora, uma beleza violenta e irresistível!

Em conjunto com o produtor Daniel Lanois [isso originou o trocadilho no título do álbum], que é responsável pela manipulação e desconstrução sonora, Neil Young não deixa pedra sobre pedra no álbum mais experimental e arrojado que já fez. Não há banda, há apenas o canadiano a cantar com guitarra, uma parede de amplificação e, sobretudo, uma exploração de efeitos sensacional, numa panóplia de phasers, delays, fuzz, overdrives, tone benders, entre outros, que teve lugar no estúdio caseiro de Lanois, em Los Angeles. São essas camadas que constroem toda a dinâmica do disco.

«O Neil ficou encantado com o corpo sónico que lhe foi apresentado», diz Lanois, sobre as sessões. «Ele entrou pela porta e pus-lhe uma guitarra acústica nas mãos – uma com a qual tinha estado a trabalhar para construir um novo som. É o som acústico de várias camadas que se ouve nas canções ‘Love and War’ e ‘Peaceful Valley Boulevard’. Queria que ele compreendesse que passei anos a desenvolver o som em minha casa e que queria dar-lhe algo que ele nunca tinha ouvido antes. Ele pegou naquele instrumento, que tinha tudo – um som acústico, electrónica, sons de baixo – e, assim que o tocou, soube que tínhamos elevado a guitarra acústica a um novo nível. É difícil arranjar um novo som no final de 50 anos de rock ‘n’ roll, mas penso que o fizemos».

Os temas acústicos surgem neste álbum por piedade, para prevenir a hiperventilação do ouvinte, fazendo-nos aplanar as emoções. Pelo carácter intimista, há um tocante tom confessional. Por exemplo, em “Hitchiker” seguimos as reminiscências de Neil sobre o seu consumo de drogas, como consequência daquilo que, enquanto jovem, o rodeava. Também o seu fascínio com os dias mais vetustos da colonização do território norte-americano surrge na sombria progressão de acordes de “Peaceful Valley Boulevard”. Mas acima de tudo, o que surpreende verdadeiramente é a simplicidade brutal do disco, a forma como soa despido e cru, mesmo com tanto processamento; a calma que se sente no meio de tanta turbulência emocional.

“Le Noise” é alquimia pura, a pedra filosofal, de como um homem e uma guitarra podem alcançar algo de deuses. É absolutamente imperdível e Neil Young parecia saber que ia arrasar tudo com este trabalho. Nesse sentido, aquando da gravação do álbum, os takes do canadiano foram filmados e publicados na íntegra na conta YouTube do músico. Vale muito a pena ouvi-lo dessa forma. Dispara o player…

Leave a Reply