Aparentemente indolente, “Concavexo” revela-se um sublime exercício de imersão no amplo universo sónico dos NoA. Fusão, rock, pop e (vamos dizê-lo) “Kid A”.
Nos primeiros harmónicos naturais, puxados nas zonas de maior tensão das cordas da guitarra (no headstock ou entre a ponte e a tailpiece), e no indolentemente poderoso break de bateria – pela densidade parece um kit generoso nas poelgadas – intui-se algo que demora a surgir em “Relato Minoritário: o impacto da exuberância. Mas quando, na desconstrução do compasso na parte final do tema, esse impacto surge, fá-lo em grande estilo. Aliás, na linguagem de Nuno Costa não falta panache!
Por panache, referimo-nos ao termo britânico para estilo, não ao francês panaché, ainda que Costa consiga misturar com a mesma eficácia elementos tão diferentes como a fusão rocker de Metheny do primeiro tema e os sopros de bambu de Rão Kyao, como se escuta em “Inquieto” ou “Circo Do Oriente”.
Compositor gentil, o guitarrista oferece bastante espaço ao referido convidado, mas também aos colegas de trio. “A Queda de Um Arpanjo” é protagonizado pelos recursos de Óscar Graça nas teclas electrónicas, até chegarem os pitch shifters de guitarra. Descrevê-lo é formar um paradoxo, pois tudo soa descontraído e simultaneamente frenético, mas se decidirem ouvir o álbum e este tema em particular, as baterias de André Sousa Machado vão ilustrar perfeitamente a ideia que aqui pretendemos transmitir. O mesmo sucede no cruzamento das teclas com os dedilhados de guitarra e o propulsivo rufar de tarola em “Zás Trás!”
As boas ideias, normalmente, necessitam de espaço de maturação, para se desenvolverem e estabelecerem. Precisam vaguear quanto baste, até serem consumadas. “Baptista” é mais um tema que faz esta analogia. Parece sem rumo, até nos abrir, de forma surpreendente, um enorme e belo pórtico para o universo do post ou do alt rock. Há aqui algumas doses de Radiohead. Na verdade, intui-se algo de “Kid A” ao longo de todo o álbum, mas com a densidade de sintetização diluída em favor de um som mais orgânico. Aliás, pode ser uma mera coincidência, mas os próprios títulos que encerram o disco, “The Kid” e “The Kid: Dreamland”, permitem essa especulação.
No final, os três músicos soam como que “auto-multiplicados” e este “Concavexo” é mais um excelente disco do novo jazz português.