Analepsy, Quiescence

Brutal death metal, com um tremendo estalo de groove e vocalizos de guturalidade tenebrosa. Slam? Também, naturalmente. Mas “Quiescence”, dos Analepsy, vai além dessas categorizações. O seu poder conjuga-se de forma avassaladora com a beleza cerebral dos seus arranjos.

A energia que abunda nos riffs, pejados de pinch harmonics faz desabar uma tempestade eléctrica sobre o ouvinte, assim que se escuta “Locus Of Dawning” – primeiro tema daquele que era um dos álbuns nacionais mais aguardados do ano, marcando o regresso dos Analepsy às edições discográficas naquela que é a primeira gravação do grupo com a sua nova formação, após a turbulência de 2019. Todavia, “Impending Subversion” não dá tempo a considerações sobre o passado, através de uma explosiva entrada e os fulgurantes solos de guitarra e surpreendentes e cativantes progressões melódicas.

É em “Elapsing Permanence” que pela primeira vez sobressai de forma demolidora o poder rítmico das baterias de Tiago Correia – foi ainda o baterista (que entretanto saiu da banda) a criar este disco ao lado de Marco Martins, na guitarra, João Jacinto, no baixo e Calin Paraschiv, na voz e guitarra. É um dos momentos mais exuberantes do álbum, até pelo seu epílogo, marcado pelo shred do solo, iniciado com um fulminante arpeggio. Outro enorme destaque é merecido por “Spasmodic Dissonance”, malhão que impressiona pela velocidade, acutilância e poder do seu blast beat.

Mas neste “Quiescence” os Analepsy não se limitam a depender da sua tremenda capacidade de execução, da velocidade de do sweep picking ou da brutalidade sónica. A banda criou uma colecção de canções num formato clássico no género e a essa familiariedade criou uma parede de riffs in your face e dinâmica vertiginosa, com enorme coesão entre cada um dos instrumentistas – um petardo como “Streched And Devoured” nem funcionaria de outra forma – que acaba por facilitar a apreensão dos sublimes detalhes presentes nos arranjos. Por isso, os quase 40 minutos deste álbum sabem a muito pouco ou, por outro lado, convidam a que esteja a rodar em loop. Portanto, se aquele sentido “orelhudo” já se sente na banda desde o excelente “Dehumanization By Supremacy”, EP de 2015, agora está ainda mais vincado. Como se tivessemos Suffocation com boost no modo groove (o que, de acordo com as nossas preferências, até calha bem).

De resto, estas noções vão de encontro às que Marco Martins partilhou em conversas com a LOUD!: «Quero destacar principalmente os elementos mais técnicos que decidimos introduzir na músicaA essência mantém-se a mesma, mas com uma composição mais elaborada. Conseguimos manter o som que define os Analepsy, mas com elementos que identificam cada um dos novos integrantes também». Por isso, “Quiescence”, «serve como uma continuação do ‘Atrocities from Beyond’, é mais estabelecido e convicto naquilo que a banda é». Gravado entre Agosto e Outubro do ano passado, nos Demigod Recordings. “Quiescence” contou com captação, produção, mistura e masterização de Miguel Tereso. É um disco fenomenal que encerra com dois épicos, o melhor tema do disco “Edge Of Chaos” e os deslumbrantes ambientes do tema-título.

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