No seu 5º álbum, os Process Of Guilt congregam o poder arrasador de “FÆMIN” com as melhores conclusões dos paradigmas que exploraram em “Black Earth”. Dessa forma, “Slaves Beneath The Sun” é o novo pináculo discográfico do quarteto.
“Slaves Beneath The Sun” é o quinto álbum dos Process Of Guilt, editado pela Alma Mater Records, selo independente nacional e descrito em comunicado de imprensa como «uma experiência sónica que eleva a música a uma nova dimensão de desolação e peso. Profundamente conectado ao processo de culpa que todos nós enfrentamos enquanto estamos na Terra, ‘Slaves Beneath the Sun’ actua como uma viagem através da nossa própria culpa ao longo de seis faixas mais abrasadoras do que qualquer outra coisa que os Process Of Guilt já tenham feito antes. Movendo-se de forma constante através de diferentes dinâmicas, a banda explora uma abordagem vocal mais diversificada, grooves como mantras, uma sessão rítmica esmagadora, um amor eterno por feedback e mais riffs enormes do que se pode pedir em menos de 45 minutos».
Adjectivos como poderoso, massivo, monolítico, pesado, arrasador, etc., tornaram-se recorrentes para descrever a sonoridade dos POG. Certamente que vão ser abundantemente utilizados para descrever este “Slaves Beneath The Sun” e continuam a ser bastante ilustrativos da estética da banda, mas já não são o seu núcleo sonoro desde o anterior álbum, “Black Earth” [2017]. Os blocos de riffs massivos permanecem totalmente intactos e “Demons”, o tema de abertura, até nos remete para o colossal “FÆMIN” [2012].
O peso idiossincrático nas composições da banda chega a ser esmagador no tema que partilha o título com o álbum, com os vocalizos a transportarem reminiscências dos cantos guturais tuvanianos da Ásia Central, com os seus poderosos sobretons difónicos. E aí destaca-se outro dos aspectos mais relevantes na evolução dos Process Of Guilt, que se faz escutar logo desde “Scars”, a proeminência de uma secção rítmica frenética, carregada de síncopes e até momentos surpreendentes como a desconstrução da estrutura no final desse mesmo “Slaves Beneath The Sun” ou no compasso composto que suporta “Breathe” (tremendo o breakdown que vai pontuando cada verso, evocativo dos Machine Head na era “Burn My Eyes”). É este tema a pedra angular de um álbum que coroa e congrega o melhor que há nos dois discos anteriores e onde, simplificando, a unidade é imposta de forma espartana, pelo bloco rítmico intransigentemente rígido (e paradoxalmente carregado de groove) que é solificado pelas batidas punitivas de Gonçalo Correia e pelo brutalmente calibrado trio de cordas. A força que emana da dupla de cabeços Peavey 5150 é esmagadora.
É esta dinâmica em que os quatro músicos se movem em harmoniosa consonância que acaba por criar uma atmosfera sufocante, com as tensões instrumentais pontuadas por imensos choques rítmicos que criam fissuras na pressão e criam pontos de luminosa musicalidade. Se quiserem ir um pouco mais longe, podem recordar as nossas considerações sobre o concerto de apresentação do disco, no Musicbox. Aí debruçamo-nos sobre o carácter pitagórico dos Process Of Guilt.
Para montar este monstro sónico, os músicos partiram do ponto em que deixaram o seu sempre crescente público com o último longa-duração, voltando mais uma vez à brilhante mistura de Andrew Schneider no estúdio Acre Audio (KEN mode, Unsane, Julie Christmas, Rosetta), em Nova Iorque, e à masterização de Collin Jordan, no The Boiler Room LLC – Music Mastering (Minsk, Eyehategod, Wovenhand), em Chicago. O processo de captação teve lugar nos Buzz Room, em Lisboa, por Paulo Basílio, produtor, engenheiro e guitarrista com o qual colaborámos longos anos nos Why Angels Fall e que tem também uma curta aparição como músico convidado nas guitarras de “Breathe”.
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