Nome lendário do USBM, os Profanatica encerram a tour Crux Simplex no RCA Club, no dia 27 de Maio de 2023. Tal como sucedeu nas restantes datas desta sacrílega digressão europeia, os norte-americanos estão acompanhados pelos lusos Necrobode.
Criados inicialmente como um duo, os nacionais Necrobode surgiram em cena com “Metal Negro da Morte”, uma demo editada em 2018, via Iron Bonehead. Mostrando desde logo uma abordagem crua e rude às frequências mais antigas do death/black metal, os músicos invocaram um delírio selvagem apoiado num transe hipnótico e, sem perderem muito tempo, expandiram a sua formação a trio e voltaram à carga com o muito elogiado álbum de estreia dois anos depois.
Intitulado “Sob o Feitiço do Necrobode”, o LP intensificou ainda mais a base firme e imunda do registo anterior – bestialidade pulsante, riffagem estridente, vocalizações encharcadas de efeitos que soam como um demónio a vomitar no abismo, a ocasional textura sintetizada e apenas a dose de melodia necessária para manter o ouvinte atento – e apresentou dez temas que resultam como uma sublime cacofonia que emerge directamente das masmorras da podridão. Se és fã de bandas como Beherit, VON, Archgoat, Profanatica e outros que tais, não vais querer perder a descarga sónica protagonizada por esta gente com créditos bem firmados no underground nacional que, precisamente, vai abrir a noite que encerra a Crux Simplex, a digressão europeia que trilharam com os Profanatica.
Um dos nomes mais emblemáticos da cena USBM, os Profanatica já andam a cuspir blasfémia da mais grotesca há mais de 30 anos. Fundados por Paul Ledney e mais dois ex-Incantation na altura, é, no entanto, à volta da figura carismática do baterista/vocalista que a banda se tem desenvolvido ao longo dos anos, tendo mesmo ganho um ritmo de edições nunca visto na última década. “Rotting Incarnation Of God” de 2019 e o EP “Pale Fuck” de 2022 – um dos muitos lançamentos mais pequenos com que os Profanatica têm recheado o seu catálogo desde sempre – são as ofensas divinas que ainda ribombam mais na memória, mas todo o negro ódio anti-cristianismo que nos largarem em cima será muito bem-vindo, até porque clássicos antigos como “Weeping In Heaven” ou “I Arose” ainda se mantêm inamovíveis no setlist.
A começar na primeira noite do SWR 23 o seu mais recente périplo pelo Velho Continente, vale a pena recordar essa actuação e dizer que o trio tomou o seu tempo para iniciar os procedimentos e, mesmo ao longo da actuação, notou-se a necessidade de limarem algumas arestas. Entre si; entenda-se; o que passa cá para fora é jarda da boa. Facto: quando uma tour começa, ainda mais uma com início tão caótico como indiciam as movimentações frenéticas do tour manager/merch guy ao longo do dia, é natural que ainda nem tudo esteja 100% no sítio. E sim, também é verdade que, quando tocarem no RCA Club, em Lisboa, a 27 de Maio, provavelmente vamos vê-los ainda mais coesos.
No entanto, detalhes como esses, reflexo de uma busca por equilíbrio entre os pés em palco, ocasionalmente com os olhares fixos uns nos outros, afectou a força da brutal descarga com que nos brindaram. Escondidos atrás das suas habituais vestes ritualistas, apoiados num som alto, mas bem definido (e em que aquele tom hiper agreste e cortante do baixo acabou por fazer muitas das despesas do estrago), os músicos debitaram temas com títulos tão sugestivos como “Sacramental Cum”, “Mocked, Scourged And Spat Upon”, “Final Hour Of Christ” ou “Spilling Holy Blood”.
A foto dos Profanatica é de David Parham.