“Dança Suja Chão Sujo”, o segundo disco dos Quelle Dead Gazelle é uma pungente e belíssima evidência do enorme legado que os Dead Combo deixaram na música portuguesa e da contagiante propulsividade dos PAUS na mesma.
Entre o Serengeti, Chicago e Lisboa há uma planície enorme. Ampla, com um horizonte a perder de vista. Nessa planície corre uma gazela. Espírito que incorpora este duo, a gazela, fixa-se em Lisboa. Lisboa, dona de mitos, histórias e estórias sabe misturar e ensinar! Colocou na cabeça do guitarrista Pedro Ferreira e do baterista Miguel Abelaira as cadências sincopadas dos ritmos africanos a encontrarem-se com os sons da desconstrução que a aventura pós-rock ofereceu às gerações futuras.
Sobre a frecha onde se encontram estas duas placas tectónicas, passado e futuro, peles e electricidade, os dois músicos começaram em 2012 a tocar e trocar ideias. No mesmo ano lançaram o single “Afrobrita”. Começam, assim, os Quelle Dead Gazelle a correr e sem mostrar sinais de falta de fôlego.
Em 2013 o primeiro EP, “Afrobita”, gravado e produzido com os produtores Makoto Yagyu e Fábio Jevelim, leva-os aos palcos do Optimus Alive, Milhões de Festa, Paredes de Coura e Serralves em Festa e, ainda, a ganhar o Festival Termómetro, sendo a primeira banda instrumental a consegui-lo. Com mais de 50 concertos dados, chegaram ao final de 2015 com sede. Sede de subir a barra num novo disco e de o mostrar ao vivo. “Maus Lençóis” é o primeiro longa duração da banda e regista o reencontro do duo de músicos Ferreira-Abelaira com o duo de produtores Yagyu-Jevelim desta vez no estúdio HAUS. O disco saiu em Abril de 2016 e adensou o vocabulário que “Afrobrita” iniciou e mostrou uma gazela em controlo, força e graça.
Entre 2016 a 2021, Miguel gravou um disco com Riding Pânico e Pedro participou no disco do André Henriques e no disco dos YAKUZA, para além de fazer várias produções no Haus (Atalaia Airlines, Yakuza, Galgo, Metamito, entre outros). Depois de em 2021 regressarem aos ensaios, os Quelle Dead Gazelle lançam agora o seu segundo longa duração, “Dança Suja Chão Sujo”, com gravação e produção pelo duo no Haus e mistura por Pedro Ferreira. Teve direito a dois singles: “Asas de Mosca” e “Lisboa Morte”.
DANÇA SUJA CHÃO SUJO
Nem todas as danças têm de ser translúcidas nem a conjugação de realidades cristalina. A música, como uma dança e uma realidade que se interligam, precisa de submergir para que possa, em uníssono, emergir com sentir, sentido e emoção. “Dança Suja Chão Sujo” é o novo longa-duração de Quelle Dead Gazelle e surgiu da necessidade dos dois músicos (Pedro Ferreira e Miguel Abelaira) se reencontrarem e reinventarem após uma longa pausa que se prendeu com a dificuldade intrínseca que acompanha um projecto cuja essência se foca, apenas, na guitarra e na bateria, tentando manter a formação (2 elementos) sem nunca cair na mesma sonoridade nem defraudar as músicas ao vivo.
Este disco traz um novo registo, com guitarras mais apoiadas nos alicerces da música portuguesa e baterias fundadas nos ritmos africanos/tradicionais. Sem nunca perder o sentido do rock, os Quelle Dead Gazelle tentam misturar todas as influências que os fazem sentir em casa, desde o fado à bossa-nova, ou do kuduro a influências mais pesadas. Surge, também, a introdução de texturas mais electrónicas neste novo longa duração, coisa que nunca antes tinham tentado. “Dança Suja Chão Sujo” é uma viagem dentro de Portugal com tonalidades de múltiplas nacionalidades. É um arriscar em cocktails sonoros que nos podem fazer embrenhar em realidades distintas onde vamos saborear dicotomias sensoriais entre o desconforto e a satisfação.
O texto aqui publicado é uma reprodução do press release Ride The Snake.