Santana, Abraxas

“Abraxas” é criativo, vibrante, instrumentalmente prodigioso e pioneiro. A obra-prima de Carlos Santana e um dos mais magistrais álbuns do rock clássico.

Acordes atmosféricos de piano, pratos de bateria a simular os ventos equatoriais, fazendo vibrar espanta-espíritos, uma guitarra estridente num bending simples, mas sólido, e depois a erupção da fusão entre a frenética percussão latina e a solenidade de um Rhodes. “Singing Winds, Crying Beasts” introduz-nos num mundo exótico, num ritual de voodoo que mistura blues, jazz, salsa e rock – introduz-nos em “Abraxas”, o segundo e, possivelmente, o melhor álbum de Santana.

“Black Magic Woman”, cuja sexualidade vibrante surge ilustrada na espectacular capa concebida por Maty Klarwein, é o rosto principal da obra que ainda hoje, e depois de calamidades como álbuns de duetos e de versões, faz evocar o nome de Carlos Santana como um dos maiores no panteão da guitarra eléctrica. Aquele momento em que o tema é quebrado para o frenético ritmo percussivo que envolve o solo improvisado. E depois aquela tríade de notas no riff final…

Todos os deuses do groove decidiram agraciar o guitarrista mexicano. Aliás, a partir daqui esta música passou a ser de Santana e o original de Peter Green [Fleetwood Mac] tornou-se uma curiosidade obscura (mas não devia). Contudo, Santana era mais que o seu guitarrista. A solidez com que, todos juntos, soavam é a grande catapulta da guitarra do azteca, cujo estilo sempre se tornou mais pertinente funcionando em pequenos apontamentos, a electrizar o psicadelismo das estruturas latinas, fossem salsa ou mambo. Isso é por demais evidente em peças como “Oye Como Va” (original de Tito Puente) ou “Incident at Neshbur”. Em “Se a Cabo” essas premissas são mantidas, mas este é um dos temas em que Carlos Santana mais exibe o seu virtuosismo. “Samba Pa Ti”, o momento mais relaxado do álbum, surge entre os dois mais musculados. Antes é “Mother’s Daughter”. Aqui, sem perder o seu espírito de fusão, a banda faz uma peça clássica de rock. É aqui que mais soam as Gibson SG Special de Carlos – antes das Les Paul e, mais tarde, das PRS, eram esses modelos, equipados com P-90s, que davam aqueles médios tão perfurantes quanto característicos no som do guitarrista.

A esse respeito, no final de 2021, a PRS lançou uma versão especialíssima de edição limitada da sua guitarra de assinatura Carlos Santana, para celebrar o 50º aniversário do segundo álbum do músico. Limitado a 1.000 unidades para todo o mundo, o modelo PRS SE Santana Abraxas apresenta grafismo alusivo ao artwork (fenomenal, diga-se) do álbum, mas sobre um acabamento preto brilhante. Naturalmente, mantém muitos dos specs comuns dos modelos SE com a assinatura de Santana. Desde logo, a Santana Abraxas 50 tem um corpo de mogno sólido e tampo biselado em maple – o objectivo principal é o sustain. Tem uma escala em rosewood algo curta, de 24,5″, num braço em mogno com o design Wide Pattern e atravessada por 24 trastes, com os tradicionais pássaros entalhados. Há ainda a destacar um tremolo de moldagem patenteada pela PRS, afinadores também de stock da marca e um par de humbuckers PRS Santana “S”, com um switch alternador de três vias instalado por baixo da ponte e controlos de volume e tone. Santana tem estado umbilicalmente ligado à PRS Guitars, desde os primeiros dias da marca. Foi um dos primeiros guitarristas de vulto a adoptar os designs de Paul Reed Smith e foi igualmente influente no lançamento da série SE, a mais economicamente acessível da marca, em 2000. Podes visitar a PRS Guitars para mais detalhes.

De volta ao disco, o demolidor riff de órgão de “Hope You’re Feeling Better”, pesadão mesmo, quando dobrado com as guitarras, com um groove e solos capazes de colocar, nesta altura, Santana a rivalizar com Hendrix. O final do disco, com “El Nicoya”, é uma fantasia de percussão. Um bom ritual de voodoo deve acabar como começou, afinal. “Abraxas” é tudo: criativo, vibrante, a confirmação do pioneirismo que o disco de estreia e a aclamada actuação no Woodstock haviam revelado, e um dos discos que, pela sumptuosa capa (pintura de Mati Klarwein de 1961, “Annunciation”), mais vale a pena ter em vinil. E, já agora, o Santana tem umas parecenças físicas com o Pequeno Genial, o Chalana!

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