Senhor dos Anéis, The Fellowship of the Strings

Os livros de Tolkien são dos mais estimados em todo o mundo e não só possuem uma importância axiomática na literatura, como inspiraram inúmeras bandas, álbuns e canções ao longo das décadas. Aqui reunimos uma lista de bandas inspiradas no nome de cada um dos personagens que formaram a Irmandade do Anel, no Senhor dos Anéis.

Há poucos livros tão globalmente amados como a saga de Frodo Baggins. A trilogia de Peter Jackson fez crescer o público e – mesmo com os muito criticados três filmes que adaptaram “O Hobbit” – a sua visualização ganhou honras de experiência recorrente em qualquer lar. Aliás, a noção disso será aquilo que motivou a Amazon a investir como nunca se fez antes numa série televisiva. A nova versão cinematográfica de “O Senhor dos Anéis”, centrada na Segunda Era da Terra Média é já a série televisiva mais cara de sempre, tendo estreado em Setembro de 2022.

A devoção à mais célebre obra literária de fantasia permanece intacta. De resto, os filmes tornaram-se pilares na programação televisiva assim que entramos nas semanas do Advento. Todos se querem banhar sob a luz de Eärendil…

A devoção a “O Senhor dos Anéis” começou em 1954, quando J.R.R. Tolkien publicou pela primeira vez “A Irmandado do Anel” (“Fellowship of the Ring”). Os livros cativaram leitores de todos os quadrantes, mas especialmente os artistas e, entre estes, os músicos. Assim, surgiram bandas por todo o mundo que se inspiraram nos livros de Tolkien. Nos anos 70, rockers como Led Zeppelin e os Rush, músicos jazz como John Sangster e folk como Sally Oldfield ou até Townes Van Zandt, escreveram música inspirada n'”O Senhor dos Anéis”.

Desde então, continuaram a surgir bandas que enraizaram toda ou quase toda a sua iconografia nas obras de Tolkien, especialmente bandas dentro do espectro do heavy metal – nomes como Blind Guardian e Summoning estabeleceram a sua reputação através de composições sobre os elfos, anões e numenoreanos que habitam a Terra Média. Uma exploração rigorosa de todas essas bandas seria capaz de encher a Câmara de Mazarbul, de modo que nos focamos exclusivamente em bandas cujos nomes são directamente extraídos dos nove membros da Irmandade do Anel.

Se, cada vez que tornam a ver um dos filmes ficam a odiar mais um pouco as estúpidas liberdades criativas de Peter Jackson e a mutilação de Fran Walsh ao texto original, então experimentem uma aventura alternativa: perceber se estas nove bandas conseguiriam levar a cabo a empreitada de destruir o Anel Único.

Nos livros de Tolkien, as ambições políticas de Frodo foram coroadas quando se tornou no vice-presidente da Câmara Municipal do Shire, mas esta banda peruana atribui-lhe outro papel, o de rei. O seu som post rock ainda em fase muito embrionária não é animador. Aliás, não parece que o Rei Frodo alguma vez tenha conseguido sair de Hobbiton: esta demo de duas canções, de 2016, é o seu único lançamento até à data.

Nos filmes, um Samwise Gamgee bastante tímido tem de ser literalmente empurrado por Frodo para dançar com Rosie, a hobbit que acabaria por se tornar sua esposa. Este Samwise é mais expedito com a dança. O DJ nascido em Reykjavik desenvolve um denso tech house através de batidas minimalistas. N'”O Senhor dos Anéis”, pela sua feroz lealdade a Frodo, Sam é levado bem para lá da sua zona de conforto. O DJ homónimo propõe-se fazer o mesmo com a dance music, através de algum psicadelismo.

Desde o lançamento dos filmes, a Nova Zelândia tornou-se indissociável da Terra Média, mas os livros são fundamentalmente ingleses, lançados numa Grã-Bretanha pós-guerra que se olhava ao espelho após um conflito que matou quase meio milhão dos seus cidadãos. O indie folk simples de Merrym’n está profundamente enraizado nas ruas da sua terra natal Stoke-on-Trent, apimentado com observações cortantes sobre classes sociais no Reino Unido. Quando lhe é dada oportunidade, como a qualquer outro dos hobbits, na verdade, Merry é capaz de mostrar coragem valorosa. Tal como Merrym’n numa canção como “Forever Valiant”, que Ian Anderson, certamente, não se importaria de ter escrito.

Pippin é o grande personagem tragicómico de Tolkien: um tolo que se mete em problemas com o seu descuido, para finalmente se redimir, salvando o filho de Denethor, Faramir, de um pretenso filicídio. A cantora e compositora de L.A. Hannah Moroz abraçou o saco de pancada de estimação de Gandalf e usou o insulto Fool of a Took para um disco onde canta letras inspiradas não só em “O Senhor dos Anéis”, mas também em “Harry Potter” e “Guerra dos Tronos”. Cândido.

Gravado em 1982 e apenas lançado em 2012, o único álbum da banda britânica de NWOBHM, Aragorn, é uma pérola old-school, ainda que algo áspero nas arestas. O Aragorn de Tolkien é o herdeiro de Isildur e o verdadeiro Rei de Gondor, mas quando o conhecemos pela primeira vez na “Irmandade…”, ele não é diferente da banda que usa o seu nome – misterioso, imprevisível e perigoso. Ao longo do curso da trilogia, ele emerge como um quadro da perfeição, o nobre guerreiro que nunca erra no julgamento e se agarra a um rigoroso código de ética, à medida que se eleva para assumir o papel de rei. O heavy metal dos Aragorn não está exactamente à altura disso, mas pelo menos conseguiram um par de malhas capazez de fazer estremecer o Portão Negro do Vale de Udûn.

Não demos com nenhuma banda chamada Boromir, mas há uma banda com o nome do local onde ocorre a sua mais significante intervenção na trilogia. É junto à Cataratas de Rauros que Boromir tenta tirar o anel de Frodo, aí que se redime, quando morre para defender Merry e Pippin, e é nas Cataratas de Rauros que a sua embarcação funerária navega pela última vez. Esta banda de black metal não versa sobre Tolkien mas, em entrevista, o frontman Aaron Charles explica: «Em primeiro lugar, o nome é suposto conjurar a imagem da natureza como algo poderoso, intratável e indomável. Mas, por outro lado, os acontecimentos que acontecem perto deste local, no romance de Tolkien, retratam brilhantemente tanto a virtude como o vício de que a humanidade é capa». Essa dicotomia é o que a banda desenvolve na sua música.

Este é meio aldrabado. É certo que Green Leaf é um obscuro do elfo da Irmandade, Legolas. Toadvia, algo nos diz que esta banda é inspirada numa outra Folha Verde. Afinal, o seu propulsivo stoner rock não se assemelha muito aos movimentos elegantes e precisos do mestre arqueiro. Bom, inalem um pouco de Old Toby (ou o que tiverem à mão) e deixem-se ir atrás dos riffs destes antigos companheiros de editora dos Miss Lava.

O irascível Gimli, Filho de Glóin, partilha o seu nome com esta dupla britânica de deathgrind, que chega ao ponto de utilizar samples de diálogos do actor John Rhys-Davies nos filmes em detrimento de linhas vocais. O estilo de Gimli em combate e em conversa é rude, intransigente e brutal e a banda reflecte isso através de canções carregadas de riffs, blasts e breakdowns. Ou seja, death metal perfeitamente destilado, para punir e não para embelezar. Suspeitamos que o vigoroso anão seria fã, se houvessem discos na Terra Média.

Para o fim, Gandalf. O mais importante e célebre personagem de Tolkien, o lacónico feiticeiro que despoleta os acontecimentos d'”O Senhor dos Anéis”. Se há coisa que o rock ‘n’ roll adora, são feiticeiros, místicos, videntes e homens mágicos. É algo que está bem documentado e há poucos (talvez só Merlin) que seja mais popular que Gandalf. Esta banda nova-iorquina, parte do psicadelismo da década de 60, está longe de ser o único projecto musical a usar o nome Gandalf, mas capta o seu espírito de forma brilhante. Há qualquer coisa de místico e de etéreo no seu, por vezes assustador, psych rock derivado do folk. Da mesma forma que Gandalf, o Cinzento se eclipsou depois da brutal batalha com o Balrog, regressando como Gandalf, o Branco, esta banda apenas lançou um álbum nos anos 60, antes de desaparecer e acabar por regressar em 2007 com “Gandalf 2”, um álbum construído a partir de gravações perdidas dos arquivos do cantor e guitarrista Peter Sando.

Artigo traduzido e adaptado de “The Fellowship of the Bands: Nine Artists Inspired By “Lord of the Rings”, de Brad Sanders. Ilustração de Smaug de Eric Fraser.

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