Tom G Warrior Reflecte Sobre “Into The Pandemonium”

O álbum que cimentou o vanguardismo sónico dos Celtic Frost enfrentou muitos obstáculos na sua criação. A caminho do SWR Barroselas Metalfest, Tom G Warrior reflecte sobre o grande mérito de “Into The Pandemonium”, sobre o legado do seu passado e ainda o futuro dos Triptykon.

Tom G. Warrior está bem consciente do legado dos titãs suíços Celtic Frost, que foi alvo de recente celebração através do luxuoso box set Danse Macabre. Essa edição reúne os trabalhos dos Celtic Frost na sua época mais pioneira, entre 1984-87, e Warrior conversou com a Metal Injection nesse contexto. «Tenho sorte com as pessoas da BMG. Respeitam os artistas e pediram-me para co-desenvolver o conceito com eles. E pediram-me que supervisionasse todo o trabalho artístico para o tornar basicamente num verdadeiro projecto de Celtic Frost, em vez de ser um cash in típico de uma label. Estavam abertos a tudo o que eu quisesse contribuir e, do meu lado, claro, as contribuições também tomaram em consideração o que Martin Ain teria feito se ainda o tivéssemos feito em conjunto».

Na curta entrevista, Warrior aka Gabriel Fischer ponderou sobre o difícil parto daquele que, para muitos, é o pináculo desta era da banda: o álbum “Into The Pandemonium”. O trabalho foi um ponto de viragem na carreira do histórico grupo, implicando um crescimento estético que, na época, foi alvo de debate e choque com a editora. E se não é um disco perfeito, na opinião de Fischer, é claramente um exercício de emancipação. «Estou bem ciente das suas falhas. E, claro, não é uma obra-prima. Penso que dizê-lo é demasiado lisonjeiro. Mas o que representa são dois jovens músicos a lutar pela sua liberdade artística. Por estranho que isto possa soar hoje em dia, quando basicamente se pode fazer o que se quer na música. Nessa altura, era literalmente uma luta diária contra a companhia discográfica e contra certas percepções na cena e nos meios de comunicação social. E a editora discográfica tentou, literalmente, encerrar a produção em vários pontos. E tínhamos realmente de apoiar a nossa visão artística».

«Tivemos mesmo de lutar por ela. E sinto-me invulgarmente orgulhoso disso, independentemente de como o álbum saiu realmente», acrescenta o músico. «Parte do álbum foi um esforço válido, mas não funcionou realmente da forma que queríamos. Mas o que realmente é o tema esmagador do álbum é defenderes a tua liberdade artística e não te curvares à pressão comercial e ser apenas um artista autêntico. Se vais usar a palavra arte, então sê realmente um artista e arrisca a tua carreira por algo».

Depois dos Celtic Frost terem editado “Monotheist” em 2006, esperava-se que a banda refulgisse com enorme esplendor. Afinal, o extraordinário disco veio quebrar um silêncio editorial de 16 anos. Todavia, em 2008, Fischer anunciou a sua saíuda da banda. Ain nunca ponderou continuar sem o antigo colega, que formou os Triptykon. O baixista viria a morrer em 2017 e as coisas mudaram um pouco. Há cerca de dois anos, Fischer confessava à Heavy Culture, em declarações resumidas pelas LOUD!, estar aberto à ideia de ressuscitar os Celtic Frost para ou dois concertos em memória de Martin Eric Ain: «Conversei com o Reed St. Mark, o baterista original dos Celtic Frost, (…) sobre a hipótese de fazermos um ou dois concertos em memória do Martin Ain. De momento, ainda não finalizámos esses planos, mas talvez façamos isso um dia. A ideia seria tocarmos apenas com ex-membros dos Celtic Frost que estavam no grupo nessa altura e talvez fazermos um set completo, que inclui todas as eras da banda. Talvez fosse uma boa ideia tocarmos num ou dois festivais e gravar tudo em homenagem ao Martin Eric Ain».

Antes disso, os Triptykon passaram no festival neerlandês Roadburn, nesse mesmo ano de 2019, homenagearam os Celtic Frost em palco e acabaram mesmo por editar em disco essa noite memorável. “Requiem (Live At Roadburn 2019)” funde a sonoridade dos Celtic com arranjos clássicos e orquestrações executadas pela Dutch Metropole Orkest), dividindo-se em três capítulos: “Rex Irae” (precisamente do álbum “Into The Pandemonium”); “Grave Eternal” e “Winter” (extraída de “Monotheist”). Agora, já em 2023, os Triptykon vão prestar nova homenagem aos Celtic Frost com uma série seleccionada de actuações em 2023, incluindo no destival de Houston Hell’s Heroes, em Março.

A este propósito, Warrior diz que «não queria forçar Triptykon a ser uma banda de tributo ao Celtic Frost, claro, mas o nosso guitarrista e eu, ambos fazíamos parte do Celtic Frost. E todos nós, os quatro nos Triptykon, adoramos esta música e ela faz parte da nossa herança. E nunca tocámos os primeiros álbuns do Celtic Frost na sua totalidade. Portanto, para nós, trata-se de uma experiência interessante». Isto acabará por servir de ponte entre o passado e o futuro, pois Fischer revelou que os Triptykon vão trabalhar em nova música em 2023, permitindo que os fãs celebrem o seu legado enquanto aguardam o que está para vir. No final, há que respeitar os fãs: «Estou sempre consciente de que o público me colocou aqui, que basicamente devo tudo às pessoas que ouvem a minha música e lhe dão uma oportunidade à minha música. E sei isso muito bem porque não era assim no início».

Quanto aos fãs portugueses, os Triptykon e uma homenagem aos Celtic Frost não estão no horizonte, mas vão ter a oportunidade de celebrar o legado dos Hellhamer, muito em breve. Em 2023, o SWR FEST regressa com a sua 23.ª edição, e a mesma determinação de sempre, à vila minhota de Barroselas, entre os dias 27 e 30 de Abril. Vão passar pelos dois palcos do SWR, durante quatro dias, 40 bandas e o lendário Tom G. Warrior regressa ao solo sagrado de Barroselas com os Triumph Of Death, para apresentar um concerto composto apenas por temas dos sacrossantos (ou anti-santos, dependerá da perspectiva) Hellhammer, a sua banda pré-Celtic Frost, referêncis transversal a uma grande percentagem dos músicos que têm passado pelo festival ao longo das décadas. O músico actuou no festival em 2010, com os Triptykon. No mesmo ano e num dos melhores cartazes de sempre deu-se ainda a presença dos Kreator. Podem reviver digitalmente essa edição numa das nossas bootlegs do SWR.

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