Tommy Clufetos, O Último Baterista de Black Sabbath

Após o regresso triunfal, com o álbum “13” e uma digressão que esgotou praticamente todas as datas, a “The END Tour” foi anunciada como o derradeiro momento na história dos Black Sabbath. Depois de Bill Ward ter ficado de fora da reunião e de Brad Wilk ter gravado o álbum, Tommy Clufetos foi o homem escolhido para viajar com Iommi, Geezer e Ozzy.

Qualquer fã gostaria que, naquele que foi o derradeiro momento de Black Sabbath, Bill Ward pudesse ter-se juntado à reunião e reformado o lineup original. Mas esse cenário foi completamente colocado de parte. “13” foi gravado por Brad Wilk (Rage Against The Machine), com Tommy Clufetos a sentar-se no drumkit nos concertos, após Bill Ward, desagradado com o contrato que lhe foi proposto, ter desistido de integrar os planos de reunião, em 2011, e iniciado um “bate boca” com Ozzy Osbourne. Portanto, para reunião da formação original, é ouvir a gravação dos concertos de 97, em Birmingham, editada no álbum “Reunion”.

Tommy Clufetos sentou-se atrás dos três monstros do heavy metal, naquelas que foram as últimas milhas da viagem da banda de Birmingham. E, se não se pode ter Bill Ward, sinceramente, tem-se a outra melhor opção. Na anterior digressão, Clufetos mostrou-se à altura dessa honra. Nesses concertos, “Rat Salad” era o momento a partir do qual Clufetos assinava uma obra de arte no seu solo de bateria – podem vê-lo no DVD que foi editado, da data de Melbourne, Austrália, tal como na reportagem que escrevemos, em Londres. Há um ditado latino que ilustra a transformação de um baterista que andou “meio perdido” a tocar com Ted Nugent, Alice Cooper ou Rob Zombie: nanos gigantum humeris insidentes. Depois a humildade com que o americano procura mimicar a dinâmica de pancada de Bill Ward, e até mesmo a pose deste, é tocante. No final desse concerto em Londres, todas as conversas acabavam por chegar ao: «E aquele baterista, hein»? Nessas datas, a cadência do solo de bateria ia diminuindo até uma pancada única no timbalão de chão, num lento compasso 4/4, e a chegada colossal de “Iron Man”.

Tocar com três músicos lendários canções de igual calibre; a sua filosofia perante o instrumento e até mesmo a construção daquele solo de bateria memorável, que surgia a meio da setlist… Tommy Clufetos olha para trás e para essas datas das duas últimas digressões na grande viagem dos Sabbath. Ele foi o “Supernaut” que conduziu e cadenciou o leviatã.

É como uma injecção de adrenalina subir a palco para tocar malhões que cresceste a ouvir?
Não há maior “pedrada” que subir a palco para fazer o que adoras. Poder fazer isto é o epítome desse sentimento. Era fã (de Sabbath), mas sem sequer o saber, se é que isso faz sentido. Desde puto, sempre adorei esses temas, mesmo que não soubesse exactamente o que estava a ouvir. Surgiram um pouco antes do “meu tempo”, mas foi uma enorme excitação poder fazer parte disto.

Agora que fizeste parte da banda, quais são as canções que mais gostas de tocar?
Não tenho favoritas. É tudo o meu favorito. Apenas pretendo ser o melhor que posso ser em cada nota que toco, sem ser demasiado perfeito, o que faria com que fosse imperfeito. É preciso ter risco, vibração e atitude.

E considerando a história da banda, tocas como tu próprio ou necessitas de imitar muitos dos fills?
Bom, há uma audiência que espera ouvir as canções de certa forma e tento dar-lhe isso, mas é claro que acaba por soar a mim. É um pouco de ambos. Quando vou para um concerto, não gosto que falte um momento característico a uma canção e quero dar isso aos fãs. Se é uma parte que deve estar lá, toco-a porque a música merece isso.

Isso quer dizer que estudas as gravações de estúdio e os discos?
Passo os discos a pente fino, uma e outra vez. Também precisas ouvir sem estar a tocar por cima. Muitas vezes acontece estar a fazer jam e pensar-se que se está a aprender a canção mas, se estás apenas a tocar por cima, podes acabar por perder algumas das suas subtilezas. Mesmo quando tenho uma folga, meto-me a ouvir tudo e descubro que há coisas que posso fazer de forma diferente. É um processo em contínuo e em evolução permanente. Um quadro que nunca está terminado.

Nesse sentido, haverá coisas que tornas a ouvir e dizes: «Hei, fiz isto como é suposto»!
Sim! É uma experiência. Não sou um tipo que faz sempre tudo exactamente igual. Isso é muito estéril. Se há partes que funcionam, tenho que as fazer. Mas nesta banda, com tipos desse tempo, todos experimentam coisas. Essa é a beleza. Todos estão no limite e é isso que cria entusiasmo.

E qual é a diferença entre tocar com Sabbath ou com o Ozzy a solo?
A abordagem é diferente, há um pouco mais movimento. Todavia, abordo cada concerto sempre da mesma forma, a minha perspectiva deve ser diferente da vossa. Sempre que toco com alguém, mergulho na música e devoro cada detalhe, para me encaixar tão bem quanto posso. Estes tipos tocam estas canções há mais de quarenta anos, então preciso de muito trabalho extra para atingir esse conforto, um sentimento de que não estou apenas a tocar as canções, mas que estou a tocar dentro da música.

Precisas de saber os teus limites, mas também de arriscar. Se isso surge do teu lado honesto, é bom, mas se surge de uma necessidade de impressionar os outros, então não tem a ver com amor à música.

Já acabaste algum concerto com a sensação de ter improvisado em excesso e ter pisado alguma linha?
Talvez no início. Tenho sorte porque há muito que dou concertos e bati com os queixos cedo, tendo feito os meus erros no início. Acredito que precisas de errar, que precisas de descobrir o teu espaço em palco e descobrir o que funciona e o que não funciona. E precisas de ser honesto contigo próprio e manter a mente aberta. Muitas vezes, as pessoas não se auto-avaliam com honestidade. É difícil, mas precisas de ser o teu próprio crítico. Precisas de saber os teus limites, mas também de arriscar. Se isso surge do teu lado honesto, é bom, mas se surge de uma necessidade de impressionar os outros, então não tem a ver com amor à música. Tenho tentado deixar esse lado da inspiração a fazer-me tocar certas coisas. Vou pelo que sinto e se me sinto bem faço isso.

Descobriste cedo que querias ser baterista?
Quando recebi a primeira bateria, aos sete anos de idade, soube exactamente o que queria ser. Nunca tive qualquer dúvida na minha vida. Via bandas na televisão ou ia a concertos e dizia: «Consigo fazer aquilo»! Mas é preciso paciência e estar disposto a trabalhar. Tem tudo que ver com diligência, disciplina e aguentares-te no barco. E precisas de estar preparado quando surgir a oportunidade.

Sentes algum tipo de fadiga ou ainda possuis aquele entusiasmo juvenil quando tocas bateria?
Sinto-me absolutamente abençoado cada uma das vezes que subo a palco. Talvez por ter começado bem do fundo. Agora que faço isto, olho para a audiência e digo «Obrigado!» e não posso tomar nada como garantido. Trabalho no duro e estou mais focado hoje que alguma vez estive. Quanto mais me envolvo, mais dou de mim porque nunca fica mais fácil. Vai ficando mais e mais difícil.

E o que é que se aprende a trabalhar com músicos como o Tony Iommi ou o Geezer Butler, em digressão?
Estes tipos fazem isto há cerca de 45 anos e entregam-se mais que qualquer indivíduo mais jovem com quem tenha tocado. Estão sempre focados no concerto, o que reforça o que estava a dizer e a minha filosofia, que é a mesma que a deles. Estou a tocar com o melhor guitarrista, melhor baixista e melhor frontman do mundo e eles abordam tudo como o mais importante ser o próximo concerto. Não te podes preocupar com o futuro, tens que tentar e ser o melhor que podes ser agora. Mantenho uma rotina diária: vou ao ginásio e treino bateria. Se funciona, continuo a fazer.

A boa forma física é essencial para estar preparado enquanto baterista?
Tocar bateria é uma coisa física, tens que te manter em forma. Para mim é essencial, pois a bateria é um instrumento muito físico. Não ando “nos copos”, seja lá o que isso significa. Para mim, curtir é o que estiver a fazer na hora de estar em palco.

E em salas tão grandes como as da digressão de Sabbath. Há alguns truques necessários?
Tens que definir o que tocar e não tocar. Numa sala grande há coisas que não conseguem furar. Não vão ter tradução. É preciso tocar de forma a manter a banda coesa. És tu, o teu ego vs. o que estás a tocar.

E o solo de bateria, como o construíste?
Bom, é uma forma de arte tocar para tanta gente. Não tenho a certeza quanto ao processo, mas é algo que tem sido desenvolvido ao longo dos anos e que, assim espero, tenho vindo a dominar melhor. Há coisas que são traduzidas, que passam, e outras que não e precisas de te separar do teu lado de músico. É rock n’ roll, portanto tens que tocar para a multidão e não para os teus coleguinhas de bateria. Algo que viste num workshop de bateria não vai funcionar num mega concerto ou num festival. E vario todas as noites, também. Há uma certa estrutura, mas posso fazer algo ou a multidão ficar “presa” a algo que me faz ir numa direcção diferente. Sigo um pouco o instinto.

Na primeira tour passada estreaste um novo drumkit. O que podes dizer sobre isso?
DW! Eu e o meu técnico de bateria, tivemos uma ideia baseada no meu conjunto de base, que é composto por um timbalão de rack, dois de chão e um bombo. Também tenho um segundo bombo, que uso mesmo – detesto os tipos que possuem dois bombos e usam um pedal duplo! Depois tenho uma série de outras peças onde quer que as consigamos encaixar, pelo lado cénico. O hardware é muito bom, tal como o som, e os shells de mogno resultaram mesmo bem nos concertos. São quentes e poderosos, são perfeitos! Não aconteceu nada com o material, não se partiu nada (e, habitualmente, parto sempre algumas peças).

Para terminar. Que conselho deixas a quem queira ser baterista e “um dia tocar com Black Sabbath”?
Sejam o melhor que podem ser e façam tudo o que for possível para serem o melhor que podem ser. Quis ser baterista, então todos os dias, em cada momento e cada decisão que tomava, eram ditados por uma pergunta constante: «Isto ajuda-me a atingir o meu objectivo ou impede-me»? Se queres fazer algo, ou vais lá e fazes ou não, o resto são apenas desculpas. As desculpas não servem. Deixem-se de manias e mandem-se ao trabalho, ou não.

Entrevista publicada originalmente na revista DW The Edge e traduzida ao abrigo de parceria estabelecida na NAMM 2017.

Um pensamento sobre “Tommy Clufetos, O Último Baterista de Black Sabbath

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