Tudo o que Podem Descobrir em The Pedal Movie

Kevin Shields, Billy Corgan, Steve Albini, J Mascis ou Graham Coxon são alguns dos músicos/produtores que aparecem em The Pedal Movie, o compreensivo filme-documentário sobre os pedais de efeitos e a sua influência na música actual. Eis tudo o que podem descobrir sobre o filme e os pedais exclusivos que foram criados para o promover.

Foi realizado pela primeira vez um filme sobre a história dos pedais de efeitos e de guitarra, contado pela voz das pessoas que os fazem e os músicos que os usam. “The Pedal Movie” trata-se de uma produção da Reverb. O filme mergulha de cabeça na cultura dos pedais e conta a história de como uma pequena indústria cresceu, passando de um punhado de marcas para uma miríade de construtores (dos mais profissionalizados aos mais artesanais) que proliferam no mundo actual. Apontado ao Verão de 2020, acabou por ter a sua estreia adiada para 2021, fruto do cenário global da pandemia. Para aumentar o hype foi criada uma acção conjunta de promoção, com a EarthQuaker Devices e a Death By Audio, além da Chase Bliss Audio e a Zvex, a juntarem-se para construir stompboxes bastante especiais, que revemos já de seguida…

EarthQuaker Devices vs. Death By Audio: Time Shadows | Há poucas marcas indies de pedais que gostemos tanto como a EarthQuaker Devices e a Death By Audio (de Oliver Ackermann, dos A Place To Bury Strangers). Portanto, é enorme o entusiasmo por perceber que ambas as marcas uniram forças para criar o Time Shadows, uma unidade que reúne dois pedais, com cada uma das marcas a conceber cada um dos circuitos. “Ollie” Ackermann refere que, na metade da EarthQuaker, o pedal tem «um demente e explosivo som synth buzz» e, no lado da Death By Audio, «um filtro de constante reformulação e múltiplos enlaces de delay». Cada uma das metades do circuito soa bastante distinta da outra, mas estão preparadas para soar massivamente. A colaboração consistiu em cada um dos fabricantes desenhar um novo efeito a partir de uma das placas de circuito EarthQuaker. A unidade tem uma disposição simples: três botões, para controlar o tempo de delay, a extensão do filtro e o cutoff deste. No meio destes controlos há o comutador para escolher o circuito que se pretende operar.

Chase Bliss Audio vs. ZVEX FX: Bliss Factory | Como o nome indica, esta colaboração é basicamente uma interpretação da Chase Bliss ao lendário circuito do Fuzz Factory da Zvex. O pedal surge no chassis tradicional da Chase Bliss, com o mesmo tipo de botões e uma série de entradas de controlo extra, além de um footwsitch secundário. Este novo pedal fuzz apresenta-se com controlos de volume, drive, gate, compression, stab e low pass filter. Há ainda toggle switches para determinar a espessura do som, o carácter do filtro e o comportamento da entrada MIDI/footswitch auxiliar. Na melhor tradição das stompboxes da Chase Bliss, todas as definições podem ser arquivadas em presets, mapeados ou controlados através de pedal de expressão. Para gerir tudo isto há um controlo digital no centro do pedal, no entanto a via de sinal é mantida 100% analógica. Estão disponíveis também alternadores que permitem ajustar o comportamento da operação digital.

Depois, a Chase Bliss tornou a associar-se ao Reverb.com e à promoção do documentário com um novo modelo especial, tal como fizeram a Walrus Audio and Way Huge. A Chase Bliss criou uma nova fornada dos modelos originais de edição limitada Bliss Factory, modelo de colaboração com a Zvex, agora com um novo visual. Este pedal fuzz apresenta-se com controlos de volume, drive, gate, compression, stab e low pass filter. Há ainda toggle switches para determinar a espessura do som, o carácter do filtro e o comportamento da entrada MIDI/footswitch auxiliar. Na melhor tradição das stompboxes da Chase Bliss, todas as definições podem ser arquivadas em presets, mapeados ou controlados através de pedal de expressão. Para gerir tudo isto há um controlo digital no centro do pedal, no entanto a via de sinal é mantida 100% analógica. Estão disponíveis também alternadores que permitem ajustar o comportamento da operação digital.

Já o pedal exclusivo da Walrus Audio é o modelo dual-drive Warhorn/Ages, que combina as duas reputadas unidades de drive da marca num único pedal. No lado do Warhorn surge uma overdrive bastante transparente com opções de clipping simétrico ou assimétrico. No lado Ages há cinco modes de operação que variam entre low-gain e high-gain. O mesmo dizer que podem ir progredindo a partir de uma distorção bastante atenuada, para a maior chafurdice possível, sempre com a elegância de som de componentes de alta qualidade, naturais num modelo boutique.

A proposta da Way Huge passa apenas por uma actualização visual a dois dos seus mais emblemáticos pedais de distorção. O Beer usa o mesmo circuito do Saucy Box ou seja, oferece sons de drive aproximados aos de amplificadores, graças a discretas vias de sinal limpo ou distorcido. E o Effect Pedal recorre ao circuito do Swollen Pickle Fuzz – uma unidade fuzz tão  simples como poderosa, com os seus parãmetros de loudness, sustain e filter e ainda os controlos de scoop e crunch.

O FILME

The Pedal Movie é um documentário considerado como «o olhar mais abrangente sobre como os pedais de efeitos influenciaram o som da música popular tal como a conhecemos» e apresenta entrevistas com notáveis músicos e produtores como Kevin Shields (My Bloody Valentine), J Mascis (Dinosaur Jr.), Billy Corgan (Smashing Pumpkins), Graham Coxon (Blur), Nels Cline, Sarah Lipstate, Steve Albini, entre muitos outros. Além de artistas, The Pedal Movie destaca também alguns dos principais construtores de pedais dos dias de hoje, incluindo Chase Bliss Audio, EarthQuaker Devices, JHS Pedals, Strymon, Walrus Audio, entre outros. O filme acompanha ainda o desenvolvimento histórico dos pedais de efeitos de guitarra, começando com a invenção acidental do primeiro exemplar no início dos anos 60.

«A inspiração inicial para The Pedal Movie foi perguntar como é que este objecto de bolso cresceu para esta comunidade de forma maciça, com novos pedais e empresas a entrar continuamente» no mercado, afirma o co-director Dan Orkin, num comunicado de imprensa. «Hoje em dia, há milhares de construtores a produzir centenas de milhares de pedais todos os anos para uma comunidade cada vez maior de músicos, sempre à procura de novas formas de se expressarem. Estas pequenas caixas mudaram a forma como as pessoas fazem música e, por fim, mudaram para sempre o curso da música popular».

A evolução dos pedais de efeitos tem sido incrível. Há-os para todos os gostos, tamanhos, feitios e, claro, preços. E a própria natureza do fabrico destas caixinhas mágicas já indispensáveis deu às pequenas empresas uma oportunidade de causar um enorme impacto no mercado. Este tão aguardado documentário é a fascinante visão sobre o passado, presente e futuro dos pedais de efeitos, destacando uma série de pessoas inspiradoras que têm trabalhado para ajudar os músicos a obterem o melhor som possível – designers, visionários, produtores, músicos, curiosos e personagens carismáticas que fazem dos pedais de efeitos uma das componentes mais excitantes da indústria. Antes de entrarmos nos pormenores, convém informar que este filme exaustivo de 2 horas e 20 minutos eleva a fasquia com altos valores de produção, ritmo, entrevistas e narração de histórias excepcionais. Os pedais conseguem finalmente o destaque que merecem com uma história assente numa profunda pesquisa. Só há um problema. Muito provavelmente, este filme vai fazer com que se queira comprar mais pedais.

TUDO SE DEVE A UM FELIZ ACIDENTE

O filme traça a evolução cronológica dos efeitos desde logo com George Snoddy, engenheiro que trabalhou com o cantor country Marty Robbins no tema “Don’t Worry” (o b-side do single “Like All The Others”, de 1961). O baixista era o lendário músico de sessão Grady Martin e, como explica o fundador da JHS Effects, o guru da história dos pedais Josh Scott, o músico estava a usar um baixo Danelectro de seis cordas ligado directamente a uma mesa de mistura novinha em folha. O pormenor que mudaria a história da música: ninguém sabia que havia transformadores defeituosos nessa mesa. O efeito resultante no som de baixo de Grady Martin causou uma discussão no estúdio: Marty Robbins gostou imediatamente do “fuzz tone” e o engenheiro Glenn Snoddy também. É, hoje, difícil de compreender como este som (ousado naquele tempo) foi recebido pelos ouvintes. Mas certo é que outros engenheiros e artistas queriam aquele som, incluindo Nancy Sinatra. Glenn Snoddy não podia confiar apenas num equipamento defeituoso para o reproduzir e criou então uma solução com a ajuda do engenheiro Revis Hobbs. E, em 1962, nascia o Gibson Maestro FZ-1 Fuzz-Tone, a um preço de 40 dólares. Estava criado o primeiro pedal de distorção do mundo.

OS HERÓIS DA GUITARRA

Os primeiros 25 minutos do filme são dedicados aos pedais de fuzz, com Billy Corgan a falar, obviamente, sobre o clássico Big Muff, da Electro-Harmonix. Mas há mais músicos a falarem sobre as suas descobertas ao longo das suas carreiras. Steve Vai e Dweezil Zappa saúdam o trabalho de Frank Zappa ao alargar os limites dos sons na sua música, Peter Frampton fala sobre o seu primeiro encontro com a Talk Box do guitarrista Peter Drake, testemunhos de Dave Knudson, da lenda Dennis Coffey, Nels Cline (Wilco), J Mascis (Dinosaur Jr.), Paul Gilbert, Joe Bonamassa, Kevin Shields, Graham Coxon, Doyle Bramhall II, até do baterista Patrick Carney, dos Black Keys, com os seus primeiros pedais Earthquaker Devices. E a lista continua. É igualmente excitante ver Billy Corgan e J Mascis tocarem, assim como Graham Coxon (Blur), que toca o solo de “Coffee And Tv” no seu fuzz Shin-ei (FY-2), além de todos os conhecimentos interessantes que têm para partilhar com os espectadores.

O REGRESSO DOS PEDAIS BOUTIQUE

O filme acompanha os enormes passos dados na década de 1980 com efeitos digitais e produção em massa, mas o ressurgimento das operações analógicas e de pequenas equipas não podia – e não foi – ignorado. Andrew Barta, com a sua SansAmp (Tech 21), cuja primeira unidade foi construída na sua cozinha, é igualmente entrevistado, assim como outros colegas construtores de pedais boutique, incluindo Mike Piera (Analogman), Zachary Vex (Z. Vex) – que nos mostra o Fuzz Factory original -, Jeorge Tripps (Way Huge), Dave Fruehling (Strymon), Robert Keeley, Jamie Stillman (Earthquaker Devices), Brian Wampler, Fran Blanche (Frantone Electronics) e Joel Korte (Chase Bliss Audio). Mesmo os principais construtores que não são entrevistados recebem homenagens dos seus colegas, incluindo Jack Brossart da Prescription Electronics ou Dan Coggins da Lovetone. Infelizmente, Mike Fuller recebe crédito dos seus pares pelo seu trabalho com pedais como o TOC (Fulltone), mas não integra o ilustre painel de entrevistados. Ficámos igualmente a saber que o construtor Josh Scott (JHS Effects) gostou da mudança do hair metal para o grunge e também descobrimos que há muito espaço tanto para o mercado de massas, como para as pequenas marcas. Há uma grande secção a meio do filme sobre as cenas alternativas e o grunge no início dos anos 1990. J Mascis (Dinosaur Jr.) abraçou os efeitos mais antigos à medida que a sua banda alcançava sucesso nos anos 1990. «Sabia que gostava de fuzz e de barulho. Nunca compreendi efeitos subtis do tipo: “Oh isto é transparente”. Não compreendo. Isso sempre me desconcertou». A certo ponto, J Mascis salienta: «Quando estava a aprender a tocar guitarra estava a aprender a tocar efeitos ao mesmo tempo».

CRAIG ANDERTON E RG KEEN, FIGURAS-CHAVE

O livro de Craig Anderton “Electronic Projects For Musicians”, de 1980, tornou os esquemas acessíveis a uma geração de pessoas que levariam, depois, as suas vidas como construtores de pedais. O livro/manual alimentou uma mentalidade de bricolage que foi absolutamente crucial para esta indústria. «Penso que os tipos com quem estava a aprender cresceram com esse livro de Craig Anderton», diz Brian Wampler, que acabaria por escrever um livro chamado “How To Modify Guitar Pedals”. RG Keen foi outra figura-chave com o seu trabalho na Usenet – um pioneiro por colocar esquemas na Internet que os futuros construtores poderiam utilizar.  A partilha de conhecimentos é a chave para qualquer comunidade, e para os pedais a evolução da Internet amplificou esse facto de forma massiva. Não é por acaso que a quantidade de empresas de pedais aumentou com o crescimento da web.

O FUTURO É BRILHANTE

O último terço do filme inclui um olhar atento sobre o estado actual do mercado e os novos e corajosos mundos sónicos explorados por marcas como a Earthquaker Devices, a Walrus Audio ou a Death By Audio, assim como o lugar que os pedais têm agora na vida dos guitarristas. É sabido que os pedais são uma regra e não uma excepção e bandas como Radiohead ou The Mars Volta viram os seus músicos a manipular eficazmente os efeitos em palco como se fossem instrumentos em si mesmos. A música alternativa alimentou o mercado dos pedais e, por sua vez, esses efeitos de nicho conduzem as canções. O lado boutique da indústria também provou ser incrivelmente resistente, o que é uma óptima notícia para amadores que passaram a ser empresas. Mas para onde vamos a partir daqui?

O filme também olha para o futuro como um destino excitante. As variáveis das componentes ainda estão a ser exploradas, as subtilezas que permitem uma enorme variedade de pedais também, para não falar do processamento de sinais digitais. Destaque para marcas como a Meris, a Strymon, a Source Audio, a Line 6, a Walrus Audio ou a Chase Bliss, que abriram ainda mais portas para pedais com DSP. Alguns pedais vão expandir a musicalidade. Alguns irão sempre favorecer a escola de pensamento mais transparente e de melhor gosto. E isso é o melhor dos pedais, há algo para toda a gente. O filme também olha para os altos e baixos do marketing das redes sociais que permitiu mais concorrência no mercado. E enquanto os fóruns outrora ajudaram a comunidade de bricolage a prosperar, há agora um lado mais escuro nessa realidade.

Numa nota mais positiva, é óptimo ver The Pedal Movie dedicar algum tempo às mulheres e às minorias na indústria, num filme que mostra, sobretudo, que a originalidade continua a prosperar na indústria do fabrico de pedais. A conclusão que se retira de The Pedal Movie é que os criadores de efeitos continuam a apoiar-se mutuamente, mas querem continuar a elevar a fasquia. E isso… só pode ser uma tremenda notícia para os músicos.

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