O som de João Hasselberg surpreendente a cada momento, conciso, mas ainda assim amplo, deixando espaço à interpretação do próprio ouvinte e tornando os seus primeiro títulos uma coisa viva, pois nestes álbuns “o que quer que procurem, não virá na forma que esperam”.
Lançado a meio do Outono de 2013, este álbum trouxe consigo uma Primavera prematura. Desde o calor das primeiras notas de saxofone de Ricardo Toscano, na introdução, e a leveza harmoniosa do trompete de Diogo Duque, em “In Cold Blood”. Trompetes e saxofones que conduzidos, muitas vezes, pelo piano de Luís Figueiredo e sob a liderança do contra-baixo de João Hasselberg, poderiam indiciar um disco de jazz, mas não é “exactamente” esse o caso.
Na fusão estética que o jovem compositor português promoveu nos seus primeiros álbuns, o que acontece é que esses são daqueles trabalhos que, transcendendo tipologias ou linguagem, atingem uma musicalidade arrebatadora. Capaz de ser exuberante e minimal, complexo e simples. Este enigma é, em “Whatever It Is You’re Seeking Won’t Come In The Form You’re Expecting”, suportado pela bateria de Bruno Pedroso e as guitarras de Afonso Pais e João Firmino, os três nunca são “desnecessários”, sendo antes sublimes. O mesmo se passa em “Truth Has To Be Given In Riddles”, que mantém Pedro e Firmino, Diogo Duque, Ricardo Toscano e Luís Figueiredo.
Na mestria dinâmica de temas como “In Cold Blood”, a roçar o post rock, ou das verdadeiramente jazzísticas “Wild Sheep Chase” (bonito, é o adjectivo para qualificar este tema) e da sua reprise, “On the Road” – deslumbrantes os fills de pratos de Pedroso – ou “Amor de Perdição, é raro percebermos que estamos a ouvir instrumentais, pois mesmo essas explorações de intensidades são… Canções.
E as canções? Em ambos os discos somos embalados pela voz de Joana Espadinha, na sua melancolia doce e estóica, e amamo-la desde a sua primeira entoação em “To a God Unknown”. Depois sorrimos com a leveza de “The Balad of the Sad Cafe”, onde a cantora plana sobre notas de guitarra ligeiras e a actuação exuberante de Hasselberg em baixo eléctrico. Pelo meio, os pianos bonitos e gentis de “The Old Man and the Sea” conduzem-nos pela Corrente do Golfo atrás de Santiago e do “seu” marlim.
A construção folk e onírica de “Canção de Embalar – The Diaries of Adam and Eve”. E em “The Folks Who Lived on the Hill”, Hasselberg mostra-nos brevemente o seu virtuosismo, sem nunca beliscar a musicalidade do disco como um todo. O segundo álbum sente-se como uma extensão do primeiro ou um díptico. Desde aí, Hasselberg gravou outros seis discos que, partindo daqui, deviam procurar conhecer.