Lennart Bossu mostra com que instrumentos (incluíndo um par de raridades) cria os riffs dos Amenra e quais as ferramentas que lhe fornecem o tremendo poder de fogo exigido na furiosa e reverberante parede sónica dos belgas.
Ao longo de sete álbuns de estúdio, dois EPs e cinco álbuns ao vivo, o quinteto belga tem explorado os extremos do doom, através da devastação e do peso do sludge, aqui e ali com a propulsividade do hardcore e a suavidade do folk. Ainda que algo minimalista, o som atmosférico e monocromático da banda exige planeamente cuidadoso e uma arquitectura meticulosa.
No vídeo que pode ser disparado no fundo deste artigo, é o baixista dos Amenra, Tim De Gieter, quem conversa com o guitarrista Lennart Bossu (também dos Oathbreaker, outro colectivo da Church of Ra), que revela um raro modelo Les Paul e um protótipo de um dos designs de Kurt Ballou, dos Converge. O guitarrista belga refere-se ainda ao seu fascínio por cabeços de 100 watts e qual o seu plano de contingência para sons limpos, ao mesmo tempo que demonstra alguns dos seus sons nucleares, que envolvem reverberação etérea e gain esmagador.
Começamos pelas guitarras…

Esta Gibson Les Paul Standard Silverburst Showcase Edition, de 1988, tem sido a principal companheira de palco de Lennart Bossu ao longo da última década. A gama Showcase Edition foi algo que a Gibson fez no final dos anos 80, através de uma edição limitada (200 réplicas de cada modelo da gama, num total de nove). Originalmente, esta Silverburst tinha uma escala de ébano (um spec Les Paul Custom) e um par EMG 85. Bossu não gostou da forma como os pickups activos determinavam o seu som, por isso instalou um par de humbuckers passivos Gibson (500T e 498R). Bossu afina normalmente em B, o padrão baritonal dos Amenra, e por vezes recorre a uma variante DADGAD (B-F#-B-E-F#-B). Todas as suas guitarras eléctricas levam cordas D’Addario EXLs (.013-.056).

Aqui temos um protótipo de um design God City Instruments, de Kurt Ballou, que Bossu adquiriu em 2012 para usar, principalmente, em Oathbreaker. Como a banda liderada pela feérica Caro Tanghe entrou num hiato, Bossu passou a afinar este “despido” modelo em B e a usá-lo amiúde nos Amenra. Comparada com a sua Silverburst, Lennart diz que esta, também rara, GCI tem um som mais brilhante e com mais agudos, devido ao corpo e braço em maple.

As guitarras anteriores podem ser notoriamente mais raras, todavia, num caso limite como um incêndio, seria esta Les Paul Custom de 1996 que Bossu corria a salvar. É extensivamente utilizada em estúdio, mas nunca sai em digressão – sendo apenas usada em concertos e ocasiões mais especiais. Já tocou e possuiu modelos Les Paul mais antigos e mais valiosos, mas é com este em particular que as suas mãos conseguem criar alquimia. A certa altura, experimentou colocar-lhe EMGs (acabando por perder os PUs originais no processo), mas retrocedeu para o seu estado natural recorrendo aos ‘buckers’ Gibson (498T e 490R). Ainda de referir que, em sets acústicos, Bossu recorre a um modelo Gibson J-45.




O imenso poder de fogo que é necessário para alimentar a parede sónica dos Amenra exige cabeços de 100 watts. No caso, duas bestas como são estes modelos Marshall JMP 2203 e Ampeg V-4 (uma unidade do final dos anos 70). O Marshall é operado de duas maneiras: ligado no Input Low e dimensionado no controlo pré-amp, criando uma plataforma limpa para pedais; a outra forma é ligar no Input High, com o pré por volta do valor “5” e depois excitando-o com um overdrive tipo Tube Screamer. No V-4 as coisas decorrem de forma semelhante ao Marshall, na medida em que recebe a sua distorção dos pedais e, normalmente, mantém-se bastante limpo por si só. Normalmente, os cabeços estarão ligados a uma Mesa/Boogie 4×12, com altifalantes Celestion Vintage 30s. Quando em digressão, o engenheiro FOH dos Amenra acrescenta uma Radial JDX-48 Reactor Guitar Amp Direct Box para extrair sinal directo do V-4, não vá o Diabo tecê-las e os micros saiam de posição, comprometendo o som.
Em estúdio, para gravar sons limpos, o guitarrista usa uma reedição do combo Fender ’65 Twin Reverb. Ainda assim, em tempos recentes, passou a usar um Shift Line Twin MkIIIS e a ter o ’65 a actuat como uma coluna. O pedal russo recria o pré-amplificador do Twin Reverb e permite-lhe utilizar o simulador da resposta de impulsos de coluna e também envia uma linha directa para a mesa de frente. A caixinha azul que se pode vislumbrar tem uma entrada (modo thru) que permite a Lennart ligá-la ao ’65 sem alterar o seu carácter sónico, dando-lhe a opção de alternar entre o pré-amplificador do pedal ou do combo. Nos concertos fly-in, para evitar ficar totalmente à mercê das empresas de aluguer de backline e do seu stock, recorre muitas vezes ao portátil micro amp Quilter Tone Block 201, que lhe dá margem para se aproximar com alguma fidelização ao som dos Amenra.

Não só para controlar os custos de viagem, mas também para impedir o atraente consumismo de pedais, Bossu obriga-se a manter as dimensões da sua pedalboard. Actualmente, trabalha com um par de flexíveis reverbs da EarthQuaker Devices, o Afterneath (cavernoso e profundo) e o Levitation (suave e pristino, com modulação adicional). Para os seus leads recorre ao reverb TC Electronic Hall of Fame Mini e ao delay MXR Carbon Copy. A fúria do som dos Amenra ganha vida com o Providence Stampede STD-1 Distortion ou o Fulltone OCD (neste prefere a definição 18V, para uma distorção mais semelhante à de um amplificador).
Todos os pedais são ligados e geridos por uma unidade Providence PEC-2 Programmable Effects Controller; todas as suas guitarras são ligadas a um Boss TU-3S Chromatic Tuner; as dinâmicas e os feedbacks são controlados com um Boss FV-30 Volume Pedal.
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