Angus Young, Marshall & SGs

Desde o primeiro modelo de 70 ao de assinatura do segundo milénio. As Gibson SG mais famosas do guitarrista de AC/DC. Na amplificação de Angus Young impera a Lei Marshall, com um pequeno segredo.

Irmão caçula de Malcom, Angus McKinnon Young não descansou enquanto não se juntou aos rapazes mais velhos. Foi sempre aquilo que quis fazer. Tocar com o seu irmão. Numa recente entrevista com a NMEà boleia do lançamento no novo vídeo dos AC/DC, que antecedia o último álbum da banda, o guitarrista confirmou que “Power Up” foi uma homenagem a Malcom, que morreu em 2017, sofrendo de demência, aos 64 anos de idade. Quando ao novo álbum, Malcom surge creditado como um dos autores de todas as dozes canções presentes no disco. Angus Young relectiu, precisamente, sobre a importância do seu mano mais velho. «A sua morte foi um golpe muito duro para todos nós, mas continuo a opensar que ele está aqui quando estou a tocar. Pode parecer estranho, mas sinto-o comunicar comigo quando estou a tocar guitarra».

Angus referiu ainda, sobre os temas de “Power Up”, que essa música permitiu reconfortar o seu irmão, em muitas ocasiões, nos seus últimos dias de vida, já internado num sanatório para receber todos os cuidados paliativos possíveis. Angus fala das suas visitas ao irmão: «Tocava um pouco de guitarra para ele e ele ficava sempre imensamente feliz que o fizesse. Um dos últimos que meti a tocar para ele ouvir foi aquele onde os Rolling Stones pegaram em alguns velhos blues [“Blue And Lonesome” de 2016] e ele achava fantástico». “Power Up” chegou no dia 13 de Novembro de 2020, sucedendo a “Rock Or Bust”, de 2014, e gravado durante um período de seis semanas entre Agosto e Setembro de 2018, nos Warehouse Studios, em Vancouver, com o produtor Brendan O’Brien.

Terá sido o último disco de Angus Young que, muitos anos depois de ter convencido o irmão a aceitá-lo no grupo, acabou por tornar-se no guitarrista principal dos AC/DC e um dos maiores nomes no panteão da guitarra eléctrica. Usando rigs relativamente simples ao longo dos anos, os modelos de guitarra SG tornaram-se parte da sua própria imagem e som.

SG GIGANTE

Os modelos SG da Gibson, em 1970. A primeira guitarra de Angus Young é o modelo Standard Walnut.

Os modelos SG da Gibson, em 1970. A primeira guitarra de Angus Young é o modelo Standard Walnut.

Fã do peso reduzido e do perfil fino do braço, o próprio Angus já chegou a referir possuir mais de 100 modelos SG, sendo impossível listar cada um deles. A primeira Gibson SG que comprou foi um modelo do início da década de 70, com o tremolo Lyre Maestro e dois PAF como pickups. Com essa guitarra iniciou a sua carreira e gravou os primeiros álbuns de AC/DC até 78 ou 79, ou seja, “High Voltage”, “T.N.T.”, “Dirty Deeds Done Dirt Cheap”; “Let There Be Rock”, “Powerage” e “Highway To Hell” – uma lista impressionante!

A primeira SG de Angus, em 1978 (aprox.), completamente sovada!

A primeira SG de Angus, em 1978 (aprox.), completamente sovada!

1970/71 Gibson SG Standard | Comprada por volta de 1971, era Angus um chavalito de 16 anos. Originalmente, possuía um acabamento natural Walnut, com uma ponte tremolo Lyre Maestro e dois humbuckers PAF. Depois de “Powerage”, a guitarra sofreu alterações significativas, vendo a ponte original ser removida – ficando com o corpo esburacado onde estavam os parafusos e o pickup do braço foi alterado ou a sua cobertura simplesmente removida (não se sabe ao certo). Apesar da guitarra ser a favorita de Angus, este tratou-a sempre de forma bastante dura naqueles primeiros anos e há fotos da guitarra carregada com fita adesiva no fundo do corpo e na zona do jack. Há até teorias de que headstock, corpo e braço chegaram a ser partidos em concertos. Actualmente, a guitarra está “reformada”.

angus devil

Com o seu primeiro modelo bastante “sovado”, antes de “Highway To Hell” Angus comprou um par de modelos SG na Big Apple, entre elas um modelo bastante similar à sua primeira guitarra. Com acabamento Cherry Red, ponte tremolo Maestro, corpo e braço em mogno, foi a protagonista na digressão de “Highway To Hell”, mantendo esse papel até, pelo menos, 1981. Gravou também o tremendo “Back In Black”.

Brian Johnson carrega Angus Young e a Jaydee Custom SG.

Brian Johnson carrega Angus Young e a Jaydee Custom SG.

Jaydee | Esta guitarra foi construída em 1981, pelo luthier britânico John Diggins, que a ofereceu a Angus Young na véspera do histórico concerto de AC/DC, em Donington, no Monsters Of Rock desse ano. Angus, impressionado com o modelo, usou-a logo nesse concerto. Tem corpo e braço em mogno, com os inlays “relâmpagos” (a primeira vez que este detalhe de acabamento surgiu nas suas guitarras), binding branco no braço e headstock e o hardware é dourado. Os pickups são um par de Jaydee Hooligan.

angus seymour duncan zebra

1968 Gibson SG Standard | Depois de Jaydee, Angus voltou aos modelos clássicos, dos anos 70 e, em particular a um modelo de ’68, bastante parecido com o que usou em “Back In Black”. Mas esta guitarra que gravou “Flick Of The Switch” (não é a que surge, no entanto, nesse vídeo single) possuía uma configuração diferente de pickups. Tudo indica que o pickup do braço seria um Seymour Duncan SH-PG1 e o pickup da ponte parece ser , tal como na guitarra de John Diggins, um Jaydee Hooligan.

ay sg

Gibson SG Angus Young Signature | Foi em 2000 que o guitarrista e a Gibson trabalharam em conjunto para criar a guitarra de assinatura de Angus Young. Como base usaram o modelo do início dos anos 70, o primeiro comprado por Angus. Nos pickups surge um modelo criado pelo músico em colaboração com a Seymour Duncan, baseado no SH-PG1, e um ’57 Classic Humbucker (braço). Há um par de versões diferentes dos modelos. Alguns surgem com o tremolo Maestro, uns possuem um pickguard mais reduzido e alguns possuem o inlay “Devil Schoolboy” no headstock.

Estas são apenas as mais célebres, mas o guitarrista vai alterando de modelos (e de modelos principais) várias vezes. Por exemplo, no explosivo concerto gravado na Argentina em 2009, a guitarra mais usada foi um modelo SG Standard com acabamento preto. Já nos amps, exceptuando um pequeno truque, não há muito a saber…

MARSHALL LAW

A própria Marshall refere, no seu site, os amps que líder dos AC/DC usa frequentemente. Angus diz que o faz com o objectivo de “copiar” o zénite do seu próprio som, que o guitarrista considera estar captado no álbum “Back In Black”. Apesar de haver alguma discussão e dúvidas, nos fóruns da marca britânica, actualmente parece ser consensual que o “Diabrete Escocês” voltou a usar uma unidade JTM45, tal como fazia nos primeiros anos dos AC/DC.vHá uma declaração do próprio Angus que parece confirmar a ideia e que a Marshall cita: «Eventualmente, cheguei à conclusão que uma stack Marshall de 100 watts era a melhor escolha».

Entre várias entrevistas, a informação disponibilizada oficiosamente pela banda e a informação fornecida pela Marshall, o JTM45 faz parte do rig do músico, para trabalhar os timbres pré-“Back In Black”, mas há ainda outros dois modelos que Angus usa, um Super Lead na maior parte do tempo e um combo 1974 para os solos.

MR1960BX

As colunas são simples de descodificar. Angus Young usa um paredão de Marshall 1960BX. As colunas de 100 watts carregam altifalantes Celestion G12M-25 Greenback, cujas primeiras versões são, como o nome indica, da década de 60. Destacam-se por ter um acréscimo de ataque nos médios. Com um headroom atenuado, o som surge de forma escalada e a saturação, em volumes extremos, ganha muita definição de médios-agudos, sem perder algo essencial num som de guitarra rocker – calor!

JTM45_2245

MARSHALL JTM45 | O modelo 2245 é o primeiro amp da Marshall (de 1962). É um amp preambular para os Plexi, com 30 watts e dois canais (com inputs 2×2), com os controladores clássicos de Presence, Bass, Middle, Treble, Volume 1 e Volume 2. Possui três válvulas de potência (1 x ECC83, 2 x 5881) e duas de pré (ECC83). Destaca-se pelo sistema GZ34 de rectificação, algo reproduzido nas réplicas modernas dos amps, e pela forma como o rectificador actua entre as válvuls, criando oscilações harmónicas subtilmente omnipresentes ou de uma forma simples: o Marshall Sound.

1959SLP_0384

MARSHALL 1959 SLP | O “Plexi” foi produzido até aos anos 80, altura em que surgiu o JCM-800. O seu nome deriva do painel Plexigas. Em ’69, a Marshall substituiu esse painel por um em alumínio dourado. 100 watts de potência, dois canais (com inputs 2×2), e os controladores de Presence, Bass, Middle, Treble, Volume 1 e Volume 2. As válvulas de pré são as ECC83 (duas) e as na secção de potência temos uma ECC83 e quatro EL34. No fundo, o “Plexi” tem base no JTM45, mas elevou o som Marshall a uma escala monstruosa de volume.

1974X

MARSHALL 1974 | O combo dual channel de 18 watts, produzido entre ’66 e ’68 (agora reeditado na versão 1974X), com altifalantes T1221/67 Greenback. O circuito é soldado à mão e possui tremolo valvulado. Os controlos de cada um dos canais são o mais básico possível: cada um possui apenas knobs de Volume e Tone e no canal dois (de tremolo) há o acréscimo de Speed e Sensivity. Devido a uma potência reduzida, a distorção emerge muito rapidamente em relação a amps de alta potência – tornando o amp ideal para oferecer calor ao som de guitarra em estúdio e para solos, permitindo muito controlo ao vivo. A razão de estar no rig de Angus.

Schaffer_Vega_tower

Mas o grande mistério do timbre de assinatura de Angus Young revolve em torno de um sistema wireless. O músico nunca foi fã de efeitos e usa apenas um sistema para lá de raro: o Shaffer-Vega Diversity System. Este sistema teve apenas 1000 unidades (aprox.) construídas. E Angus usa-o até em estúdio!

Na monitorização do sistema, nos dois extremos do sinal, existe um boost que pode ser activado por switch. O boost surgia bastante limpo, aumentando ainda mais a distorção dos amps e actuando também como um expander, permitindo ao guitarrista controlar dinâmicas características de compressão no recorte da guitarra. Há um site sobre a recriação desta raridade que importa visitar, se quiserem estudar o Shaffer-Vega mais a fundo.

Como o artigo indica, está baseado na informação oficial da Marshall. Há indicações que suportam os Super Leads no projecto Shaffer-Vegas. Nos solos, das duas umas, ou o Angus usa um speaker box isolado, a enviar o sinal directamente para o PA, ou uma unidade combo/ou cabeço de 50w, como é referido na biografia de 2015, “AC/DC FAQ”, de Susan Masino, e como o Malcolm chegou a descrever em entrevista. Como, repito, o artigo baseia-se na info da Marshall e na recente biografia (já da era Rock Or Bust) está citado o 1974, como indicado no site da marca. Além, claro, dos vídeos de behind the scenes e de ensaios disponíveis no YouTube, onde não é possível confirmar os famosos Wizard. Uma recente peça da Premier Guitarra confirma e actualiza este artigo.

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