Oriundas do arquivo de Geoff Nichols que acompanhou Ronnie James Dio na reformulação do line-up dos Black Sabbath, após a saída de Ozzy, estas demo tapes deixaram Tony Iommi furibundo, ainda que sejam uma vibrante demonstração da versatilidade e vigor de uma das maiores bandas de todos os tempos.
Estávamos em 2021 quando o surgimento de fitas demo da era Ronnie James Dio enfureceram Tony Iommi. Na altura, a Mão Esquerda mais pesada da música, em participação no “Trunk Nation With Eddie Trunk”, veiculado pela SiriusXM e apresentado por Eddie Trunk, referiu-se particularmente a “Slapback”, malha gravada durante as sessões de “Heaven And Hell”. «Não estou nem um pouco feliz com isso, de modo nenhum. Deixou-me cheio de fel. Na altura em que fizemos isso, o Geoff [Nichols, multi-instrumentista] nem estava envolvido na banda; nem o tinha recrutado ainda. Na verdade, é o Ronnie [James Dio, vocalista] a tocar baixo nisso», disse o guitarrista em Março do ano passado. Iommi citou Geoff Nichols porque quem divulgou as fitas foi o seu enteado Gary Rees, que também detém os direitos autorais da obra do padrasto.
Nas cassetes divulgadas aparecem Ronnie James Dio, o guitarrista fundador dos Black Sabbath Tony Iommi e o baterista Bill Ward, além de, alegadamente, Geoff Nicholls no baixo, que também se juntou aos Sabbath em 1979, depois de Geezer Butler ter abandonado o grupo por um curto período de tempo. Entre as raridades surge uma versão de pré-produção de “Heaven & Hell”, tema-título do primeiro álbum dessa era. «Encontrei recentemente esta cassete Sony C-90 entre milhares no arquivo de Geoff Nicholls», escreveu, na altura e a propósito deste último temas, nas redes sociais o enteado e herdeiro de Nicholls.
«No inlay está escrito ‘On & On Heaven & Hell Original Version Geoff Playing Bass’. Dentro da caixa da cassete estava uma Maxell UD 90. No lado B está escrito ‘On + On Heaven Hell Original Geoff on Bass’. Em lado nenhum diz que se trata de um tema dos Black Sabbath. ‘On And On Heaven and Hell’ pode ter sido o título de trabalho original». A gravação começa com um dos músicos a contar «dois, três, quatro», antes de entrar o icónico riff de guitarra. Dio canta uma letra em grande parte semelhante à da versão final do álbum “Heaven And Hell” (1980). Onde a interpretação mais difere é nos solos de Iommi, bem mais bluesy do que os da versão final.
Depois, “Slapback”. A gravação, que remonta também a 1979 e às sessões de pré-produção do álbum “Heaven And Hell”, apresenta Ronnie James Dio na voz e Tony Iommi na guitarra, sem ser possível apurar quem ocupa a bateria. No baixo, Geezer Butler, viria a reclamar crédito nas gravações deste tema, o que significa que Geoff estivesse a operar como teclista. «Acredito que este último upload da propriedade de Geoff Nicholls se chama “Slapback”, pelos rabiscos que estão na cassete e pelo refrão», afirma Rees. «Provém da mesma fita de que fiz o upload de “Heaven & Hell” neste canal. Não soa como uma música típica dos Sabbath, mas soa como o Ronnie James Dio». Na nossa opinião, é um mega bagaço, com o vozeirão de Dio, um groove fenomenal da secção rítmica e Iommi a soar como um demónio!
Recuando à conversa supracitada de Iommi, o guitarrista também explicou a razão pela qual “Slapback” nunca foi lançada oficialmente: «Tínhamos uma ou duas coisas que tocávamos, mas não era nada para o álbum. Por isso, não gravámos [corretamente], nem nada que se pareça». A ‘dinastia” de Ronnie James Dio nos Black Sabbath começou em 1979, quando se deu o despedimento de Ozzy Osbourne, motivado pelo vício no álcool e outras drogas. Dio – falecido a 16 de Maio de 2010 – gravou quatro discos com os Sabbath, sendo que os dois primeiros são os mais celebrados, “Heaven And Hell” (1980) e “Mob Rules” (1981). Quando “Heaven And Hell” foi lançado em Abril de 1980, o álbum foi recebido com críticas efusivas e alcançou a 9.ª posição nas tabelas de vendas do Reino Unido e a 28.ª posição nos Estados Unidos, onde também foi certificado como platina.
«O primeiro período dos Sabbath foi excelente, mas quando fizemos “Heaven And Hell”… Adorei esse disco, mesmo. Também adorei “Mob Rules” e a energia que surgiu nesses álbuns. A forma como Ronnie puxou as coisas para cima, foi como se nos desse um pontapé nos dentes. Conseguimos sentar-nos juntos de forma adequada e juntar ideias. A forma como a sua voz soava era óptima. Adorei todo esse período. Era assustador e emocionante ao mesmo tempo porque todos pareciam estar contra nós. Todos continuavam a dizer: ‘Não se pode fazer isto sem Ozzy’», afirmou Tony Iommi à revista Mojo, de Janeiro de 2021. Estes dois discos foram alvo de reedição expandida também no ano passado.
A foto de entrada é de Denis O’Regan, retratando os Black Sabbath em Paris, num intervalo das sessões de gravação de “Heaven and Hell” nos estúdios Ferber.
Um pensamento sobre “As Vibrantes & Infames Demos de Sabbath nas sessões de “Heaven and Hell””