B.B. King, One Kind Favor

A grande questão é que Riley B. King tinha oitenta e três anos de idade, quando gravou este “discaço”! O seu último trabalho de originais, onde B.B. King olha a Morte nos olhos e encolhe os ombros…

Riley Ben King faleceu aos 89 anos de idade, no dia 14 de Maio de 2015 em Las Vegas, depois de vários meses com um estado de saúde bastante debilitado provocado pela doença de diabetes. O Blues Boy é considerado um dos grandes guitarristas de todos os tempos, ganhou quinze prémios Grammy e influenciou várias gerações de músicos, como Eric Clapton, Mike Bloomfield, Stevie Ray Vaughan ou David Gilmour dos Pink Floyd. Bonnie Raitt disse que «sem a menor sombra de dúvida, B.B. King influenciou mais músicos blues e rock do que qualquer outra pessoa em toda a história».

Lucille era como chamava carinhosamente a todas as suas guitarras. Nasceu em 16 de setembro de 1925, em Itta Bena, no Mississippi. Começou por tocar nas ruas de Indianola, nos anos 40, e mudou-se em 1949 para Memphis, onde começou uma carreira como músico profissional. Durante os anos 50 trabalhou com DJ na estação da rádio WDIA, onde o apelidaram de “Beale Street Blues Boy”. Para se descobrir mais sobre a vida e obra de King, recomenda-se a leitura da sua autobiografia “Blues’ All Around Me”, editada em 1996, uma co-autoria de David Ritz.

Músicas como “Sweet Black Angel”, “Rock Me Baby”, “Why I Sing the Blues” ou, claro, “The Thrill Is Gone”, ficarão para sempre na nossa memória. Foi em 2008 que editou o seu último álbum de originais, “One Kind Favor” e a grande questão é que Riley B. King tinha oitenta e três anos de idade, quando gravou este discaço!

Não temos idade nem, devido a isso, um nível tão aprofundado de conhecimento da obra do inimitável guitarrista, e muito menos ousadia, para poder afirmar que este trabalho seja o melhor álbum do guru do blues, mas pode afirmar-se que é, sem dúvida, um grande álbum. A partir daqui há pouco a dizer, toda a gente conhece bem as características do som desta lenda – uma voz expressiva, cheia de soul, aqueles solos de guitarra carregados de bendings, com um groove que não é necessário adjectivar. Bastaria dizer que o groove nasceu com o blues e B.B. King foi o seu babysitter. E aquele vibrato…

Também seria inútil fazer qualquer apontamento sobre a produção do álbum, pois seria redundante falar de algo perfeito. Mas, hoje em dia, não faltam toneladas de álbuns com produção perfeita, o problema será aquilo que têm para oferecer musicalmente. No final, é sempre a música que conta mesmo. Ora, aquele que, para tantos, é um dos melhores guitarristas da história, tem música na ponta dos dedos, na alma, no coração. Ouvir este álbum é como se estivéssemos perante uma daquelas figuras arcanas com poder e autoridade incontestável ou então como uma árvore, carregada de anéis de história. É como se estivesse registada, neste álbum, toda a essência do blues.

Aqui, no fim, o único lamento é que, a partir de certa altura, o Rei tenha passado tanto tempo metido em álbuns com duetos, com manobras comerciais. Este último álbum foi a prova de que não necessitava de qualquer coisa dessas e parecia ser, precisamente, uma afirmação nesse sentido. Afinal, o tema de abertura, “See That My Grave Is Kept Clean”, é o “gentil favor” que o músico pedia aos que já o tinham afirmado morto, ao mesmo tempo que afirmava ainda: “I Have The Blues Before Sunrise”!

“See That My Grave Is Kept Clean”, “How Many More Years”, “The World Gone Wrong” ou “Midnight Blues” entram na galeria das mais notáveis malhas de King, neste disco onde é óbvio que o músico contemplou a finitude, mas acabou por assinar (uma vez mais) a imortalidade.

Leave a Reply