Aqui olhamos três trabalhos periféricos na discografia do Slowhand. O álbum que reuniu Eric Clapton e B.B. King, e a que o lendário bluesman se referiu um dia como uma inevitabilidade; o álbum de homenagem ao amigo JJ Cale e o álbum em que o guitarrista presta homenagem às suas raízes musicais.
Qualquer amante de blues ou da guitarra eléctrica terá na sua colecção o disco colaborativo de Eric Clapton e B.B. King. “Riding With The King” foi editado no dia 13 de Junho de 2000 e atingiu estrondoso sucesso comercial e crítico. Quando celebrou o seu vigésimo aniversário a aproximar-se, o álbum será reeditado, acompanhado de dois temas inéditos. A nova versão do disco chega no dia 26 de Junho, através da Reprise Records. A edição do 20º aniversário de “Riding With The King” foi lançada em vários formatos, com destaque particular no duplo LP, em vinil preto ou azul de 180 gramas. Esta versão em vinil foi alvo de remasterização por Chris Bellman no Bernie Grundman Mastering, em Los Angeles.

Esta reedição acrescentou dois temas, até aí inéditos, à versão original do álbum. A primeira raridade é a interpretação de um clássico do blues, “Rollin’ and Tumblin’”. Não há bluesman que não a tenha tocado uma vez ou outra, até Eric Clapton a gravou com os Cream em “Fresh Cream”, álbum de estreia dos britânicos em 1966, mas talvez a versão de Muddy Waters, de 1950, seja a mais aclamada. Nesta versão, Clapton e King trocam versos, Clapton destila groove numa resonator e King vai debitando os seus idiossincráticos licks. O outro tema é uma cover de “Let Me Love You Baby”, de Willie Dixon. Apesar de não terem sido incluídas no álbum original (que acabou com 12 temas), estas canções foram gravadas nas sessões originais e Simon Climie, o produtor do disco, tornou a pegar nos masters para misturar estes dois temas para a nova edição.
Para fazer o álbum, o Slowhand e B.B. King contaram com a ajuda de músicos como Andy Fairweather Low, Steve Gadd, Nathan East, Joe Sample, Doyle Bramhall II, Susannah e Wendy Melvoin e Jim Keltner. No ano em que o disco saiu, em entrevista com a Rolling Stone, King dizia que esta colaboração era uma inevitabilidade: «Creio que nos fomos abordando um ao outro. As pessoas louvam-me por tocar guitarra e eu sei que o Eric é o número um. Entre os guitarristas rock & roll, ninguém toca melhor que ele e ele também toca blues melhor que muitos de nós. Perguntaram muitas vezes ‘Porque tu e o Eric não fazem algo juntos?’ Finalmente, tivemos tempo para o fazer».
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O que fazer após 17 álbuns de estúdio (apenas contando com os que assinou a solo) e com uma reputação para lá de contestação? Eric “Slow Hand” Clapton parece não conseguir responder categoricamente a esta questão no seu trabalho homónimo de 2010, que é sobretudo um registo de interpretações e que, tal como já sucedeu com quase todos os grandes nomes da música, parece mais um disco para mera recriação pessoal que um trabalho de progressão artística. A vantagem em relação a muitos álbuns de versões é que, neste, Eric Clapton procura mesmo uma conexão com as suas raízes, com as raízes do blues – em alguns momentos isso é cativante e tem groove, noutros há momentos em que as coisas parecem não chegar onde pretendiam, em que as versões não emocionam. Basta tomar como pólos o tema de abertura, “Travelin’ Alone” [um clássico de Melvin “Lil’ Son” Jackson] numa versão exemplar, e o tema de fecho, o standard “Autumn Leaves”, enfadonho aqui.
Ainda assim há que dizer-se que muitas destas oscilações passam não pela execução [isso, aliás, nunca poderia estar em consideração], mas pelos próprios temas em si, pelos critérios de escolha, que não são uniformes, antes procuram mostrar o vasto mundo por detrás do som de Eric Clapton. Esta toada saudosista não era de estranhar se pensarmos que após o álbum de 2005, “Back Home”, o lendário guitarrista desdobrou-se em incursões no passado, desde a reunião com Jack Bruce e Ginger Baker, dos Cream, à memória de Blind Faith, com Steve Windwood que surge também neste trabalho como convidado. É um bom álbum, mas parece suave demais – sem muita electricidade. Mas esta não é uma questão de defeito, antes de feitio.
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Seria pouco expectável que este disco fosse, de alguma forma, uma peça coesa. Além de algo descobntraidamente reunir uma amálgama de músicos é, acima de tudo, um tributo de Clapton ao músico que o Slowhand nunca se cansou de referir como essencial na sua carreira. Se pensarmos que Cale é o autor de “Cocaine” e no quanto Clapton “apanhou” daquele seu estilo descontraído, meio “molengão”, de puxar as notas, então faz sentido que, um ano após a morte do guitarrista, o seu amigo edite uma homenagem, na qual trabalhou durante o primeiro ano de luto. A verdade é que, talvez exceptuando para alguns fanáticos de guitarra (e, acreditem, somos bem fanáticos do instrumento, e já agora de Clapton e Cale), não há muito mais a reter neste disco que um gesto bonito de amizade.
Com uma “mão cheia” de nomes lendários das seis cordas, os temas ainda assim parecem gravados de forma displicente e sem fogo. No final, isso acaba por ferir a reputação de Cale, que não era tão sensaborão como o disco faz parecer. Ainda assim, é um disco periférico na discografia de Clapton que merece ser explorado.
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