Depois de ter vendido os direitos de publicação do seu catálogo à Universal Music, Boby Dylan desfez-se agora dos seus masters, passados e futuros, em mais um astronómico negócio, desta feita com a Sony Music.
Estávamos no final de 2020 quando Bob Dylan vendeu os direitos do seu catálogo à Universal Music. De acordo com o The New York Times, o músico vendeu os direitos de mais de 600 composições já gravadas e lançadas pelo próprio em 60 anos de carreira. De entre as obras, temos trabalhos como “Blowin’ in the Wind”, “The Times They Are A-Changing” e “Like A Rolling Stone”, mas também “Rough and Rowdy Ways”, álbum lançado este ano. O valor de compra não foi divulgado, mas segundo The New York Times a verba rondaria os 248 milhões de euros. Tratou-se de um dos maiores negócios «de sempre na aquisição de direitos de autor musicais». Jody Gerson, da Universal Music, afirmava: «Representar a obra de um dos melhores compositores de todos os tempos, cuja importância cultural não pode ser desvalorizada, é um privilégio mas também uma responsabilidade».
Poucos dias depois, houve celeuma. A esposa do falecido Jacques Levy (que colaborou com Bob Dylan no álbum “Desire”, de 1976), alega que Levy não foi suficientemente compensado pelos seus créditos nesse disco e exigia uma avultada indeminização. De acordo com documentos de tribunal, obtidos pelo New York Post, a esposa de Levy, Claudia, exigia tanto a Dylan como à Universal 7,25 milhões de dólares. Jacques Levy foi um colaborador proeminente no álbum “Desire”, tendo o falecido compositor sido creditado na maioria das faixas do álbum. O álbum encabeçou mesmo a tabela dos álbuns Pop da Billboard durante cinco semanas. Segundo os documentos apresentados no Supremo Tribunal de Manhattan pelos queixosos, Claudia Levy reclama ter direito a 35% «de todo e qualquer rendimento ganho pelas composições», incluindo «35% do preço pago a Dylan» na recente operação de venda de catálogo à Universal. «Dylan envolveu-se num padrão civilmente errado e num historial de ignorar e desrespeitar intencional e maliciosamente os direitos do queixoso, incluindo os rendimentos e toda e qualquer receita gerada pelas composições, incluindo a compra sujeita da venda por catálogo», reclamava a esposa de Levy. Jacques Levy faleceu em Setembro de 2004, tendo trabalhado como compositor, director de teatro e psicólogo clínico durante a sua vida.
Numa declaração à Pitchfork, o advogado de Bob Dylan, Orin Snyder, negava as reivindicações feitas pelo património do Levy e descreveu o processo como «uma triste tentativa de lucrar injustamente com a recente venda de catálogos», sublinhando: «Os queixosos receberam tudo o que lhes era devido. Estamos confiantes de que iremos prevalecer. E quando o fizermos, responsabilizaremos os queixosos e os seus advogados por apresentarem este caso sem mérito».
Pouco mais de um ano depois, Dylan acaba de vender os direitos dos masters de todo o seu catálogo de música gravada à Sony Music Entertainment, a anunciou a empresa. O acordo inclui também «os direitos a múltiplos lançamentos futuros». A Billboard estima que os direitos dos masters de Dylan valem mais de 200 milhões de dólares. Numa declaração oficial, Dylan disse: «A Columbia Records e [o presidente do Sony Music Group] Rob Stringer não têm sido mais do que bons para mim durante muitos, muitos anos e um grande número de discos. Estou contente por todas as minhas gravações poderem ficar onde pertencem». Dylan assinou com a Columbia Records em 1961. Todos os seus álbuns de estúdio – desde “Bob Dylan”, de 1962, até “Rough and Rowdy Ways”, de 2020 – foram lançados através da editora. Dylan assinara novo acordo com a Columbia em 1974, o que teria resultado na reconquista do controlo sobre os seus masters, de acordo com a Billboard. A Sony adquiriu a empresa mãe da Columbia CBS Records Inc. em 1988, rebaptizando-a Sony Music Entertainment Inc. em 1991.
Resumindo, em 2020, Dylan vendeu os direitos de publicação de todo o seu catálogo à Universal Music Publishing, no negócio atrás supracitado. As canções têm dois tipos de direitos de autor: direitos de gravação (que incluem as master tracks) e direitos de publicação (que dizem respeito à composição – ou seja, música e letra). Como refere a Rolling Stone: «Os direitos gravados estão mais directamente ligados ao streaming e aos direitos de venda, enquanto que os direitos de publicação dizem mais respeito a execuções e utilização em filmes e televisão».