“Born Again”, Histórico Álbum de Sabbath com Ian Gillan Será Remisturado

Tony Iommi afirmou que pretende tornar a trabalhar no histórico álbum dos Black Sabbath, o único com Ian Gillan [Deep Purple] e o último com Bill Ward, que foi a grande fonte de inspiração para o filme “This Is Spinal Tap”. A ideia é remisturar “Born Again” e melhorar o seu som para reedição futura.

Editado originalmente em Agosto de 1983, “Born Again” foi o único álbum dos Black Sabbath com Ian Gillan como vocalista. Além de contar com o icónico vocalista dos Deep Purple, foi também o último álbum de estúdio gravado pelo baterista original dos Sabbath, Bill Ward. O desempenho comercial do álbum foi significativo. Foi o álbum da banda que obteve maior sucesso no Reino Unido, desde “Sabbath Bloody Sabbath”, e entrou Top 40 norte-americano. Ainda assim, foi o primeiro álbum de Black Sabbath a não ter conseguir obter certificação RIAA (ouro ou platina) nos Estados Unidos. Para os fãs mais acérrimos da banda, “Born Again” é um tesouro algo oculto. Foi reeditado na Primavera de 2011, em duplo CD que incluía uma actuação ao vivo captada no Reading Festival de 1983.

Numa recente entrevista no programa da SiriusXM, “Trunk Nation With Eddie Trunk”, Iommi confirmou que as master tapes de “Born Again” foram reencontradas e que ele está a planear trabalhá-las e empenhar-se em que o álbum «soe bem» antes de o tornar disponível ao público. «Aparentemente, [o meu manager] conseguiu ali um contacto, onde [as fitas] estavam. Estamos à espera de as obter agora. Descobriram onde estavam – nalguma biblioteca de alguma editora discográfica algures. Obviamente, adorava fazer isso – adorava fazer soar bem aquelas fitas. Porque acho que foi um álbum muito bom. E quando o fizemos pela primeira vez no estúdio, soou bem. Mas quando saiu em disco, soava muito abafado e mal. Por isso, gostava de pegar-lhes».

“Born Again” surge após as saídas de Ronnie James Dio (e do baterista Vinny Appice após “Live Evil”). Iommi e Geezer Butler, que entretanto deixaria a banda durante vários anos, promoveram o regresso de Bill Ward e viraram-se para Ian Gillan. O carismático vocalista deixara os Deep Purple no final dos anos 70 para se focar numa carreira a solo e acabou por aceitar o convite. O álbum e a digressão ao vivo tornaram-se numa das mais mediáticas colaborações no mundo do rock e do heavy metal. Aliás, grande parte desta era dos Black Sabbath passou para o folclore, quando se tornou numa das principais fontes de inspiração para o fenomenal mockumentary “This Is Spinal Tap”. Desde a réplica de Stonehenge, que na “vida real” era demasiado grande para alguns dos locais da digressão mundial, até ao anão contratado para vestir-se e desempenhar o papel do diabólico infante da capa do LP, o mundo dos Sabbath assumiu um pitoresco surrealismo. Vejamos, a segunda malha de “Born Again” é o instrumental “Stonehenge” e, na digressão de 1983, a banda criou um conceito de palco inspirado no monumento megalítico.

Este rocambolesco episódio é recordado por Ian Gillan: «Trabalhámos com uma empresa de produção chamada Light And Sound Design; era Birmingham, cidade da banda. Um dia, depois de um ensaio, tivemos uma espécie de reunião para ir ao escritório deles e enquanto percorríamos os corredores um dos rapazes da empresa pergunta: ‘A propósito, alguém tem alguma ideia de um conceito para um cenário de palco ou qualquer coisa? E o Geezer Butler disse: ‘Sim. Stonehenge’. E o gajo disse, ‘Uau! Isso é óptimo. Como é que o visualizam?’. E o Geezer respondeu, ‘Bem, em tamanho real, claro’. Não ficou bem em tamanho real, mas era cerca de dois terços. E nunca conseguíamos pôr tudo num palco. Tocámos em grandes arenas eestádios, e não se conseguia montar. Por isso, há partes dele abandonadas algures nas docas, à vista de qualquer um, tanto quanto sei».

Após a digressão, Ian Gillan acabaria por se despedir e voltar aos Deep Purple, para reformar o emblemático Mk. II dessa também histórica banda. Nas sessões de estúdio do álbum, Iommi, Geezer Butler, Ward, Gillan, e o teclista Geoff Nicholls, começaram a trabalhar em Maio de 83, nos Manor Stdios, em Shiptonon-Cherwell, Oxfordshire. Robin Black, que tinha trabalhado em “Sabotage” de 1975, “Technical Ecstasy”, de 1976, e “Never Say Die” de 1978, foichamado a produzir também este disco que promoveu uma cisão com a herança estética da banda. Gillan era um letriste muito menos devoto da obscuridade de Butler e mais concentrado em caricaturas do mundo real, como tantas vezes sucedia nos Deep Purple. Por exemplo, “Disturbing The Priest” relata o episódio em que uma porta do estúdio foi deixada aberta durante as sessões e do padre local ter aparecido a pedir que baixassem o volume, pois este perturbava os ensaios do coro da igreja.

Numa entrevista, também com a SiriusXM, em 2018, Gillan dizia que “Born Again” começou com uma farra bem regada no Bear Inn, um dos pubs mais antigos de Oxford, Inglaterra. «Tudo começou porque nos embebedámos juntos uma noite. Fui beber um copo com o Tony e o Geezer e acabámos debaixo da mesa. E não me consigo lembrar de muito mais que isso. Mas recebi uma chamada do meu gerente no dia seguinte a dizer: ‘Não achas que me devias ligar se vais tomar decisões como esta?’ Eu disse: ‘De que estás a falar?’ Ele disse: ‘Bem, aparentemente, de ti… Acabei de receber uma chamada. Concordste em juntar-te aos Sabbath’. Foi assim que aconteceu. De qualquer modo, estava numa espécie de limbo, tendo acabado de sair dos Deep Purple e sem nada viável na altura. Por isso estabelecemos um plano de um ano, quee era fazer um álbum e uma digressão. Ninguém sabia o que ia acontecer, por isso montamos a barraca, literalmente, no velho casarão em Oxfordshire. E fizemos um álbum. Não os vi muito. Eram pessoas nocturnas, por isso dormiam o dia todo e trabalhavam a noite toda. Levantava-me de manhã, cozinhava o meu pequeno-almoço, ia ao estúdio para ouvir o que tinham gravado na noite anterior e escrever a letra para isso. E foi assim que o álbum foi feito».

Gillan reflectia ainda mais sobre a experiência de escrever “Born Again”. «O Tony é um grande compositor. Sabes o que esperar com ele. Não há uma abordagem multidireccional. Ele é o pai de tudo o que saiu de Seattle, creio. Émuito objectivo e foi assim que evoluiu desde os primeiros tempos. Achei muito fácil cantar e escrever canções com ele e tivemos um par de boas canções. Havia sempre uma narrativa. A minha canção favorita desse álbum é ‘Trashed’, que era uma história verdadeira sobre uma pista de corridas e demasiada bebida e guiar um carro, bater com ele e capotar. Foram tempos emocionantes».

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