CAVERNANCIA, manto

Em pouco mais de meio ano, CAVERNANCIA, a nova face do barreirense Pedro Roque – fotógrafo, músico, melómano e rompedor de caminhos novos para as músicas extremas – conta já no curriculum “em ciano”, lançamento inaugural com selo Nariz Entupido, um álbum ao vivo e “manto”, agora chegado com edição digital e em cassete pela Regulator Records.

Pedro Roque sempre se relacionou em igual medida com a fotografia e com a música, universos indissociáveis na sua vida. Começou por ter bandas de garagem com amigos, sempre explorando os limites da sua voz. Foi num período de pausa entre projectos musicais que começou a fotografar os primeiros concertos, sempre com a premissa de continuar a seguir o meio underground que frequentava. Simultaneamente, continuou a participar em algumas bandas do meio punk e metal. MOTU, Besta e Systemik Violence são nomes com quem colaborou, até que, em 2019, decide fazer uma breve pausa enquanto vocalista. No final de 2020, surge um chamamento, um forte ímpeto que parece sugerir uma mudança. Desta vez, é a fotografia que o chama para a música, procurando uma linguagem nova e desafiante na exploração do seu sentir e intuição. É assim que nasce o projecto CAVERNANCIA.

Em 2021 chegou o primeiro trabalho, “em ciano”. O press release descreve-o com propósito. «Os inusitados caminhos deste primeiro registo deambulam por três faixas montadas em luz crepuscular áspera e de divagações oníricas. Na incessante procura de escape e do ponto de fuga comum da comuta diária onde a noite se transforma em dia, os field recordings aí captados transmutam-se em dissertações sonoras num espectro de tons ciano, aqui metaforicamente assentes nas bases da musique concrète, distorções noise, drone e ambiente. O experimentalismo sónico que atravessa os minutos de “a noite”, “morre”, “em ciano” criam uma ruptura com o sistemático e o expectável, provocando o ouvinte a seguir esta escavação, daquilo que é matéria, do peso e do concreto em graciosa coexistência com a leveza daqueles mesmos primeiros instantes de luz que tocam o infinito da escuridão».

Já em Março passado, Roque disponibilizou em formato digital um dos concertos de apresentação desse lançamento, na St. George’s Church, em Lisboa, que não apenas confirmou essa antevisão como a enriqueceu desorientadamente com novas pistas e coordenadas: aí ouvimos música de nuvens sobrepostas, de chuva, trovoada, relâmpago, tempestade, como um retrato sonoro dos fenómenos meteorológicos extremos que podemos esperar no fim do mundo.

Chegamos, então, a “manto” (segundo lançamento de um ano que não vai ficar por aqui, tendo em conta as várias colaborações em curso e um ritmo de trabalho frenético), peça única de 35min, novamente em cassete, desta vez com edição Regulator Records. Diz Rui Pedro Dâmaso, acerca do trabalho: «Recebe-nos o deslumbramento extático de uma descolagem, a antecipação de um transporte, caminho aberto para um infinito; mas é igualmente o movimento inverso que se afirma – o mergulho é interior, e tal como “em ciano”, a abundância de luz rapidamente cega, o corpo cede, e é noite. A viagem é, na verdade, vertical, como um elevador que liga o núcleo terrestre ao espaço sideral e está simultaneamente em todos os níveis intermédios. O manto abre-se em emanações de uma caverna do tamanho do cosmos, os mistérios da ciência entrevistos numa reminiscência efémera».

Um pensamento sobre “CAVERNANCIA, manto

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