Quando Poli e Mike Correia se juntaram para criar “Act One”, o resultado foi um álbum congregador da biografia sónica de cada um dos irmãos, ambos compositores com provas dadas no movimento rocker nacional. Edição NOS Discos, é um álbum criminalmente underrated.
Correia é o projeto dos irmãos Apolinário “Poli” Correia (Devil In Me, Sam Alone) e Miguel Correia ou “Mike Ghost” (Men Eater, More Than A Thousand). Aqui juntam as influências de uma juventude passada numa cidade costeira no sul do País. Desde cedo tiveram bandas em conjunto o que levou muitas pessoas a confundirem um pelo outro e desta vez fazem-no metaforicamente, nesta estreia com o nome de família para, através das suas idiossincrasias, da sua herança sonora e pedaços das suas carreiras, pisarem esse chão comum: o rock.
Engraçada esta coisa do rock. Não é necessário muito para soar como é suposto e é por tão pouco que pode soar mal. De facto, “Act One” não precisa de muito para soar como é suposto um álbum de rock soar. E ainda se acrescentam especificidades como um certo cheirinho hardcore, naqueles momentos de refrões bem abertos em cima de riffs galopantes.
Há momentos quiçá a um jeito mais Men Eater, enquanto uma canção como “Ghost Love”, por exemplo, soa como um outtake de Sam Alone. O disco é cantado a dois, conseguindo revelar a tensão e o equilíbrio de duas almas cúmplices.
Os temas são intemporais e retratam assuntos como a religião, o caminho espiritual, a luta interior entre o bem e o mal e sobretudo a vitória do amor. Um dos mais ambiciosos neste aspecto será “Deceivers Of The Sun”. Canalhas que “enganam” o sol e este, quando nasce, não é para todos. Os arquetípicos da platónica Alegoria da Caverna e a dura realidade de que a vida não é um sonho e está muito longe disso.
Sendo “Act One” um álbum muito interessante, congregador da biografia sónica de dois irmãos, peca numa produção cuja volatilidade remove força a alguns temas e ao álbum, se virmos este como um todo conceptual.
Mas no final, sendo ambos compositores com provas de sobra dadas no rock nacional, Poli e Mike conseguem ultrapassar esse aparente handicap em vários momentos de excelência na revisão do cânone rocker com o moderno sentido retro dos dias actuais do género. À cabeça dessa ideia está um tema como “Stepfather” que, se escrito por, digamos, Josh Homme, teria alargado airplay nas nossas rádios.