Currents

Currents, The Death We Seek

Poderoso e catártico, “The Death We Seek” é uma afirmação da maturidade musical dos Currents. O terceiro álbum da banda de Connecticut é um compêndio de devastadoras canções extraídas de uma aorta aberta.

Os Currents são formados pelo vocalista Brian Wille, os guitarristas Chris Wiseman e Ryan Castaldi, o baixista Chris Pulgarin e o baterista Matt Young. Uma sinuosa estrada DIY através de formações anteriores resultou numa série de EPs auto-lançados, todos levando ao aclamado álbum de estreia da banda, “The Place I Feel Safest” (2017). O EP de cinco músicas “I Let The Devil In” (2018) veio logo depois, co-produzido por Wiseman e Ryan Leitru (For Today, We Came As Romans, Like Moths To Flames). A dupla também produziu o pujante segundo LP da banda, “The Way It Ends” (2020). A Metal Hammer elogiou a mistura de raiva, beleza e agressão melódica carregada de electrónica desse disco como «instantaneamente viciante».

Leitru e Wiseman co-produziram, uma vez mais, “The Death We Seek”, e o guitarrista da banda fez a engenharia aos vocais de Wille pela primeira vez. Jeff Dunne (Wage War, Ice Nine Kills, Make Them Suffer) fez a mistura, criando um trabalho massivo, mas cheio de nuances, que serve como uma declaração de intenções dos Currents para o futuro. Em todos os três álbuns, em todos os concertos, sempre e cada vez mais cinematográficos na narrativa visual, os Currents procuram destemidamente um significado no meio do caos. Abuso, depressão, negligência; nenhum trauma é deixado por explorar. Também lançam o seu olhar para o exterior, não oferecendo misericórdia a um sistema opressivo e abusivo que inflige danos a pessoas, animais e à Terra.

Por exemplo, Brian Wille reflectia sobre o single “Remember Me”, afirmando tratar-se de um sobre a divisão que aumenta na sociedade. «O lado negro da espada de dois gumes da tecnologia é o acesso a uma fonte de informação e a um discurso público, com curadoria para o envolvimento e enviesado para o interesse individual e a visão do mundo. Quanto mais avançamos, mais nos separamos do meio-termo e das verdades imparciais. Ao longo da existência da Internet e da ascensão dos impérios dos meios de comunicação social, começamos a quebrar as nossas relações uns com os outros por causa de qualquer coisa que possamos discutir, chegando mesmo a saborear o caos e a divisão. É possível ver exactamente o mesmo acontecimento e ter perspectivas instantâneas e infinitas de todo o espectro ideológico, pintadas num fórum público de massas acessível a milhares de milhões de pessoas. Impulsionado ainda mais por algoritmos e publicidade, o veneno pode espalhar-se rapidamente e ter resultados duradouros na forma como nos vemos uns aos outros e ao mundo à nossa volta».

O frontman dos Currents acrescentava ainda: «Embora o desacordo e o debate não sejam novos, nem o verdadeiro inimigo aqui, todos sentimos uma tensão particular nos nossos laços mais próximos nos últimos três anos. Esta canção é a libertação dessa frustração e perda, e um apelo para encontrarmos o que nos une e trabalharmos o que nos separa. Quer se trate de uma questão pessoal ou de um impasse ideológico, todos podemos fazer melhor em praticar a empatia, a compreensão e a confiança naqueles que nos rodeiam; só assim poderemos ver colectivamente o que é real e o que é um espectáculo motivado por interesses».

Aproveitando o sentido call to arms desse single, aquando da sua estreia os Currents revelaram ainda que o guitarrista Ryan Castaldi enfrente um linfoma, tendo criado uma campanha GoFundMe em favor do músico onde são detalhados aspectos do seu prognóstico.

Da divisão para o isolamento e a solidão, sejam estes auto-induzidos ou devendo-se a factores externos. Esta é a temática de “So Alone” tema que, de acordo com Wille, «exprime a dor de não sermos capazes de nos relacionarmos com aqueles que amamos ou mesmo de estarmos na sua presença, e lamenta essa separação sob qualquer forma que ela assuma. Também aborda a natureza cíclica dos nossos altos e baixos, no sentido em que podemos sentir que fizemos as mesmas escolhas que nos conduzem aos mesmos sítios vezes sem conta, apesar de desejarmos muito ter um resultado diferente».

“Unfamiliar” é outros dos destaques e uma reflexão sobre o desconhecido e os vários sentimentos que o rodeiam. O futuro guarda os lugares para onde iremos, as decisões que tomaremos e as situações em que acabaremos por nos encontrar. A incerteza destas incógnitas pode levar a sentimentos de stress e pânico, e pode também levar-nos a duvidar de nós próprios e a procrastinar e a não agir. Sentir-se perdido é inevitável, mas a forma como nos comportamos nesses momentos é o que define o nosso carácter.

Com densidade conceptual e sempre visando a catarse, o terceiro álbum dos Currents é um disco de tremendo poder emocional, bem firmado no metalcore e preenchido por enorme bom gosto nos arranjos, com alguns acenos ao death metal melódico escandinavo. “The Death We Seek” foi editado no dia 5 de Maio de 2023, via SharpTone.

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